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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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ESPAÇO 351 ESPAÇO<br />

II, 33). A <strong>filosofia</strong> judaico-alexandrina adota<br />

essa concepção, que reaparece nos livros da<br />

Cabala. No séc. XVII, foi aceita por Campanella<br />

(De sensu rerum, I, 12), por Henry More<br />

(Enchiridion metaphysicum, I, 8) e por Spinoza,<br />

que concebeu a extensão como um atributo<br />

<strong>de</strong> Deus e afirmou, portanto, que "tudo o<br />

que é, é em Deus" (Et., I, 15). O próprio Newton<br />

falou do E. como sensorium, órgão mediante<br />

o qual Deus move as coisas (Opticks,<br />

III, q. 31; Dover publ., p. 403), conceito criticado<br />

longamente por Leibniz em suas cartas a<br />

Clarke, mas aceito no séc. XVIII por vários<br />

escritores, inclusive o próprio Clarke. Como<br />

última manifestação <strong>de</strong>sse ponto <strong>de</strong> vista po<strong>de</strong>se<br />

consi<strong>de</strong>rar a doutrina <strong>de</strong> S. Alexan<strong>de</strong>r, segundo<br />

a qual o E. e o tempo são a substância<br />

do universo e <strong>de</strong> Deus, estando entre si na<br />

mesma relação em que o corpo está com o<br />

espírito. Desse ponto <strong>de</strong> vista, o E. seria o "corpo"<br />

da realida<strong>de</strong>, logo <strong>de</strong> Deus, que está no<br />

ápice da realida<strong>de</strong> (Space, Time and Deity,<br />

1920).<br />

ti) A tese da subjetivida<strong>de</strong> do E. foi apresentada<br />

pela primeira vez por Hobbes, que <strong>de</strong>finiu<br />

o E. como "a imagem da coisa existente enquanto<br />

existente, ou seja, não se consi<strong>de</strong>rando<br />

<strong>de</strong>la outro aci<strong>de</strong>nte que não seu aparecer fora<br />

do sujeito imaginante" (De corp., VII, § 2). A<br />

análise que Locke fez do E. como idéia complexa<br />

<strong>de</strong> modo também tem como pressuposto<br />

a redução do E. a uma idéia (Ensaio, II, 13, 2);<br />

essa redução é ainda mais radical em Berkeley,<br />

pela sua oposição ao conceito newtoniano <strong>de</strong><br />

E.: "A consi<strong>de</strong>ração filosófica do movimento<br />

não implica a existência <strong>de</strong> um E. absoluto distinto<br />

do que é percebido pelos sentidos e relativo<br />

aos corpos: está claro que tal coisa não<br />

po<strong>de</strong> existir sem o espírito, consi<strong>de</strong>rando os<br />

mesmos princípios que <strong>de</strong>monstram tese semelhante<br />

sobre todos os outros objetos dos<br />

sentidos" (Principies ofHuman Knowledge, I,<br />

116). Com base no mesmo pressuposto, Hume<br />

afirmava que "a idéia <strong>de</strong> E. ou extensão não é<br />

mais que a idéia <strong>de</strong> pontos visíveis ou tangíveis,<br />

distribuídos em certa or<strong>de</strong>m", e que portanto<br />

"não po<strong>de</strong>mos fazer idéia do E. ou do vácuo<br />

on<strong>de</strong> nada haja <strong>de</strong> visível ou tangível"<br />

{Treatise, I, II, 5, ed. Selby-Bigge, p. 53).<br />

O empirismo havia, assim, afirmado a subjetivida<strong>de</strong><br />

do E., reduzindo-o a um conceito<br />

empírico, a uma idéia <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> sensações.<br />

Leibniz e seus seguidores, por outro lado, consi<strong>de</strong>rando<br />

o E. como "a or<strong>de</strong>m das coexistên-<br />

cias", faziam a mesma redução subjetivista, mas<br />

chegavam a consi<strong>de</strong>rar o E. como um conceito<br />

discursivo, universal, que exprime as relações<br />

das coisas entre si. A essas duas formas <strong>de</strong><br />

subjetivida<strong>de</strong>, Kant contrapôs a subjetivida<strong>de</strong><br />

transcen<strong>de</strong>ntal do E., segundo a qual ele é a<br />

condição da percepção sensível. "O E. é uma<br />

representação necessária apriori, que serve <strong>de</strong><br />

fundamento para todas as intuiçôes externas.<br />

Nunca se po<strong>de</strong> formar a representação da<br />

inexistência do E., ainda que se possa perfeitamente<br />

pensar que no E. não há objeto algum.<br />

O E. <strong>de</strong>ve ser, portanto, consi<strong>de</strong>rado como a<br />

condição da possibilida<strong>de</strong> dos fenômenos, e<br />

não como uma <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>les;<br />

é uma representação apriori que está necessariamente<br />

no fundamento dos fenômenos<br />

externos" (Crít. R. Pura, § 2). Nesse sentido, o<br />

E. não é nem conceito nem percepção, mas<br />

"intuição apriori" ou "intuição pura", ou seja,<br />

condição <strong>de</strong> qualquer intuição externa possível.<br />

Assim entendido, correspon<strong>de</strong> exatamente<br />

ao "E. absoluto" <strong>de</strong> Newton, que este<br />

entendia como sensorium <strong>de</strong> Deus; para Kant é<br />

como o sensorium do sujeito cognoscente, isto<br />

é, a condição absoluta da possibilida<strong>de</strong> dos<br />

objetos externos.<br />

Na <strong>filosofia</strong> mo<strong>de</strong>rna e contemporânea a<br />

tese da subjetivida<strong>de</strong> do E. assume a forma do<br />

caráter aparente ou ilusório do E. I<strong>de</strong>alismo e<br />

espiritualismo insistem nessa tese. Hegel afirmava<br />

que "o E. é mera forma, uma abstração,<br />

uma abstração da exteriorida<strong>de</strong> imediata"<br />

(Ene, § 254): o que, todavia, não o impedia <strong>de</strong><br />

procurar uma <strong>de</strong>monstração racional da necessida<strong>de</strong><br />

das três dimensões do E. (Ibíd., § 255). O<br />

i<strong>de</strong>alismo <strong>de</strong> inspiração hegeliana consi<strong>de</strong>ra o<br />

E. simples, aparência (cf. BRADLEY, Appearance<br />

and Realíty, 1893; GKNTILE, Teoria generale<br />

<strong>de</strong>llo spirito, 1916, cap. IX). E o espiritualismo<br />

segue o mesmo caminho quando, com Bergson,<br />

vê o E. como a <strong>de</strong>cadência, a dispersão ou<br />

a exteriorização da duração real da consciência<br />

(Essai sur les données immédiates <strong>de</strong> Ia conscience,<br />

1889; Évol. créatr, 3 a ed., 1934, pp. 219<br />

ss.). Teses análogas a essas foram e são freqüentemente<br />

repetidas na <strong>filosofia</strong> contemporânea.<br />

c) A terceira alternativa que o problema da<br />

realida<strong>de</strong> do E. <strong>de</strong>ixou aberta é a rejeição do<br />

problema e a afirmação <strong>de</strong> que o E. não é real<br />

nem irreal, embora possa, em alguma das suas<br />

<strong>de</strong>terminações métricas, ser empregado na <strong>de</strong>scrição<br />

da realida<strong>de</strong>. Esse ponto <strong>de</strong> vista come-

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