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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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RAZÃO 82" RAZÃO<br />

mesma maneira" (Discours, II). A Lógica <strong>de</strong><br />

Port-Royal expressava <strong>de</strong> maneira diferente os<br />

mesmos conceitos (ARNAILD, l.og., III, 1) em<br />

que também Locke baseava sua doutrina da<br />

razão: "Xa R. po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar estes quatro<br />

graus: o primeiro e mais elevado consiste em<br />

achar e <strong>de</strong>scobrir as verda<strong>de</strong>s; o segundo, cm<br />

dispô-las <strong>de</strong> maneira regular e metódica, sistematizando-as<br />

numa or<strong>de</strong>m clara e justa, <strong>de</strong> tal<br />

modo que sejam percebidas com evidência e<br />

facilida<strong>de</strong> sua força e suas interconexòes: o terceiro,<br />

em perceber tais conexões: o quarto, em<br />

tirar uma justa conclusão" (Ensaio. IV, 17, 3). A<br />

distinção que Spinoza estabelecia entre o segundo<br />

gênero <strong>de</strong> conhecimento, que ele chamava<br />

<strong>de</strong> R., e o terceiro, que chamava <strong>de</strong> ciência<br />

intuitiva, é a distinção tradicional entre o<br />

procedimento discursivo e o intelecto intuitivo<br />

(HL, II. -IO. schol. 2). F. Leibniz só fazia encontrar<br />

a expressão mais simples para o mesmo<br />

conceito <strong>de</strong> R. ao afirmar que a R. é "a concatenação<br />

das verda<strong>de</strong>s" (Op., ed. F.rdmann, p. 479,<br />

393). Wolff dava o nome <strong>de</strong> "juízo discursivo" à<br />

operação da R., na medida em que consiste na<br />

correlação das proposições (Log., §§ 50-S1).<br />

O conceito <strong>de</strong> R. como discurso entra em<br />

crise com Kant, que, ao mesmo tempo em que<br />

atribui caráter discursivo a toda a ativida<strong>de</strong><br />

cognoscitiva humana, consi<strong>de</strong>rando que apenas<br />

Deus possui o conhecimento intuitivo (v.<br />

DiscrRSjvo), distingue nitidamente a R. do intelecto,<br />

apesar cio caráter discursivo comum aos<br />

cfoís. A R. 6 a faculda<strong>de</strong> "que produz os conceitos<br />

por si"; portanto, po<strong>de</strong> ser chamada <strong>de</strong> faculda<strong>de</strong><br />

dos princípios. Mas os conceitos que a<br />

R. produz não têm base na experiência; por<br />

isso. são simplesmente fictícios. "Se o intelecto<br />

po<strong>de</strong> ser uma faculda<strong>de</strong> da unificação dos fenômenos<br />

por meio <strong>de</strong> regras, a R. é a faculda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> unificar as regras cio intelecto por meio<br />

<strong>de</strong> princípios. Por isso, ela nunca visa imediatamente<br />

à experiência ou a um objeto qualquer,<br />

mas ao intelecto, para, por meio <strong>de</strong> conceitos,<br />

imprimir aos múltiplos conhecimentos <strong>de</strong>ste<br />

uma unida<strong>de</strong> a priori; essa unida<strong>de</strong>, que po<strong>de</strong><br />

ser chamada <strong>de</strong> racional, é <strong>de</strong> espécie totalmente<br />

diferente da outra que po<strong>de</strong> ser produzida<br />

pelo intelecto" (Crít. R. Pura. Dialética<br />

transcen<strong>de</strong>ntal, Intr. II. a). Assim como o intelecto,<br />

a R. proce<strong>de</strong> discursivamente, mas consi<strong>de</strong>ra<br />

que os procedimentos discursivos do intelecto<br />

se realizem em idéias <strong>de</strong> totalida<strong>de</strong> e<br />

unida<strong>de</strong> (alma, mundo, Deus), que são perfeitas,<br />

umas não po<strong>de</strong>m ser confrontadas com a<br />

experiência, portanto puramente fictícias e apenas<br />

fonte <strong>de</strong> raciocínios dialéticos, ou seja.<br />

sofísticos (v. Iní:iA; ANTINOMIAS). O resultado<br />

<strong>de</strong>ssa distinção kantiana é que só é válido o<br />

procedimento do intelecto cujos conceitos <strong>de</strong>rivam<br />

imediatamente da experiência, e que o<br />

procedimento discursivo racional, com suas<br />

pretensões totalitárias, só dá origem a noções<br />

fictícias. Portanto, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> Kant lica difícil<br />

manter a <strong>de</strong>finição da razão como técnica<br />

discursiva.<br />

O conceito cia R. como discurso permite a<br />

consi<strong>de</strong>ração formal do procedimento racional:<br />

possibilita uma lógica, que é na realida<strong>de</strong><br />

a lógica tradicional na forma elaborada<br />

pelos filósofos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Aristóteles até o fim do<br />

séc. XIX. Entendida neste sentido, a lógica é ao<br />

mesmo tempo <strong>de</strong>scritiva e normativa: <strong>de</strong>scritiva<br />

em relação aos procedimentos próprios da<br />

R., normativa no sentido <strong>de</strong> que essa mesma<br />

<strong>de</strong>scrição vale como regra para o LISO correto<br />

da razão. Nesse sentido, a lógica tradicional era<br />

<strong>de</strong>finida com exatidão como "arte <strong>de</strong> raciocinar".<br />

/;) O conceito da R. como autoconsciêucía<br />

remonta a Fichte. Caracteriza-se pela i<strong>de</strong>ntificação<br />

entre R. e realida<strong>de</strong>, e pressupõe o conceito<br />

<strong>de</strong> R. como discurso. Como discurso, a R.<br />

é <strong>de</strong>dução; como <strong>de</strong>dução, tem um único princípio,<br />

que é o F.u. Do Ku <strong>de</strong>riva, com necessida<strong>de</strong><br />

infalível, todo o sistema do saber, que é<br />

ao mesmo tempo o sistema da realida<strong>de</strong>. "Fonte<br />

<strong>de</strong> toda a realida<strong>de</strong> é o F.u. Somente com o<br />

Ku e pelo Ku é dado o conceito <strong>de</strong> realida<strong>de</strong>.<br />

Mas o Eu é porque se põe e põe-se porque é.<br />

Portanto, pôr-se e ser são uma só e mesma<br />

coisa" ( Wísseuschaftslehre. 1794, § 4. C; trad. it..<br />

p. 92). As equações em que essa doutrina se<br />

baseia são as seguintes: R. = saber <strong>de</strong>dutivo;<br />

saber <strong>de</strong>dutivo = realida<strong>de</strong>; realida<strong>de</strong> + saber =<br />

autoconsciência. Schelling expressava essas<br />

mesmas equações ao afirmar: "A natureza alcança<br />

seu fim mais elevado, que é tornar-se<br />

inteiramente objeto <strong>de</strong> si mesma, com a última<br />

e mais elevada reflexão, que nada mais é que<br />

o homem ou. <strong>de</strong> modo mais geral, aquilo que<br />

chamamos <strong>de</strong> razão. Temos assim, pela primeira<br />

vez, o retorno completo da natureza a si mesma,<br />

estando evi<strong>de</strong>nte que a natureza é originariamente<br />

idêntica àquilo que em nós se<br />

revela como princípio inteligente e consciente<br />

(System <strong>de</strong>s trajiszen<strong>de</strong>ntalen I<strong>de</strong>alismus,<br />

1800. Intr., § 1; trad. it.. p. 9). F Hegel<br />

expressava o mesmo conceito da seguinte

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