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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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MEMÓRIA 659 MENTALIDADE<br />

tence a importante modificação que, do modo<br />

<strong>de</strong> atualida<strong>de</strong>, transporta a consciência<br />

para o modo <strong>de</strong> inatualida<strong>de</strong>, e vice-versa.<br />

Num caso, a vivência é consciência explícita <strong>de</strong><br />

seu objeto; em outro, é consciência implícita.<br />

apenas potencial" (I<strong>de</strong>en, I, § 3*5). O pressuposto<br />

é sempre o da total conservação do conteúdo<br />

da consciência: o fenômeno da recordação<br />

6 ligado à passagem do conteúdo do estado<br />

atual para o potencial, ou vice-versa.<br />

B) Pertencem a um segundo grupo as teorias<br />

da M. cujo ponto <strong>de</strong> partida é o fenômeno da<br />

recordação. Hobbes, p. ex.. <strong>de</strong>finiu a M. como<br />

"a sensação <strong>de</strong> já ter sentido" (Decoip., 25, 1),<br />

o que significa <strong>de</strong>fini-la em relação ao ato <strong>de</strong> se<br />

reconhecer, naquilo que se percebe, o que já<br />

se percebeu outra vez. A partir <strong>de</strong>sse ponto <strong>de</strong><br />

vista, Wolff <strong>de</strong>finiu a M. como "faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

reconhecer as idéias reproduzidas e as coisas<br />

por elas representadas" (Psychol. rationalis, § 278):<br />

conceito que também .se encontra em Baumgarten<br />

(Met., § 579). Desse ponto <strong>de</strong> vista, ten<strong>de</strong>-se<br />

algumas vezes a reconhecer o caráter<br />

ativo da M.. ou seja, a função da vonta<strong>de</strong> ou da<br />

escolha <strong>de</strong>liberada ao evocar as recordações.<br />

Loke dizia: "Nessa evocação das idéias <strong>de</strong>positadas<br />

na M., o espírito não é puramente passivo<br />

porque a representação <strong>de</strong>stes quadros adormecidos<br />

ás vezes <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da vonta<strong>de</strong>" (Ensaio,<br />

II, 10, 7). Kant ressaltava igualmente esse caráter<br />

ativo: "A M. difere da simples imaginação reprodutiva<br />

porque, po<strong>de</strong>ndo reproduzir voluntariamente<br />

à representação prece<strong>de</strong>nte, a alma<br />

não está à mercê <strong>de</strong>la" (Antr., 1, § 34). A esse<br />

mesmo grupo <strong>de</strong> doutrinas pertencem: a) as<br />

que interpretam a M. como inteligência; b)<br />

as que interpretam a M. como mecanismo associativo.<br />

a) Hegel interpretou a M. como inteligência<br />

ou pensamento (sempre em seu aspecto <strong>de</strong> recordação),<br />

vendo nela "o modo extrínseco, o<br />

momento unilateral da existência do pensamento".<br />

K nota que a língua alemã confere ã M.<br />

"a elevada posição <strong>de</strong> parentesco imediato com<br />

o pensamento" (Ene, § 464). Segundo Hegel. a<br />

M. é o pensamento exteriorizado, pensamento<br />

que acredita encontrar algo <strong>de</strong> externo, a coisa<br />

que é lembrada ou recordada, mas que na<br />

realida<strong>de</strong> encontra-se a si mesmo, porque a<br />

coisa lembrada ou recordada também é pensamento.<br />

Por isso, Hegel diz que, "como M., o<br />

espírito torna-se, em si mesmo, algo <strong>de</strong> externo,<br />

<strong>de</strong> tal modo que o que é seu aparece como<br />

algo que é encontrado" (Ibíd., § 463). Acjui a M.<br />

é interpretada sobretudo como recordação; é<br />

evi<strong>de</strong>nte o parentesco <strong>de</strong>ssa doutrina com as<br />

espiritualistas ou consciencialistas: a i<strong>de</strong>ntificação<br />

da JV1. com o pensamento tem o mesmo<br />

sentido da unificação da M. com a consciência<br />

ou com sua duração.<br />

b) O conceito <strong>de</strong> M. como mecanismo<br />

associativo foi expresso pela primeira vez por<br />

Spinoza do seguinte modo: "A M. nada mais é<br />

que certa concatenação <strong>de</strong> idéias que implicam<br />

a natureza das coisas que estão fora do corpo<br />

humano; essa concatenação se produz na mente<br />

segundo a or<strong>de</strong>m e a concatenação das afeições<br />

do corpo humanei". Spinoza faz a distinção<br />

entre a concatenação cia M. e a das idéias,<br />

"que ocorre segundo a or<strong>de</strong>m do intelecto,<br />

igual em todos os homens" (/:'/., II, 18, schol.).<br />

Não há dúvida, portanto, cie que Spinoza fazia<br />

alusão a um mecanismo associativo semelhante<br />

ao que mais tar<strong>de</strong> foi teorizado por Hume: "E<br />

evi<strong>de</strong>nte que existe um princípio cie conexão<br />

entre os diversos pensamentos ou idéias cio<br />

espírito e que, ao surgirem na M. ou na imaginação,<br />

apresentam-se sucessivamente com certo<br />

grau <strong>de</strong> método e regularida<strong>de</strong>" (Inq. Cone.<br />

1'n<strong>de</strong>rst., III). Como se sabe, Hume enunciava<br />

três leis <strong>de</strong> associação: semelhança, contigüida<strong>de</strong><br />

e causalida<strong>de</strong>; mas só as duas primeiras<br />

foram empregadas pela psicologia associacionista<br />

para explicar os fenômenos psíquicos (v.<br />

ASSOCIACIONISMO).<br />

Gran<strong>de</strong> parte da psicologia mo<strong>de</strong>rna baseou-se<br />

na hipótese associacionista ao estudar<br />

os fenômenos da M., até que a psicanálise, por<br />

um lado, e a f>estalt, por otitro, mostrassem a<br />

importância dos interesses e cias atitu<strong>de</strong>s volitivas<br />

na recordação, bem como a importância<br />

cie toda a personalida<strong>de</strong> no reconhecimento do<br />

já visto. O estudo experimental da M. confirmou<br />

as palavras <strong>de</strong> Nietzsche: "Fiz isto — dizme<br />

a memória. Não posso ter feito — sustenta<br />

meu orgulho, que é inexorável. Finalmente,<br />

quem ce<strong>de</strong> é a M." (Jenseit von Cíut und Rose,<br />

1886. § 68). Assim, as análises psicológicas mo<strong>de</strong>rnas<br />

continuam girando em torno do fato da<br />

recordação, mais do que em torno da retentiva,<br />

que continua sendo preferida pelas teorias filosóficas<br />

da memória.<br />

MENÇÃO. V. liso.<br />

MENDELISMO. V. GKNÉTICA.<br />

MENTALIDADE (in. Mentality, ir. Mentalité,<br />

ai. Mentalitál; it. Mentalità). 1. Termo<br />

empregado pelos sociólogos para indicar atitu<strong>de</strong>s,<br />

disposições e comportamentos insti-

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