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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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IDEOSCOPIA 533 IGNORABIMUS<br />

mesmo, força persuasiva (fora do campo dos<br />

cientistas competentes), também está claro que<br />

uma teoria evi<strong>de</strong>ntemente falsa do ponto <strong>de</strong><br />

vista científico não po<strong>de</strong> ter força <strong>de</strong> persuasão<br />

por muito tempo. Hoje, p. ex., ninguém faria<br />

qualquer forma <strong>de</strong> propaganda com base na<br />

inexistência dos antípodas. A força <strong>de</strong> persuasão<br />

<strong>de</strong> uma teoria não está presa <strong>de</strong> modo<br />

imutável à própria teoria, mas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do contexto<br />

social em que ela atua ou é utilizada. A<br />

verda<strong>de</strong> ou não-verda<strong>de</strong> científica da teoria<br />

certamente é um elemento do contexto, que,<br />

assim como os <strong>de</strong>mais elementos, entra na<br />

constituição da força <strong>de</strong> persuasão da teoria.<br />

Portanto, <strong>de</strong>ve-se frisar que o significado <strong>de</strong><br />

uma I. não consiste, como achavam os escritores<br />

marxistas, no fato <strong>de</strong> ela expressar os interesses<br />

ou as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> um grupo social,<br />

nem na sua verificabilida<strong>de</strong> empírica, nem em<br />

sua valida<strong>de</strong> ou ausência <strong>de</strong> valida<strong>de</strong> objetiva,<br />

mas simplesmente em sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> controlar<br />

e dirigir o comportamento dos homens<br />

em <strong>de</strong>terminada situação. O alcance i<strong>de</strong>ológico<br />

do princípio citado por Mannheim como<br />

exemplo, o amor fraterno, não resi<strong>de</strong> no fato<br />

negativo <strong>de</strong> que esse princípio não se realize<br />

numa socieda<strong>de</strong> fundada na escravidão, mas<br />

no fato <strong>de</strong>, mesmo numa socieda<strong>de</strong> fundada<br />

na escravidão, esse princípio permitir controlar<br />

e dirigir a conduta <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> número<br />

<strong>de</strong> pessoas.<br />

Em geral, portanto, po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>nominar I.<br />

toda crença usada para o controle dos comportamentos<br />

coletivos, enten<strong>de</strong>ndo-se o termo<br />

crença (v.), em seu significado mais amplo,<br />

como noção <strong>de</strong> compromisso da conduta, que<br />

po<strong>de</strong> ter ou não valida<strong>de</strong> objetiva. Entendido<br />

nesse sentido, o conceito <strong>de</strong> I. é puramente formal,<br />

uma vez que po<strong>de</strong> ser vista como I. tanto<br />

uma crença fundada em elementos objetivos<br />

quanto uma crença totalmente infundada, tanto<br />

uma crença realizável quanto uma crença<br />

irrealizável. O que transforma uma crença em<br />

I. não é sua valida<strong>de</strong> ou falta <strong>de</strong> valida<strong>de</strong>, mas<br />

unicamente sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> controlar os<br />

comportamentos em <strong>de</strong>terminada situação.<br />

IDEOSCOPIA (in. I<strong>de</strong>oscopy). Foi assim que<br />

Peirce <strong>de</strong>nominou "a <strong>de</strong>scrição e a classificação<br />

das idéias que pertencem à experiência comum<br />

ou surgem naturalmente em conexão com<br />

a vida comum, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> sua valida<strong>de</strong><br />

ou não-valida<strong>de</strong>, ou <strong>de</strong> sua psicologia"<br />

(Coll. Pap., 8.328).<br />

IDOLOLOGIA (ai. Eidologie). Doutrina que<br />

estuda os ídolos, ou seja, as aparições na consciência:<br />

uma parte da metafísica, juntamente<br />

com a metodologia, a ontologia e a sinecologia,<br />

segundo Herbart (Allgemeine Metaphysik,<br />

1828, 1, 71).<br />

ÍDOLOS (gr. eiôco^oc; lat. Idola, Simulacra;<br />

in. Idols; fr. Idoles; ai. Idole; it. Idolí). A doutrina<br />

dos I. foi exposta na antigüida<strong>de</strong> por Demócrito;<br />

segundo ela, a sensação e o pensamento são<br />

produzidas por imagens corpóreas provenientes<br />

<strong>de</strong> fora (J. STOBEO, IV, 233). Essa doutrina foi<br />

retomada e adotada pelos epicuristas (Ep. a<br />

Herod., 46-50; cf. LUCRÉCIO, Derer. nat., IV, 99,<br />

etc). Em sentido diferente, foi retomada por<br />

Francis Bacon, para quem os I. não são instrumentos<br />

<strong>de</strong> conhecimento, mas obstáculos ao conhecimento;<br />

são "falsas noções" ou "antecipações",<br />

ou seja, preconceitos. Para Bacon, são<br />

quatro as espécies <strong>de</strong> ídolos. Duas <strong>de</strong>las têm<br />

raízes na natureza humana e Bacon <strong>de</strong>nomina-as<br />

idola tribuse ídola specus. Os I. tribus(â-à<br />

tribo) são comuns a todo o gênero humano e<br />

consistem, p. ex., em supor que na natureza há<br />

uma harmonia muito maior que a existente, em<br />

dar importância a <strong>de</strong>terminados conceitos mais<br />

que a outros, etc. Os I. specus (da caverna)<br />

provêm da educação, dos costumes e dos casos<br />

fortuitos em que cada um venha a encontrar-se.<br />

Assim, a importância que Aristóteles<br />

atribuiu à lógica, após havê-la inventado, é um<br />

I. <strong>de</strong>ssa espécie. Os I. provenientes do exterior<br />

também são <strong>de</strong> duas espécies: idolaforie idola<br />

theatri. Os I. /òn'(da praça) <strong>de</strong>rivam da linguagem<br />

freqüentemente usada ou <strong>de</strong> nomes <strong>de</strong><br />

coisas que não existem (como sorte, primeiro<br />

móvel, órbitas dos planetas, etc.) ou <strong>de</strong> nomes<br />

<strong>de</strong> coisas que existem, mas são confusas (como<br />

gerar, corromper, grave, leve, etc). Os I. theatri<br />

(do teatro) <strong>de</strong>rivam das doutrinas filosóficas ou<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrações errôneas e Bacon as <strong>de</strong>nomina<br />

assim porque compara os sistemas filosóficos<br />

a fábulas que são como mundos fictícios<br />

ou cenas <strong>de</strong> teatro. A este propósito distingue<br />

três falsas <strong>filosofia</strong>s: a sofistica, cujo maior exemplo<br />

é Aristóteles; a empírica, cujo maior exemplo<br />

é a alquimia; a supersticiosa, que se mistura à<br />

teologia e cujo maior exemplo é Platão (Nov.<br />

Org., I, 38-45). Recentemente, essa teoria <strong>de</strong><br />

Bacon sobre os I. foi consi<strong>de</strong>rada antecessora<br />

do conceito mo<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ologia (MANNHEIM,<br />

I<strong>de</strong>ology and Utopia, 1929, II, 2).<br />

IGNAVA RATIO. V. RAZÃO PREGUIÇOSA.<br />

IGNORABIMUS. V. ENIGMAS.

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