22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

NADA 696 NADA<br />

ressentia (acima da substância) e porque o<br />

N. é, por outro lado, "a negação e a ausência<br />

da essência ou substância, aliás <strong>de</strong> todas as coisas<br />

que foram criadas na natureza" {De divis.<br />

nat., III, 19-21). Essa doutrina é freqüentemente<br />

repetida na Ida<strong>de</strong> Média: Deus é indicado<br />

como N., ou "N. do N.", ou "quintessência do<br />

N." Zohar, um dos livros da Cabala (cf. SÉ-<br />

ROUYA, La Kabbale, Paris, 1957, p. 322); é chamado<br />

<strong>de</strong> "N. supra-ente" por Mestre Fxkhart<br />

(op. cit., ed. Pfeiffer, p. 139) e <strong>de</strong> "N. eterno"<br />

por Bõhme (Mysterium magnum, I, 2). Em todas<br />

essas expressões, N. exprime a negação<br />

total das formas <strong>de</strong> ser conhecidas, julgadas<br />

ina<strong>de</strong>quadas à natureza <strong>de</strong> Deus.<br />

O segundo uso do conceito <strong>de</strong> N. encontrase<br />

nos neoplatônicos, com o objetivo <strong>de</strong> acentuar<br />

a diferença entre a matéria e as coisas,<br />

entre o caráter informe <strong>de</strong> uma e as <strong>de</strong>terminações<br />

das outras. Assim, para Plotino a matéria<br />

é o não-ser porque <strong>de</strong>sprovida <strong>de</strong> corporeida<strong>de</strong>,<br />

alma, inteligência, vida. forma, razão,<br />

limite, potência, que são todos os caracteres do<br />

ser. Segundo Plotino, "é preciso dizer que ela é<br />

não-ser, mas não no sentido em que o movimento<br />

não é repouso ou ao contrário, mas que<br />

é realmente o nâo-ser, imagem ou fantasma da<br />

massa corpórea e aspiração â existência" (Hun.,<br />

III, 6, 7). A matéria é caracterizada <strong>de</strong>sse mesmo<br />

modo por S. Agostinho: "Se se pu<strong>de</strong>sse<br />

dizer que o N. é e não é alguma coisa, diria que<br />

isso é a matéria" (Conf., XII, 6, 2).<br />

O terceiro uso encontra-se na <strong>filosofia</strong> mo<strong>de</strong>rna<br />

e visa a resolver o ser no <strong>de</strong>vir ou a possibilida<strong>de</strong><br />

em impossibilida<strong>de</strong>. O primeiro<br />

objetivo é buscado pela concepção do N. sustentada<br />

por Hegel. Este observa corretamente<br />

que o velho ditado Ex nihilo nihilfit nada mais<br />

exprime que a negação do <strong>de</strong>vir; contra essa<br />

negação, afirma a indissolubilida<strong>de</strong> e a conversibilida<strong>de</strong><br />

recíproca do ser e do N, E disse:<br />

"Do ser e do N. cumpre dizer que em nenhum<br />

lugar, nem no céu nem na terra, existe alguma<br />

coisa que não contenha em si tanto o ser quanto<br />

o N. Sem dúvida, quando se fala <strong>de</strong> certo<br />

algo e <strong>de</strong> algo <strong>de</strong> real, essas <strong>de</strong>terminações não<br />

se encontram mais em sua completa verda<strong>de</strong>,<br />

em que estão como ser e como N., mas encontram-se<br />

numa outra <strong>de</strong>terminação e são entendidas,<br />

p. ex., como positivo e negativo... Mas o<br />

positivo contém o ser, e o negativo contém o<br />

tv, como base abslnwa. Assim, mesmo em<br />

Deus a qualida<strong>de</strong> (ativida<strong>de</strong>, criação, potência,<br />

etc.) contém essencialmente a <strong>de</strong>terminação do<br />

negativo; essas qualicia<strong>de</strong>s consistem na produção<br />

<strong>de</strong> um outro" ( Wissenschaft <strong>de</strong>r Logik, I,<br />

seç. 1, cap. 1, C, nota I, cf. Ene, § 87). A característica<br />

<strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> doutrina é a tese <strong>de</strong> que o<br />

N.éo fundamento cia negação, e não a negação<br />

do N. Isso é expresso por Hegel no trecho<br />

citado, quando ele diz que o positivo e o<br />

negativo contêm o N. como base abstrata.<br />

Na <strong>filosofia</strong> contemporânea a mesma tese é explicitamente<br />

apresentada por Hei<strong>de</strong>gger: "É o<br />

N. a origem da negação, e não vice-versa" (Was<br />

istMetaphysik?, 1949, 5 a ed., p. 33). Desse ponto<br />

<strong>de</strong> vista, o N. é "a negação radical da totalida<strong>de</strong><br />

do existente" (Ibid.. 1949, 5 a ed.. p. 27).<br />

é N. absoluto. Mas, ao mesmo tempo, constitui<br />

o fundamento do ser, mais precisamente do<br />

ser do homem, porquanto esse ser é instável<br />

(hinfãllig). A instabilida<strong>de</strong> do ser do homem é<br />

vivida na situação emotiva da angústia. "O<br />

existente não é <strong>de</strong>struído pela angústia <strong>de</strong> tal<br />

modo que fique, assim, o N. E como po<strong>de</strong>ria<br />

ser diferente, visto que a angústia se encontra<br />

na mais completa impotência perante o<br />

existente em sua totalida<strong>de</strong>? Na realida<strong>de</strong>, o N.<br />

revela-se propriamente com e no existente, na<br />

medida em que este. nos escapa e se dissipa<br />

em sua totalida<strong>de</strong>" (Ibid.. 1949, 5 a ed., p. 31).<br />

Isso significa que o N. é vivido pelo homem na<br />

medida em que o ser do homem (a existência)<br />

não é e não po<strong>de</strong> ser todo o ser: o ser do homem<br />

consiste em não ser o ser em sua totalida<strong>de</strong>,<br />

que é o N. do ser. Por isso, Hei<strong>de</strong>gger diz que<br />

o N. é a própria anulação ("É precisamente<br />

o próprio N. que anula"; Ibid., 5- ed., 1949. p.<br />

31), e que ele é "a condição que possibilita, em<br />

nosso ser-aí (Dasein). a revelação do existente<br />

como tal" (Ibid.. 5 a ed., 1949. p. 32). O problema<br />

e a procura do ser nascem do fato <strong>de</strong> o homem<br />

não ser todo o ser, <strong>de</strong> que seu ser é o<br />

N. da totalida<strong>de</strong> do ser. Sartre substitui a noção<br />

<strong>de</strong> existência pela <strong>de</strong> consciência, mas continua<br />

a interpretá-la como ser do homem, que é<br />

o N. do ser; termina assim por repetir os conceitos<br />

<strong>de</strong> Hei<strong>de</strong>gger. Sartre diz: "O N. não é, o<br />

N. foi; o N. não se nadifica, o N. /oniadiíiçado.<br />

Portanto, <strong>de</strong>ve existir um ser — que não po<strong>de</strong>ria<br />

ser o em-si — cuja proprieda<strong>de</strong> é anular o<br />

N., regê-lo com seu ser, sustentá-lo perpetuamente<br />

com sua própria existência: um ser graças<br />

ao qual o N. chega às coisas" (1,'être et le<br />

néant, p. 58). Esse ser é a consciência, que.<br />

sendo consUluída por possibilida<strong>de</strong>s, tsvá sempre<br />

aberta para o N. "Sempre fica aberta a<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que ele se revele como N.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!