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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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INDUÇÃO 559 INDUÇÃO<br />

to infalível do gênero humano ou a uma intuição<br />

imediata, só po<strong>de</strong> ser produto <strong>de</strong> indução.<br />

"Chegamos a essa lei geral" — diz Stuart Mill —<br />

"através da generalização das muitas leis <strong>de</strong> generalida<strong>de</strong><br />

inferior. Nunca teríamos chegado à<br />

noção <strong>de</strong> causação (no significado filosófico do<br />

termo) como condição <strong>de</strong> todos os fenômenos,<br />

se muitos casos <strong>de</strong> causação ou, em outras palavras,<br />

muitas uniformida<strong>de</strong>s parciais <strong>de</strong> sucessão<br />

não se tivessem tornado familiares antes. A<br />

mais óbvia das uniformida<strong>de</strong>s particulares sugere<br />

e torna evi<strong>de</strong>nte a uniformida<strong>de</strong> geral, e a<br />

uniformida<strong>de</strong> geral, uma vez estabelecida, permite-nos<br />

<strong>de</strong>monstrar as outras uniformida<strong>de</strong>s<br />

particulares das quais resulta" (Logic, III, 21,<br />

§ 2). A uniformida<strong>de</strong> da natureza, portanto, é<br />

uma simples I. per enumerationem simplicem.<br />

O círculo vicioso é evi<strong>de</strong>nte, e nele inci<strong>de</strong> qualquer<br />

solução análoga para esse problema.<br />

2 a A segunda solução do problema da I. é<br />

subjetivista ou crítica, encontrando-se no kantismo.<br />

Foi proposta pelo próprio Kant como<br />

resposta à dúvida <strong>de</strong> Hume sobre a possibilida<strong>de</strong><br />

da generalização científica; consiste em<br />

admitir a uniformida<strong>de</strong> da estrutura categoria!<br />

do intelecto e, por isso, da forma geral da natureza<br />

que <strong>de</strong>le <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>. Kant diz: "Toda percepção<br />

possível, portanto tudo aquilo que<br />

po<strong>de</strong> chegar à consciência empírica — isto é,<br />

todos os fenômenos da natureza quanto à sua<br />

unificação —, está sotoposta às categorias, das<br />

quais <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> a natureza, consi<strong>de</strong>rada simplesmente<br />

como natureza em geral, assim como<br />

ao princípio originário <strong>de</strong> sua necessária<br />

conformida<strong>de</strong> a leis (qual natura formaliter<br />

spectata). Mas nem a faculda<strong>de</strong> pura do intelecto<br />

chega a prescrever, apenas mediante categorias,<br />

mais leis além daquelas sobre as quais<br />

repousa uma natureza em geral como regularida<strong>de</strong><br />

dos fenômenos no espaço e no tempo."<br />

Portanto, as leis particulares <strong>de</strong>vem ser extraídas<br />

da experiência (Crít. da R. Pura, § 26). Isso<br />

significa que, em sua conformida<strong>de</strong> às leis, em<br />

sua uniformida<strong>de</strong>, a natureza <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> das categorias,<br />

ou seja, da estrutura uniforme do<br />

intelecto, e que, portanto, a uniformida<strong>de</strong> ou<br />

leis que po<strong>de</strong>m ser encontradas na experiência<br />

estão garantidas pela uniformida<strong>de</strong><br />

da forma comum (intelecto-natureza). Esta<br />

doutrina é simetricamente oposta à da uniformida<strong>de</strong><br />

natural, mas seu significado é o mesmo.<br />

Em Lacheli'er encontra-se uma transcrição<br />

em termos espiritualistas da mesma tese<br />

fundamental (Fundamento da /., 1871): a pos-<br />

sibilida<strong>de</strong> da I. apóia-se na organização finalista<br />

do universo, ou seja, no fato <strong>de</strong> que a or<strong>de</strong>m<br />

da natureza é estabelecida pelo espírito (Fon<strong>de</strong>ment<br />

<strong>de</strong> Vinduction, Paris, 1907, p. 12). A<br />

este tipo <strong>de</strong> solução reduzem-se todas as justificativas<br />

espiritualistas ou i<strong>de</strong>alistas.<br />

3 a A justificação pragmática foi proposta<br />

na <strong>filosofia</strong> contemporânea quando se reconheceu<br />

a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma justificação<br />

teorética, mas não se chegou a negar a<br />

legitimida<strong>de</strong> do problema, ou seja, da procura<br />

<strong>de</strong> justificação. A justificação foi buscada na<br />

interpretação probabilista da I. A mais simples<br />

expressão da regra da I. probabilista talvez seja<br />

a <strong>de</strong> Kneale: "Depois <strong>de</strong> observarmos certo<br />

número <strong>de</strong> coisas a e <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrirmos que a<br />

freqüência das coisas (3 entre elas é f, concluímos<br />

que P (a, p") = / ou seja, que a probabilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> uma coisa a ser p <strong>de</strong>ve ser /" (Probability<br />

and Induction, Oxford, 1949, p. 230).<br />

Expressões mais complicadas que a própria regra<br />

são encontradas em Lewis (Analysis ofKnowledge,<br />

1946, p. 272) e em Reichenbach (Theory<br />

of Probability, 1949, p. 446; cf. Fxperience and<br />

Prediction, Chicago, 1938, pp. 339 ss.). Mas<br />

todos eqüivalem a dizer que, quando <strong>de</strong>terminado<br />

caráter recorre em certa proporção das<br />

amostras examinadas, po<strong>de</strong>-se supor que essa<br />

proporção vale para todos os outros exemplos<br />

do caso, salvo prova em contrário. Quando a<br />

proporção é igual a cem por cento das amostras<br />

examinadas, quando o caráter em questão<br />

ocorre em todas, tem-se a generalização uniforme<br />

ou completa. É o que acontece quando<br />

se afirma que "todos os homens são mortais"<br />

porque o fato <strong>de</strong> ser mortal esteve constantemente<br />

unido ao fato <strong>de</strong> ser homem. Por outro<br />

lado, quando o valor numérico <strong>de</strong>ssa proporção<br />

é tomado como medida da possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> que o caráter em questão reapareça em novo<br />

exemplo, tem-se um juízo <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong><br />

(v.). Obviamente, a generalização completa e o<br />

juízo <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong> são aspectos da generalização<br />

estatística. Em vista disso, a justificação<br />

da I., do ponto <strong>de</strong> vista pragmático, po<strong>de</strong><br />

ser feita asseverando-se: a) que a I. é o único<br />

meio <strong>de</strong> obter previsões; b) que ela é o único<br />

meio suscetível <strong>de</strong> autocorreção.<br />

a) Kneale diz: "A I. primária é uma diretriz<br />

racional não por ser certo que ela leve ao sucesso,<br />

mas porque é a única maneira <strong>de</strong> tentarmos<br />

fazer aquilo <strong>de</strong> que necessitamos: previsões<br />

exatas" (Op. cit., p. 235). Contra esse

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