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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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T<br />

EXPERIÊNCIA 409 EXPERIÊNCIA<br />

tureza, ou seja, à sensibilida<strong>de</strong>. E Leonardo da<br />

Vinci afirmava que "a sabedoria é filha da E." e<br />

que a E. nunca engana, apesar <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r enganar-se<br />

o juízo sobre ela (Cod. Atl., foi. 154 r).<br />

Mas tanto em Leonardo da Vinci quanto em<br />

Galilei, ao lado da E. sensível aparece outro<br />

fundamento ou cânon do conhecimento humano:<br />

o raciocínio matemático. Ao lado da "sensata<br />

E.", Galilei colocava explicitamente as "<strong>de</strong>monstrações<br />

necessárias" da matemática como<br />

outra via através da qual a natureza se revela<br />

ao homem (Carta à Grand. Cristina, em Op.,<br />

V, p. 316). Essa já era uma limitação importante<br />

à interpretação da E. como intuição sensível,<br />

pois as <strong>de</strong>monstrações matemáticas não transcen<strong>de</strong>m<br />

o domínio da natureza (que, segundo<br />

Galilei e Kepler, está escrita inteiramente em<br />

caracteres matemáticos), sendo portanto constitutivas<br />

da E. natural. Aliás, é significativo que<br />

o verda<strong>de</strong>iro fundador do empirismo mo<strong>de</strong>rno,<br />

Francis Bacon, não seja <strong>de</strong> modo algum<br />

sensacionista e que, para ele, o guia do conhecimento<br />

humano não é a simples E., que proce<strong>de</strong><br />

ao acaso e sem diretrizes, mas o experimento,<br />

que é a E. guiada e disciplinada pelo<br />

intelecto (Nov. Org., 1,82). A interpretação intuitiva<br />

da E. <strong>de</strong>veria, porém, prevalecer no empirismo<br />

setecentista graças a Locke e Hume. A<br />

teoria da E. <strong>de</strong> Locke po<strong>de</strong> ser resumida nos<br />

seguintes pontos: l e redução da E. à intuição<br />

das coisas externas (sensação) ou dos atos<br />

internos (reflexão); 2- resolução da sensação e<br />

da intuição em elementos simples, entendidos<br />

cartesianamente como idéias, 3 Q uso da noção<br />

<strong>de</strong> E. como critério ao mesmo tempo limitativo<br />

e fundamentador do conhecimento humano, já<br />

que este não po<strong>de</strong> ir além da E. que lhe fornece<br />

as idéias e, ao mesmo tempo, recebe da E.,<br />

com o material indispensável e com os nexos<br />

que esse material apresenta, o critério da sua<br />

valida<strong>de</strong> (Ensaio, IV, cap. 3-4). Esse último<br />

aspecto é enfatizado por Locke inclusive como<br />

norma limitativa das pretensões cognoscitivas<br />

do homem porque assumido como limite da<br />

possível extensão do conhecimento humano.<br />

Na realida<strong>de</strong>, se consi<strong>de</strong>rarmos o fato <strong>de</strong> Locke<br />

ter imposto esse limite não só ao domínio do<br />

conhecimento, mas também ao da política, da<br />

moral e da religião, campos em que o conceito<br />

<strong>de</strong> relação direta com o objeto não tem sentido,<br />

<strong>de</strong>veremos concluir que, no conjunto <strong>de</strong><br />

sua <strong>filosofia</strong>, ele realizou uma atitu<strong>de</strong> empirista<br />

que vai além <strong>de</strong> sua teoria da experiência.<br />

Com Locke, <strong>de</strong>lineou-se a concepção <strong>de</strong> E.<br />

como totalida<strong>de</strong> do mundo humano, ou seja,<br />

como conjunto <strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong> averiguação<br />

instituíveis nele, que é a característica da concepção<br />

metódica da experiência. Mas está claro<br />

que em Locke também se encontra, pela primeira<br />

vez, a <strong>de</strong>finição das unida<strong>de</strong>s empíricas<br />

elementares, que são as idéias e as relações<br />

imediatas entre as idéias. A mesma assunção,<br />

com outras palavras, encontra-se na teoria <strong>de</strong><br />

Hume. O ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong>ste filósofo está<br />

expresso com toda clareza nas últimas frases<br />

<strong>de</strong> Investigação sobre o intelecto humano: "Se<br />

tomarmos um volume qualquer, como p. ex. <strong>de</strong><br />

teologia ou <strong>de</strong> metafísica escolástica, perguntaremos:<br />

contém algum raciocínio abstrato sobre<br />

quantida<strong>de</strong>s ou números? Não. Contém algum<br />

raciocínio experimental sobre questões <strong>de</strong> fato<br />

ou <strong>de</strong> existência? Não. Então, ponha-o no fogo,<br />

pois só contém sofismas e ilusões." De fato,<br />

para Hume, todos os objetos da investigação<br />

humana divi<strong>de</strong>m-se em duas gran<strong>de</strong>s classes:<br />

as relações entre as idéias e as coisas <strong>de</strong> fato.<br />

As relações entre idéias "po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>scobertas<br />

com uma operação pura do pensamento,<br />

sem <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> coisas que existem em algum<br />

lugar do universo. Ainda que não existisse nem<br />

sequer um círculo ou um triângulo na natureza,<br />

as verda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>monstradas por Eucli<strong>de</strong>s conservariam<br />

certeza e evidência" (Inq. Cone. Un<strong>de</strong>rst.,<br />

IV, 1). Portanto, as verda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ssa natureza<br />

(que constituem a geometria, a álgebra, a<br />

aritmética e, em geral, a matemática) não precisam<br />

<strong>de</strong> averiguação, mas sua verificação está à<br />

disposição do homem a qualquer momento e<br />

sem recurso a confirmações experimentais. No<br />

que concerne aos conhecimentos da realida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> fato, ao contrário, o seu único fundamento é<br />

a relação entre causa e efeito. Mas, por sua vez,<br />

o fundamento <strong>de</strong>ssa relação é a E., e se perguntarmos<br />

qual é o fundamento das conclusões<br />

tiradas da E., a resposta a ser dada, segundo<br />

Hume, é que esse fundamento nada tem <strong>de</strong><br />

racional, mas é simples instinto. De fato, "todas<br />

as nossas conclusões experimentais fundam-se<br />

na suposição <strong>de</strong> que o futuro será conforme ao<br />

passado. Mas buscar a prova <strong>de</strong>sta última suposição<br />

com argumentos prováveis ou referentes<br />

à existência <strong>de</strong>ve ser, evi<strong>de</strong>ntemente, um círculo<br />

vicioso, e tomar por admitido o que é duvidoso"<br />

(Inq., cit., IV, 2). Portanto, o que nos resta<br />

é o instinto, a aconselhar-nos a aceitar como<br />

boa uma inferência — a do passado para o futuro<br />

— que não po<strong>de</strong> ter justificação racional<br />

nem empírica. O fundamento <strong>de</strong>ssa crítica é a

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