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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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EMOÇÃO 313 EMOÇÃO<br />

do homem se encontra no mundo natural. Essa<br />

situação explica também as outras E., em virtu<strong>de</strong><br />

das quais o homem está ligado aos seus<br />

semelhantes. Com efeito, o homem é levado à<br />

convivência não só para aten<strong>de</strong>r às necessida<strong>de</strong>s<br />

que não po<strong>de</strong>ria satisfazer sozinho, mas<br />

também pela tendência a gozar da companhia<br />

<strong>de</strong> seus semelhantes; essa tendência impele-o<br />

para as relações sociais e para o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong><br />

familiarida<strong>de</strong> e benevolência. Tais relações <strong>de</strong>terminam,<br />

portanto, outro grupo <strong>de</strong> E., como<br />

temor, dor, prazer e satisfação, inerentes ao<br />

comportamento recíproco dos homens. Enfim,<br />

um terceiro grupo <strong>de</strong> E. nasce da sensação <strong>de</strong><br />

orgulho e satisfação que o espírito experimenta<br />

ao sentir-se íntegro e puro, e ao reconhecer<br />

nos outros a integrida<strong>de</strong> e a pureza que<br />

<strong>de</strong>seja para si mesmo. Determina-se assim o<br />

sentimento <strong>de</strong> honra e o seu contrário, o <strong>de</strong>sprezo,<br />

bem como outros semelhantes: todos<br />

referentes à situação natural do espírito humano<br />

no mundo (Ibid., IX, 3).<br />

Muito próxima <strong>de</strong>ssa análise <strong>de</strong> Telésio está<br />

a <strong>de</strong> Hobbes, que situava as E. entre as quatro<br />

faculda<strong>de</strong>s humanas fundamentais, ao lado da<br />

força física, da experiência e da razão (De eive,<br />

1,1). Hobbes relaciona as E. com os "princípios<br />

invisíveis do movimento do corpo humano"<br />

que prece<strong>de</strong>m as ações visíveis e cosaimam ser<br />

chamados <strong>de</strong> tendências (conatus). As tendências<br />

chamam-se <strong>de</strong>sejos, apetites ou aversões,<br />

em relação aos objetos que as produzem, e<br />

como tais são os constituintes <strong>de</strong> todas as E.<br />

humanas. De fato, o que os homens <strong>de</strong>sejam<br />

também se diz que amam, e o que evitam se<br />

diz que o<strong>de</strong>iam; <strong>de</strong> tal modo que <strong>de</strong>sejo e amor,<br />

aversão e ódio são a mesma coisa com a diferença<br />

<strong>de</strong> que as palavras "<strong>de</strong>sejo" e "aversão"<br />

implicam a ausência do objeto, ao passo que as<br />

palavras "ódio" e "amor" implicam sua presença.<br />

Aquilo, porém, que não se <strong>de</strong>seja nem se<br />

o<strong>de</strong>ia, diz-se que se <strong>de</strong>s<strong>de</strong>nha; assim, o <strong>de</strong>sdém<br />

é uma espécie <strong>de</strong> imobilida<strong>de</strong> do coração,<br />

uma refratarieda<strong>de</strong> a sofrer a ação <strong>de</strong> certas<br />

coisas. O tom agradável ou doloroso <strong>de</strong> uma E.<br />

garante sua função vital. "O movimento chamado<br />

apetite", diz Hobbes, "e, em sua aparência,<br />

<strong>de</strong>leite ou prazer, parece um reforço e um auxílio<br />

ao movimento vital; portanto não é com improprieda<strong>de</strong><br />

que se chamam <strong>de</strong> jucunda (<strong>de</strong><br />

juvando) as coisas que dão prazer, porque ajudam<br />

e fortificam; ao passo que chamamos <strong>de</strong><br />

molestas as coisas nocivas porque impe<strong>de</strong>m e<br />

perturbam o movimento vital" (leviath., I, 6). O<br />

prazer ou <strong>de</strong>leite, portanto, é o sentido do<br />

bem: o enfado ou <strong>de</strong>sprazer, o sentido do mal.<br />

E todo apetite, <strong>de</strong>sejo ou amor é acompanha<br />

do por um prazer maior ou menor, como todo<br />

ódio ou aversão é acompanhado por uma dor<br />

maior ou menor. Assim entendidas, as E. controlam<br />

toda a conduta do homem: a própria<br />

vonta<strong>de</strong>, para Hobbes, não passa <strong>de</strong> "último<br />

apetite ou última aversão a<strong>de</strong>rente à ação ou à<br />

omissão", e a <strong>de</strong>liberação que prece<strong>de</strong> a vonta<strong>de</strong><br />

não passa <strong>de</strong> "soma <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejos, versões,<br />

esperanças ou temores". Essa é a primeira vez<br />

que se reconhece a função <strong>de</strong>terminante das E.<br />

sobre a totalida<strong>de</strong> da conduta humana.<br />

Embora Descartes compartilhe do ponto <strong>de</strong><br />

vista estóico, <strong>de</strong> que a força da alma consiste<br />

em vencer as E. e <strong>de</strong>ter os movimentos do corpo<br />

que a acompanham, enquanto a sua fraqueza<br />

consiste em <strong>de</strong>ixar-se dominar por elas,<br />

<strong>de</strong> tal modo que é puxada para todos os lados,<br />

sendo levada a lutar contra si mesma, a teoria<br />

das E. que ele expõe em Paixões da alma tem<br />

as mesmas características fundamentais das teorias<br />

<strong>de</strong> Telésio e <strong>de</strong> Hobbes. Segundo Descartes,<br />

as E. são as afeições, ou seja, as modificações<br />

passivas causadas na alma pelo movimento<br />

dos espíritos vitais, das forças mecânicas que<br />

agem no corpo (Pass. <strong>de</strong> 1'âme, I, 27). Essa<br />

ação dos espíritos sobre o corpo é mediada<br />

pela glândula pineal, on<strong>de</strong>, segundo Descartes,<br />

resi<strong>de</strong> a alma, sendo, portanto, também a<br />

se<strong>de</strong> das E. (Ibid., 34). A função natural das E.<br />

é incitar a alma a permitir as ações que servem<br />

para conservar o corpo ou para torná-lo mais<br />

perfeito, contribuindo com elas. Por isso, a tristeza<br />

e a alegria são as duas E. fundamentais.<br />

Graças à primeira, a alma adverte das coisas<br />

que prejudicam o corpo e por isso sente ódio<br />

pelo que lhe causa tristeza e <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> livrarse,<br />

Graças à alegria, ao contrário, a alma adverte<br />

das coisas úteis ao corpo e, assim, sente amor<br />

por elas e <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> adquiri-las e <strong>de</strong> conserválas<br />

(Ibid., 137). Obviamente tudo isso supõe a<br />

separação entre alma e corpo, ou seja, a noção<br />

<strong>de</strong> alma como "substância" in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, visto<br />

que reduz a E. a uma preocupação da alma<br />

em relação ao corpo, à vida e à conservação<br />

<strong>de</strong>ste. Segundo Descartes, a diferença entre as<br />

E. não provém da diferença entre os objetos,<br />

mas dos diferentes modos pelos quais os objetos<br />

nos prejudicam, nos ajudam ou, em geral,<br />

têm importância para nós. O modo <strong>de</strong> ação<br />

habitual das E. consiste em dispor a alma a<br />

<strong>de</strong>sejar as coisas que a natureza nos faz sentir

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