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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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CÓPULA 209 CORAÇÃO<br />

da vida social (The Questfor Certainty, 1930,<br />

p. 295).<br />

CÓPUIA (in. Copula; fr. Copule, ai. Kopulait.<br />

Copula). O uso predicativo <strong>de</strong> ser (v.).<br />

CORAÇÃO (gr. KapôítX; lat. Cor, in. Heart;<br />

fr. Coeur, ai. Herz; it. Cuorê). Entre os antigos,<br />

só o pitagórico Alcmeão <strong>de</strong> Cróton (séc. VI-V<br />

a.C.) consi<strong>de</strong>rou o cérebro como se<strong>de</strong> do pensamento<br />

("Digo que é com o cérebro que enten<strong>de</strong>mos",<br />

Fr. 17, Diels). Aristóteles consi<strong>de</strong>rou<br />

o C. como se<strong>de</strong> das sensações e das emoções<br />

(Depari. an., II, 10, 656 a; De anim. mot.,<br />

11, 703 b), doutrina que, graças à autorida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Aristóteles, prevaleceu em toda a Antigüida<strong>de</strong> e<br />

na Ida<strong>de</strong> Média, até o séc. XVI, quando os novos<br />

estudos <strong>de</strong> anatomia pu<strong>de</strong>ram mostrar que<br />

os nervos partem do cérebro. Mas a importância<br />

<strong>de</strong>ssa noção em <strong>filosofia</strong> não está nessa herança<br />

arcaica, mas, na realida<strong>de</strong>, permaneceu<br />

na história da <strong>filosofia</strong> para indicar exigências<br />

diferentes. No Novo Testamento, significa a relação<br />

do homem consigo mesmo, tanto no <strong>de</strong>sejo<br />

(Mat., V, 8, 28) quanto no pensamento e<br />

na vonta<strong>de</strong> (ICor, VII, 37), mas na medida em<br />

que pensamento e vonta<strong>de</strong> se consumam em si<br />

mesmos ou pelo menos antes que se manifestem<br />

exteriormente. Mas o uso mo<strong>de</strong>rno <strong>de</strong>ssa<br />

palavra sem dúvida <strong>de</strong>riva <strong>de</strong> Pascal, que frisou<br />

a importância das "razões do C." (Pensées, 277).<br />

Ao C. Pascal atribuiu duas espécies <strong>de</strong> conhecimentos<br />

específicos: l 2 o conhecimento das relações<br />

humanas e <strong>de</strong> tudo o que <strong>de</strong>las nasce,<br />

<strong>de</strong> tal modo que o C. é o guia privilegiado do<br />

homem no domínio da moral, da religião, da <strong>filosofia</strong><br />

e da eloqüência; 2- o conhecimento dos<br />

primeiros princípios das ciências e especialmente<br />

da matemática. "O C. sente que há só<br />

três dimensões no espaço, que os números são<br />

infinitos; em seguida, a razão <strong>de</strong>monstra que<br />

não há dois números quadrados dos quais um<br />

seja o dobro do outro, etc. Os princípios são<br />

sentidos, as proposições são fruto da conclusão:<br />

uns e outras têm a mesma certeza, mas<br />

obtida por vias diferentes" (Ibid., 282). Só o<br />

primeiro <strong>de</strong>sses dois conhecimentos privilegiados<br />

<strong>de</strong>veria continuar a ser atribuído ao C. na<br />

<strong>filosofia</strong> do séc. XIX. Entrementes, Kant viu no<br />

C. apenas a tendência natural que nos torna<br />

mais ou menos capazes <strong>de</strong> acolher a lei moral<br />

(Religion, I, 2). Hegel entendia por C. "o complexo<br />

da sensação", isto é, da experiência imediata<br />

e primordial do homem, como quando<br />

se diz que "não basta que os princípios morais<br />

e a religião, etc, estejam só na cabeça: <strong>de</strong>vem<br />

estar no C, na sensação" (Ene, § 400). Por<br />

outro lado, ele viu na "lei do C." uma figura <strong>de</strong><br />

sua Fenomenologia do espírito, mais precisamente<br />

a que representa a revolta romântica<br />

contra a realida<strong>de</strong> em ato, contra a or<strong>de</strong>m<br />

estabelecida. A lei do C. não propõe uma lei<br />

<strong>de</strong>terminada, mas só i<strong>de</strong>ntifica a lei com as exigências<br />

<strong>de</strong> cada C, enten<strong>de</strong>ndo que o conteúdo<br />

particular do C. <strong>de</strong>ve valer como tal universalmente.<br />

Nisso está a contradição da lei do C,<br />

porque a pretensão <strong>de</strong> fazer valer universalmente<br />

o conteúdo <strong>de</strong> um C. particular chocase<br />

com a mesma pretensão <strong>de</strong> todos os outros<br />

C. "Assim como, antes, o indivíduo achava a lei<br />

abominável e rígida, agora acha abomináveis e<br />

avessos às suas excelentes intenções os C. dos<br />

homens". Na realida<strong>de</strong>, para Hegel, o que há<br />

<strong>de</strong> rígido e torturante para o C. singular não é a<br />

realida<strong>de</strong> dos fatos, mas a lei dos outros C,<br />

contra a qual o recurso à realida<strong>de</strong> é uma libertação<br />

(Phànomen. <strong>de</strong>s Geistes, I, V, B, b). Na <strong>filosofia</strong><br />

mo<strong>de</strong>rna, especialmente no espiritualismo,<br />

que recorre com freqüência à noção <strong>de</strong><br />

C, esta exprime substancialmente exigências<br />

<strong>de</strong> caráter moral e religioso. Foi Lotze quem,<br />

em Microcosmo (1856), começou a dar ênfase<br />

às "aspirações do C", às necessida<strong>de</strong>s da<br />

alma" ou "do sentimento", às "esperanças humanas"<br />

como exigências que a <strong>filosofia</strong> <strong>de</strong>ve<br />

impor contra o mecanicismo da ciência; obviamente,<br />

tais necessida<strong>de</strong>s e aspirações nada<br />

mais são do que as exigências metafísicas implícitas<br />

nas crenças morais, assim como nas<br />

crenças religiosas tradicionais. As necessida<strong>de</strong>s<br />

do C. foram incluídas na <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> <strong>filosofia</strong><br />

por Wundt, que viu nela "a recapitulação<br />

dos conhecimentos particulares <strong>de</strong> uma intuição<br />

do mundo e da vida, que satisfaça às exigências<br />

do intelecto e às necessida<strong>de</strong>s do C."<br />

(System <strong>de</strong>rPhil, 4- ed., 1919,1, p. 1; Enleitung<br />

in die Phil, 3 a ed., 1904, p. 5). Nestas e em<br />

expressões semelhantes, que se repetem<br />

continuamente na <strong>filosofia</strong> da segunda meta<strong>de</strong><br />

do séc. XIX e nos primeiros <strong>de</strong>cênios <strong>de</strong>ste, o<br />

C. é o símbolo das crenças tradicionais que<br />

po<strong>de</strong>m ser resumidas no reconhecimento da or<strong>de</strong>m<br />

provi<strong>de</strong>ncial do mundo, isto é, <strong>de</strong> uma<br />

or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>stinada a salvaguardar os valores humanos<br />

e o <strong>de</strong>stino do homem. Muitas vezes, na<br />

<strong>filosofia</strong> contemporânea, o termo C. se alterna<br />

com consciência (v.), para indicar a esfera privilegiada<br />

em que o homem po<strong>de</strong> alcançar as<br />

"realida<strong>de</strong>s últimas com certeza absoluta".

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