22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

VIDA 1001 VIDA<br />

do entre filósofos e cientistas, e a título puramente<br />

<strong>de</strong>scritivo, sem que o reconhecimento<br />

<strong>de</strong> uma característica própria dos fenômenos<br />

da V. implique o reconhecimento <strong>de</strong> um princípio<br />

ou <strong>de</strong> uma causa em si <strong>de</strong>sses fenômenos.<br />

Veremos, aliás, que em certos níveis <strong>de</strong> V.<br />

a própria distinção entre o que é V. e o que não<br />

o é torna-se muito difícil ou per<strong>de</strong> sentido. A<br />

disputa entre vitalismo e antivitalismo não<br />

concerne ao problema da caracterização da V.,<br />

mas ao da origem e do <strong>de</strong>senvolvimento da<br />

V.; quanto a esse problema, v. VITALISMO.<br />

Des<strong>de</strong> a Antigüida<strong>de</strong> os fenômenos da V.<br />

têm sido caracterizados com base em sua capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> autoproduçào, vale dizer, com base<br />

na espontaneida<strong>de</strong> com que os seres vivos se<br />

movem, se nutrem, crescem, se reproduzem e<br />

morrem, <strong>de</strong> um modo que, pelo menos aparente<br />

e relativamente, não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> das coisas<br />

externas. Platão i<strong>de</strong>ntificava alma e V. (Fed.,<br />

105 c), porque consi<strong>de</strong>rava própria da alma a<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> "mover-se por si" (Fed., 245 c).<br />

Aristóteles entendia por V. "a nutrição, o crescimento<br />

e a <strong>de</strong>struição que se originam por si<br />

mesmos" (Dean., II, I, 412 a 13). e conseqüentemente<br />

consi<strong>de</strong>rava que a V. é própria dos<br />

seres animais, pois estes "possuem em si mesmos<br />

uma potência ou um princípio tal que<br />

sofrem aumento ou diminuição nas direções<br />

opostas" (Ibid., II 413 a 27). Com base no mesmo<br />

conceito <strong>de</strong> V., Plotino afirmava que "toda<br />

V. é pensamento" e que o pensamento "vive<br />

por si mesmo" (Fnn., III, 8, 8). S. Tomás afirmava<br />

que V. significa "a substância à qual convém<br />

por natureza mover-se ou conduzir-se espontaneamente<br />

e <strong>de</strong> qualquer modo à ação" (S.<br />

Th., I, q. 18, a. 2); portanto, a alma é seu princípio<br />

(Ibid., I, q. 75, a. 1).<br />

Quando, com Descartes e Hobbes, surgiu o<br />

conceito mecanicista da V. e começou-se a comparar<br />

o homem e, em geral, o organismo vivo<br />

a uma máquina bem montada, o conceito <strong>de</strong> V.<br />

não mudou, visto que a hipótese mecanicista<br />

era inspirada aos filósofos exatamente pela crença<br />

<strong>de</strong> que "os autômatos po<strong>de</strong>m mover-se por<br />

si" (DHSCARTRS, Traité <strong>de</strong> 1'homme, p. I; HOBBES.<br />

Leviath., I, Intr.). O que se negava neste caso<br />

era a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> entre alma e V.: assim, consi<strong>de</strong>rava-se<br />

possível que a mesma matéria corpórea,<br />

em certas formas <strong>de</strong> organização, teria<br />

condições <strong>de</strong> mover-se ou <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver-se<br />

por si. A disputa entre vitalismo e mecanicismo<br />

(v. VITALISMO) versa sobre o seguinte: o meca-<br />

nicismo afirma que a V. é <strong>de</strong>vida a certa organização<br />

físico-química da matéria corpórea, enquanto<br />

o vitalismo consi<strong>de</strong>ra que essa organização<br />

não é suficiente, e que a V. <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> cie um<br />

princípio <strong>de</strong> natureza espiritual, que é, p. ex., a<br />

archeus (v.) <strong>de</strong> Helmont, a natureza plástica<br />

(v.) <strong>de</strong> Cudworth, o dominante(v.) <strong>de</strong> Reinke.<br />

a enteléqnia (v.) <strong>de</strong> Driesch, o elà vital'(v.) <strong>de</strong><br />

Bergson.<br />

Leibniz objetava ao mecanicismo e ao vitalismo<br />

que ambos contradizem o "gran<strong>de</strong> princípio<br />

da física", segundo o qual "um corpo só se<br />

move se impelido por um corpo vizinho c em<br />

movimento"; consi<strong>de</strong>rava que a única teoria da<br />

V. compatível com esse princípio é a da harmonia<br />

preestabelecida, segundo a qual a V. consiste<br />

na concordância cia ação das substâncias,<br />

preestabelecida por Deus (Sur le príncipe <strong>de</strong><br />

lie. 1705, em Op., ed. Krdmann, pp. 429 ss.). O<br />

conceito da V. como auto-regulaçâo parece ser<br />

simplesmente pressuposto tanto por aquela<br />

disputa quanto pela observação <strong>de</strong> Leibniz. E<br />

também por Kant, quando este afirma que "a V.<br />

é a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atuar segundo a faculda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>sejar", enten<strong>de</strong>ndo por faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sejar "a faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong>, por meio das representações,<br />

ser causa dos objetos <strong>de</strong>ssas representações"<br />

(Crít. K. Prática, Pref., anotação;<br />

Anfangsgriín<strong>de</strong> <strong>de</strong>r Natunvissenschaft, III, teor.<br />

3, anotação). O conceito <strong>de</strong> vida como autoregulação<br />

também era pressuposto por Schelling,<br />

para quem a diferença entre o orgânico e<br />

o inorgânico consiste no fato <strong>de</strong> que o orgânico<br />

tem em si sua própria organização ou sua própria<br />

forma <strong>de</strong> V., enquanto o inorgânico é privado<br />

<strong>de</strong>la e faz parte <strong>de</strong> uma organização mais<br />

ampla, que é a V. da natureza em seu conjunto<br />

(Werke, I, III, pp. 89 ss.). Em sentido análogo,<br />

Hegel i<strong>de</strong>ntificava a V. com "o princípio que dá<br />

início e movimento a si mesmo" (Wissenschaft<br />

<strong>de</strong>r Logik, ed. Glockner, II, p. 250), ou, em<br />

outros termos, com "o todo que se <strong>de</strong>senvolve,<br />

resolve seu <strong>de</strong>senvolvimento e mantém-se simples<br />

nesse movimento" (Fhãnomen. <strong>de</strong>s Geistes,<br />

I, IV, 1). Por outro lado, Clau<strong>de</strong> Bernard escrevia:<br />

"As máquinas vivas são criadas e construídas<br />

<strong>de</strong> tal modo que, ao se aperfeiçoarem,<br />

vâo-se tornando mais livres no ambiente cósmico<br />

geral. (...) A máquina viva mantém-se em<br />

movimento porque o mecanismo interno do<br />

organismo repara, por meio <strong>de</strong> ações e forças<br />

sempre renascentes, as perdas constituídas<br />

pelo exercício das funções. As máquinas cria-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!