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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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AUTOCONSCIENCIA 96 AUTOCONSCIENCIA<br />

cimento mediato que o homem tem <strong>de</strong> si como<br />

<strong>de</strong> um ente finito entre os outros.<br />

Nesse sentido, po<strong>de</strong>-se dizer que a história<br />

<strong>de</strong>sse termo começa com Kant, que o usou como<br />

alternativa para o termo consciência (v.). O<br />

próprio Kant resumiu, em uma nota da Antropologia<br />

(§ 4), a sua doutrina a esse respeito. "Se<br />

nós representarmos a ação (espontaneida<strong>de</strong>)<br />

interna pela qual é possível um conceito (um<br />

pensamento), isto é, a reflexão, e a sensibilida<strong>de</strong><br />

(receptivida<strong>de</strong>), pela qual é possível uma<br />

percepção (perceptid) ou uma intuição empírica.,<br />

isto é, a apreensão, providas ambas <strong>de</strong> consciência,<br />

a consciência <strong>de</strong> si mesmo (apperceptio)<br />

po<strong>de</strong>rá ser dividida em consciência da reflexão<br />

e em consciência da apreensão. A primeira é<br />

consciência do intelecto; a segunda, do sentido<br />

interno; aquela é chamada <strong>de</strong> apercepção pura<br />

(e, falsamente, <strong>de</strong> sentido íntimo) e esta é chamada<br />

<strong>de</strong> apercepção empírica. Em psicologia,<br />

indagamo-nos sobre nós mesmos segundo as<br />

representações do nosso sentido interno; em<br />

lógica, segundo aquilo que a consciência intelectual<br />

nos oferece. Assim, o eu nos aparece<br />

duplo (o que po<strong>de</strong> ser contraditório): l s o eu<br />

como sujeito do pensamento (na lógica), ao<br />

qual se refere a apercepção pura (o eu que só<br />

reflete) e do qual nada se po<strong>de</strong> dizer exceto<br />

que é uma representação <strong>de</strong> todo simples; 2- o<br />

eu como objeto da apercepção e, portanto, do<br />

sentido interno, que inclui uma multiplicida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminações que possibilitam a experiência<br />

interna." A A. não é, portanto, a consciência<br />

(empírica <strong>de</strong> si), mas a consciência puramente<br />

lógica que o eu tem <strong>de</strong> si como sujeito <strong>de</strong> pensamento,<br />

na reflexão filosófica. Sobre o eu <strong>de</strong><br />

que se tem consciência na apercepção pura,<br />

Kant falou na primeira edição da Crítica da<br />

Razão Pura como "eu estável e permanente<br />

que constitui o correlato <strong>de</strong> todas as nossas<br />

representações", ao passo que, na segunda edição<br />

da obra, ele se tornou pura função formal,<br />

<strong>de</strong>sprovida <strong>de</strong> realida<strong>de</strong> própria, mas ainda<br />

condição <strong>de</strong> todo conhecimento, aliás, "princípio<br />

supremo do conhecimento" enquanto possibilida<strong>de</strong><br />

da síntese objetiva na qual consiste a<br />

inteligência. Precisamente por sua natureza<br />

funcional ou formal, o eu puro, ou A. transcen<strong>de</strong>ntal,<br />

não é um eu "infinito" e não tem<br />

po<strong>de</strong>r criativo: po<strong>de</strong> or<strong>de</strong>nar ou unificar o<br />

material, mas esse material <strong>de</strong>ve ser-lhe dado<br />

e, portanto, <strong>de</strong>ve ser um material sensível. Fichte<br />

transforma esse conceito funcional kantiano em<br />

conceito substancial: faz <strong>de</strong>le um Eu infinito,<br />

absoluto e criador, consi<strong>de</strong>rando, portanto, a<br />

A. como autoprodução ou autocriação. A A.<br />

toma-se, assim, o princípio não só do conhecimento,<br />

mas da própria realida<strong>de</strong>; e princípio<br />

não no sentido <strong>de</strong> condição, mas <strong>de</strong> força ou<br />

ativida<strong>de</strong> produtiva. Autoproduzindo-se, o Eu<br />

produz, ao mesmo tempo, o não-eu, isto é, o<br />

mundo, o objeto, a natureza. Diz Fichte: "Não<br />

se po<strong>de</strong> pensar absolutamente em nada sem<br />

pensar ao mesmo tempo no próprio Eu como<br />

consciente <strong>de</strong> si mesmo; não se po<strong>de</strong> nunca<br />

abstrair da própria A." (Wissenschaftslehre, 1794,<br />

§ 1, 7). Mas tal A. é, na realida<strong>de</strong>, o princípio<br />

criador do mundo: "O Eu <strong>de</strong> cada um é, ele<br />

próprio, a única Substância suprema", diz Fichte<br />

criticando Spinoza (Ibid., § 3, D 6); "A essência<br />

da <strong>filosofia</strong> crítica consiste no fato <strong>de</strong> que um<br />

Eu absoluto é colocado como absolutamente<br />

incondicionado e não <strong>de</strong>terminável por nada<br />

mais alto".<br />

Essa noção <strong>de</strong> A. torna-se o fundamento do<br />

I<strong>de</strong>alismo romântico. Diz Schelling: "A A. da<br />

qual nós partimos é ato uno e absoluto; e com<br />

esse ato uno é posto não só o próprio Eu com<br />

todas as suas <strong>de</strong>terminações, mas também qualquer<br />

outra coisa que, em geral, é posta no lugar<br />

do Eu... O ato da A. é i<strong>de</strong>al e real ao mesmo<br />

tempo e absolutamente. Graças a ele, o que<br />

foi posto realmente torna-se também real i<strong>de</strong>almente<br />

e o que se põe i<strong>de</strong>almente é posto também<br />

realmente" {System <strong>de</strong>s tmnszen<strong>de</strong>ntalen<br />

I<strong>de</strong>ai, 1800. seção III, advertência). Quanto a<br />

Hegel, já em Propedêutica filosófica (Doutrina<br />

do conceito, § 22), dizia: "Como A. o Eu olha<br />

para si mesmo, e a expressão <strong>de</strong>la na sua pureza<br />

é Eu = Eu, ou: Eu sou Eu"; e na Enciclopédia<br />

(§ 424): "A verda<strong>de</strong> da consciência é a A.,<br />

e esta é o fundamento daquela; <strong>de</strong> modo que,<br />

na existência, a consciência <strong>de</strong> um outro objeto<br />

é A.; eu sei o objeto como meu (ele é minha<br />

representação) e, por isso, sei-me a mim mesmo<br />

nele". Na sua forma mais elevada, a A. é "A.<br />

universal", isto é, razão absoluta. "A A., ou seja,<br />

a certeza <strong>de</strong> que suas <strong>de</strong>terminações são tão<br />

objetivas — <strong>de</strong>terminações da essência das coisas<br />

— quanto seus próprios pensamentos, é a razão;<br />

esta, enquanto tem tal i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, é não só<br />

a substância absoluta, mas também a verda<strong>de</strong><br />

como saber" {Ene, § 439): isto é, a razão como<br />

substância ou realida<strong>de</strong> última do mundo.<br />

A A. como autocriação e, por isso, criação<br />

da realida<strong>de</strong> total, permanece como noção<br />

dominante do I<strong>de</strong>alismo romântico, não só na<br />

sua forma clássica (aqui mencionada), mas tam-

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