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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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DEUS 256 DEUS<br />

na: essa liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong>veria ser i<strong>de</strong>ntificada com<br />

a necessida<strong>de</strong> do <strong>de</strong>sígnio provi<strong>de</strong>ncial ou ser<br />

negada como coisa impossível. A ação do homem<br />

só po<strong>de</strong> a<strong>de</strong>quar-se à or<strong>de</strong>m racional do<br />

todo porque o homem é uma parte <strong>de</strong>sse todo.<br />

E com efeito sabemos que os estóicos reconheciam<br />

a necessida<strong>de</strong> do agir humano; só para<br />

Crisipo o assentimento voluntário do homem<br />

intervinha como fator concomitante, sendo<br />

comparável à forma do cilindro, que contribui<br />

para que ele gire sobre o plano inclinado (CÍCERO,<br />

De fato, 41-43). Plotino retoma o mesmo conceito<br />

<strong>de</strong> providência: "De todas as coisas forma-se<br />

um ser único e uma só providência; se<br />

começamos pelas coisas inferiores ela é <strong>de</strong>stino;<br />

no alto, é só providência. Tudo no mundo<br />

inteligível é ou razão ou, acima da razão, Inteligência<br />

e Alma pura. Tudo o que <strong>de</strong>sce <strong>de</strong> lá é<br />

providência, ou seja, tudo o que está na Alma<br />

pura e tudo o que vem da Alma para os seres<br />

animados" (Enn., III, 3, 5). A ação que emana<br />

<strong>de</strong> D. coinci<strong>de</strong>, em outros termos, com sua<br />

ação provi<strong>de</strong>ncial: os seres haurem <strong>de</strong> D. não<br />

só o ser e a vida, mas também a or<strong>de</strong>m das<br />

ações em que seu ser e sua vida são exercidos.<br />

Plotino procura não buscar na or<strong>de</strong>m provi<strong>de</strong>ncial<br />

a origem do mal, mas o atribui a uma<br />

espécie <strong>de</strong> acréscimo aci<strong>de</strong>ntal que alguns seres<br />

fazem à or<strong>de</strong>m da providência (Ibid., III, 3,<br />

5). Mas, para ele, a providência e D. i<strong>de</strong>ntificam-se,<br />

pois "do Princípio que permanece imóvel<br />

em si mesmo provêm os seres individuais,<br />

assim como <strong>de</strong> uma raiz, que permanece fixa<br />

em si mesma, provém a planta: é uma floração<br />

múltipla que redunda na divisão dos seres, mas<br />

na qual cada um carrega a imagem do Princípio"<br />

ilbid., III, 3, 7).<br />

Sem dúvida, muitas <strong>de</strong>ssas expressões e<br />

imagens po<strong>de</strong>rão ser empregadas, como <strong>de</strong><br />

fato serão, pelas doutrinas que reconhecem em<br />

D. o criador da or<strong>de</strong>m moral, mas não o i<strong>de</strong>ntificam<br />

com essa or<strong>de</strong>m, embora só encontrem<br />

seu significado literal nessa i<strong>de</strong>ntificação. A negação<br />

da liberda<strong>de</strong> humana, ou melhor, a interpretação<br />

<strong>de</strong>ssa liberda<strong>de</strong> como necessida<strong>de</strong>, é<br />

um <strong>de</strong> seus corolários. Giordano Bruno expressou<br />

esse corolário com a doutrina <strong>de</strong> que,<br />

embora as orações não possam influir nos <strong>de</strong>cretos<br />

do <strong>de</strong>stino, que é inexorável, o próprio<br />

<strong>de</strong>stino <strong>de</strong>seja que lhe supliquem para fazer o<br />

que estabelecera fazer. "Quer ainda o fado que,<br />

conquanto até Júpiter saiba ser ele imutável, e<br />

que outra coisa não po<strong>de</strong> ser senão aquilo que<br />

<strong>de</strong>ve ser e será, não <strong>de</strong>ixe <strong>de</strong>, por tais meios,<br />

correr celeremente para seu <strong>de</strong>stino" (Op. cit,<br />

I, 31). Por sua vez, Espinosa nega que D. seja<br />

causa livre no sentido <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r agir diferente<br />

do modo como age: ele é livre apenas no sentido<br />

<strong>de</strong> que age "só pelas leis <strong>de</strong> sua natureza"<br />

(Et., I, 17).<br />

Assim, em Spinoza, a noção <strong>de</strong> providência<br />

i<strong>de</strong>ntifica-se com a noção <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>: necessida<strong>de</strong><br />

segundo a qual todas as coisas <strong>de</strong>rivam<br />

da natureza <strong>de</strong> D., como única Causa perfeita<br />

e onipotente (Et., I, 33, scol. 22). Fichte só<br />

fazia repropor a tese <strong>de</strong> Spinoza quando, num<br />

texto que lhe valeu a acusação <strong>de</strong> ateísmo (Do<br />

fundamento da nossa fé no governo divino do<br />

mundo, 1798), i<strong>de</strong>ntificava D. com a "or<strong>de</strong>nação<br />

moral viva e atuante", negando que D. fosse<br />

"uma substância particular", diferente <strong>de</strong>ssa<br />

or<strong>de</strong>nação. Essa i<strong>de</strong>ntificação ficou como fundamento<br />

do Romantismo. Hegel diz: "O verda<strong>de</strong>iro<br />

bem, a razão divina e universal, é também<br />

potência <strong>de</strong> realização <strong>de</strong> si mesmo. Em<br />

sua representação mais concreta, esse bem, essa<br />

razão, é D. O que a <strong>filosofia</strong> vê e ensina é que<br />

nenhuma força prevalece sobre a força do bem,<br />

ou seja, <strong>de</strong> D., <strong>de</strong> tal modo que a impeça <strong>de</strong><br />

atuar: D. prevalece, e a história do mundo não<br />

representa outra coisa senão o plano da providência.<br />

D. governa o mundo: o conteúdo <strong>de</strong><br />

seu governo, a execução <strong>de</strong> seu plano, e a<br />

história universal" (Phil. <strong>de</strong>r Geschichte, ed.<br />

Lasson, p. 55). Não obstante a ambigüida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

certas expressões, o sentido da doutrina hegeliana<br />

aqui recapitulada é evi<strong>de</strong>nte: D. é a razão<br />

que habita o mundo, e a razão que habita<br />

o mundo é a própria realida<strong>de</strong> histórica. De um<br />

século a esta parte essa doutrina foi repetida com<br />

freqüência, sendo às vezes <strong>de</strong>signada "doutrina<br />

da providência imanente". Ainda serve <strong>de</strong> base<br />

para algumas correntes que visam renovar a<br />

teologia cristã e a empenhar o cristianismo numa<br />

ação mais direta e eficaz no mundo. Assim, p.<br />

ex., Bonhoeffer i<strong>de</strong>ntifica a realida<strong>de</strong> com o<br />

bem e ambos com Deus. Por um lado, o bem<br />

é a realida<strong>de</strong> porque não é uma fórmula geral:<br />

o real é impossível sem o bem. Por outro lado,<br />

D. é a "realida<strong>de</strong> última" não no sentido <strong>de</strong> ser<br />

uma idéia ou a meta final da realida<strong>de</strong>, mas no<br />

sentido <strong>de</strong> que "todas as coisas se mostram<br />

distorcidas se não são vistas nem reconhecidas<br />

em D.". Desse ponto <strong>de</strong> vista, a ética cristã é "a<br />

realização, entre as criaturas <strong>de</strong> D., da realida<strong>de</strong><br />

reveladora <strong>de</strong> D. em Cristo" (Ethik, 1949, II;<br />

trad. in., pp. 55 ss.). A novida<strong>de</strong> <strong>de</strong> doutrinas<br />

<strong>de</strong>sse tipo consiste, por um lado, no abandono

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