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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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EXPERIÊNCIA 411 EXPERIÊNCIA<br />

<strong>de</strong>s empíricas elementares que servem <strong>de</strong> fundamento<br />

aos enunciados sintéticos. Portanto,<br />

nessa segunda fase, com a distinção entre<br />

enunciados analíticos e enunciados sintéticos,<br />

permanece ainda a noção intuitiva <strong>de</strong> E. e, com<br />

isso, a crença na existência <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s empíricas<br />

elementares. O que mudou foi apenas a<br />

qualificação <strong>de</strong> tais unida<strong>de</strong>s elementares, que<br />

<strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> ser experiências subjetivas ou percepções,<br />

mas <strong>de</strong>terminações objetivas ou qualida<strong>de</strong>s<br />

sensíveis. Essa fase do pensamento <strong>de</strong><br />

Carnap po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada como o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

máximo da noção <strong>de</strong> E. como intuição.<br />

De fato, o reconhecimento, por parte <strong>de</strong><br />

Quine, dos "dois dogmas do empirismo" (natureza<br />

intuitiva da E. e distinção entre enunciados<br />

analíticos e enunciados sintéticos) constitui<br />

a passagem para uma concepção diferente da<br />

experiência. Entrementes, é significativo o fato<br />

<strong>de</strong> a teoria da E. como intuição ser compartilhada<br />

não só por empiristas, mas também por<br />

seus adversários, como p. ex. Husserl, que censura<br />

no empirismo a ignorância ou o <strong>de</strong>sconhecimento<br />

das "essências" e julga, portanto,<br />

que o verda<strong>de</strong>iro procedimento cognoscitivo<br />

é a "visão essencial" do matemático. Segundo<br />

Husserl, a E. do naturalista, que, para ele, é "um<br />

ato fundamentador, que não po<strong>de</strong> ser substituído<br />

pela simples imaginação", é apenas visão,<br />

intuição do individual (l<strong>de</strong>en, I, §§ 7, 20). Esse<br />

conceito é confirmado por ele nas obras póstumas,<br />

on<strong>de</strong> se lê que a E., "no seu significado<br />

primeiro e mais pregnante", <strong>de</strong>ve ser<br />

consi<strong>de</strong>rada "relação direta com o individual"<br />

(Erfahrung und Urteil, 1954, § 6).<br />

b) A teoria da E. como método consi<strong>de</strong>ra-a<br />

operação (mais ou menos complexa, nunca<br />

elementarmente simples) capaz <strong>de</strong> pôr à prova<br />

um conhecimento e capaz <strong>de</strong> orientar sua<br />

retificação. Uma operação que atinge esse objetivo<br />

é repetível ou recorre a situações repetíveis,<br />

portanto nunca é: I a uma ativida<strong>de</strong> pessoal ou<br />

incomunicável (p. ex., subjetiva ou mental),<br />

que não possa ser repetida por qualquer pessoa;<br />

2- intenção, imaginação ou anúncio <strong>de</strong><br />

operação, mas a operação efetiva. Nesse sentido,<br />

"perceber" não é operação empírica quando<br />

se refere à sensação que x tem do vermelho,<br />

mas sim quando é operação ten<strong>de</strong>nte a<br />

confirmar ou averiguar se, p. ex., há um objeto<br />

vermelho nesta sala, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que essa operação<br />

possa ser realizada por qualquer pessoa nas<br />

condições a<strong>de</strong>quadas. Portanto, o objeto empírico<br />

não é a "sensação" ou a "impressão" <strong>de</strong><br />

vermelho (como Carnap parece crer), mas a<br />

coisa vermelha, como p. ex. o livro ou a luz<br />

cuja presença po<strong>de</strong> ser confirmada nesta sala,<br />

seja com operações perceptivas normais (que<br />

po<strong>de</strong>m ser praticadas por qualquer pessoa que<br />

tenha visão normal), seja com instrumentos (p.<br />

ex., um espectroscópio, etc). A sensação "vermelho"<br />

não é levada em conta; isso porque,<br />

mesmo não sendo diretamente acessível a<br />

alguns indivíduos (os daltônicos), um objeto<br />

vermelho não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser um objeto empírico<br />

para todos, inclusive para os daltônicos. A<br />

emp.iricida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um objeto consiste no fato <strong>de</strong><br />

ele po<strong>de</strong>r ser verificado ou averiguado por<br />

quem quer que esteja na posse dos meios<br />

a<strong>de</strong>quados; e o fato <strong>de</strong> existirem certos meios<br />

capazes <strong>de</strong> propiciar essa averiguação significa<br />

que eles po<strong>de</strong>m ser utilizados tanto por quem<br />

crê quanto por quem não crê na existência do<br />

objeto, e que a eficácia dos meios não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> uma ou <strong>de</strong> outra crença. Em sentido negativo,<br />

essa noção <strong>de</strong> E. é caracterizada por: l g<br />

ausência <strong>de</strong> distinção entre verda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> razão<br />

e verda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> fato, ou entre enunciados<br />

analíticos e enunciados sintéticos, 2- pela<br />

ausência <strong>de</strong> postulação <strong>de</strong> uma unida<strong>de</strong> empírica<br />

elementar.<br />

Po<strong>de</strong>-se dizer que essa noção <strong>de</strong> E. foi<br />

<strong>de</strong>lineada pela própria prática da pesquisa<br />

científica <strong>de</strong>s<strong>de</strong> seus primórdios. A "sensata E."<br />

<strong>de</strong> Galilei, que nunca estava separada do raciocínio<br />

matemático, tem esse caráter prático <strong>de</strong><br />

averiguação e não po<strong>de</strong> ser interpretada como<br />

recurso à intuição imediata. O próprio fundador<br />

do empirismo mo<strong>de</strong>rno, Francis Bacon,<br />

enten<strong>de</strong>u a E. como campo das verificações e<br />

das averiguações intencionalmente executadas.<br />

Dizia Bacon.- "Quando a E. vem ao nosso encontro<br />

espontaneamente, chama-se acaso; se<br />

procurada <strong>de</strong>liberadamente, tem o nome <strong>de</strong><br />

experimento. Mas a E. vulgar outra coisa não é,<br />

senão um proce<strong>de</strong>r às apalpa<strong>de</strong>las como quem<br />

vaga à noite <strong>de</strong> lá para cá na esperança <strong>de</strong> topar<br />

com o caminho certo, quando seria muito<br />

mais útil e pru<strong>de</strong>nte esperar o dia ou acen<strong>de</strong>r<br />

um can<strong>de</strong>eiro para achar o caminho. A or<strong>de</strong>m<br />

verda<strong>de</strong>ira da E. começa com acen<strong>de</strong>r o can<strong>de</strong>eiro,<br />

com o que se ilumina o caminho, começando-se<br />

com a E. organizada e madura, e<br />

não com uma E. irregular e às avessas; primeiro,<br />

<strong>de</strong>duz os axiomas, <strong>de</strong>pois proce<strong>de</strong> a novos<br />

experimentos" (Nov. Org., I, 82). Em outros<br />

termos, para valer como fonte <strong>de</strong> aferição dos<br />

conhecimentos, a E. <strong>de</strong>ve incluir uma or<strong>de</strong>m,

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