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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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CONHECIMENTO 177 CONHECIMENTO<br />

tivo. Os dois extremos são idênticos no ser<br />

Idéia. Sua unida<strong>de</strong> é, em primeiro lugar, a do<br />

conceito, que num <strong>de</strong>les é somente por si e,<br />

no outro, somente em si; em segundo lugar, a<br />

realida<strong>de</strong> é abstrata num <strong>de</strong>les, ao passo que<br />

no outro está em sua exteriorida<strong>de</strong> completa.<br />

Essa unida<strong>de</strong> coloca-se por meio do conhecer"<br />

(Wissenchft <strong>de</strong>r Logik, III, cap. II; trad. it., p.<br />

282). Assim, conhecer é o processo que unifica<br />

o mundo subjetivo com o mundo objetivo,<br />

ou melhor, que leva à consciência a unida<strong>de</strong><br />

necessária <strong>de</strong> ambos. Todas as formas do<br />

i<strong>de</strong>alismo contemporâneo atêm-se a essa doutrina.<br />

Croce a introduz chamando o conceito<br />

<strong>de</strong> "concreto": e por esse caráter <strong>de</strong>ver-se-ia<br />

excluir que ele seja "universal e vazio", "universal<br />

e inexistente" e admitir que ele compreen<strong>de</strong><br />

em si "o ato lógico universal" e o "pensamento<br />

da realida<strong>de</strong>", que é a própria realida<strong>de</strong><br />

(Lógica, 4 ã ed., 1920, p. 29). Gentile afirmava:<br />

"Conhecer é i<strong>de</strong>ntificar, superar a alterida<strong>de</strong><br />

enquanto tal" (Teoria generale <strong>de</strong>llo spirito, 2,<br />

5 4). Por sua vez Bradley, mais criticamente,<br />

consi<strong>de</strong>rava essa i<strong>de</strong>ntificação como um i<strong>de</strong>allimite<br />

irrealizável em nós, mas realizado na<br />

Consciência absoluta, na qual C. e ser, verda<strong>de</strong><br />

e realida<strong>de</strong>, coinci<strong>de</strong>m (Appearance and Reality,<br />

p. 181).<br />

b) O espiritualismo mo<strong>de</strong>rno, em todas as<br />

suas manifestações, consi<strong>de</strong>ra o conhecer como<br />

uma relação interna da consciência consigo<br />

mesma. Essa interpretação garante a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

do conhecer com o objeto, já que <strong>de</strong>sse ponto<br />

<strong>de</strong> vista o objeto não é senão a própria consciência<br />

ou, pelo menos, um produto seu ou<br />

uma manifestação sua. Schopenhauer assim exprimia<br />

essa doutrina: "Ninguém nunca po<strong>de</strong><br />

sair <strong>de</strong> si para i<strong>de</strong>ntificar-se imediatamente com<br />

coisas diferentes <strong>de</strong> si: tudo aquilo <strong>de</strong> que<br />

alguém tem C. seguro, portanto imediato, encontra-se<br />

<strong>de</strong>ntro da sua consciência" (Die Welt,<br />

II, cap. I). Consciência, sentido íntimo, introspecção,<br />

intuição são os termos que, a partir do<br />

Romantismo, a <strong>filosofia</strong> mo<strong>de</strong>rna emprega para<br />

indicar o C. caracterizado pela i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> com<br />

seu objeto, por isso privilegiado na sua certeza.<br />

A consi<strong>de</strong>ração básica é que, se o sujeito não<br />

po<strong>de</strong> conhecer o que é diferente <strong>de</strong>le, o único<br />

C. verda<strong>de</strong>iro e originário é o que ele tem <strong>de</strong> si<br />

mesmo. Com base nisso, Maine <strong>de</strong> Biran via<br />

no "sentido íntimo" o único C. possível e interpretava<br />

os seus testemunhos como verda<strong>de</strong>s<br />

metafísicas (Essais sur les fon<strong>de</strong>ments <strong>de</strong> Ia<br />

psychologie, 1812). Outras vezes, a consciência,<br />

também chamada <strong>de</strong> intuição, é interpretada<br />

como a revelação que Deus faz ao homem <strong>de</strong><br />

um atributo fundamental seu (p. ex., do ser,<br />

como afirma ROSMINI, NUOVO saggio, § 473) ou<br />

do seu próprio processo criativo, como faz<br />

GIOBERTI (Intr. alio studio <strong>de</strong>lia fil., II, p. 183).<br />

De modo análogo, a intuição <strong>de</strong> que fala<br />

Bergson "como visão direta do espírito pelo espírito"<br />

(La pensée et le mouvant, p. 37) é um<br />

procedimento privilegiado <strong>de</strong> C, no qual o termo<br />

objetivo é idêntico a subjetivo. E quando<br />

Husserl quis esclarecer o modo <strong>de</strong> ser privilegiado<br />

da consciência chamou <strong>de</strong> "percepção<br />

imanente" a percepção que a consciência tem<br />

das próprias experiências vividas: porque o<br />

objeto <strong>de</strong>la pertence à mesma corrente <strong>de</strong><br />

consciência a que pertence a percepção ( L<strong>de</strong>en,<br />

I, § 38). Com base nisso, Husserl consi<strong>de</strong>ra a<br />

percepção imanente, isto é, a consciência<br />

como absoluta e necessária: nela "não há lugar<br />

para discordância, aparência, possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

ser outra coisa. Ela é uma esfera <strong>de</strong> posição<br />

absoluta" (Lbid., § 46). A exemplificaçâo dada<br />

até aqui po<strong>de</strong> bastar para esse ponto <strong>de</strong> vista,<br />

que tem gran<strong>de</strong> difusão na <strong>filosofia</strong> contemporânea<br />

e, apesar da varieda<strong>de</strong> das suas expressões,<br />

é muito uniforme.<br />

c) Paradoxalmente o positivismo lógico<br />

transportou para a linguagem, em que vê a<br />

operação cognitiva propriamente dita, a doutrina<br />

do caráter i<strong>de</strong>ntificador <strong>de</strong>ssa operação.<br />

Wittgenstein afirma que "a proposição po<strong>de</strong> ser<br />

verda<strong>de</strong>ira ou falsa enquanto é uma imagem<br />

(Bild) da realida<strong>de</strong>" (Tractatus, 4.06). E prova<br />

que a proposição é uma imagem da realida<strong>de</strong><br />

do seguinte modo: "Só conhecerei a situação<br />

por ela representada se compreen<strong>de</strong>r a proposição.<br />

E compreendo a proposição sem que o<br />

seu sentido me seja explicado" (Lbid., 4.021).<br />

À primeira vista, acrescenta ele, "não parece<br />

que a proposição, p. ex. do modo como está<br />

impressa no papel, seja uma imagem da realida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> que trata. Mas, à primeira vista, nem a<br />

notação musical parece ser imagem da música,<br />

assim como nossa escrita fonética (com letras)<br />

não parece ser a imagem <strong>de</strong> nossa língua falada.<br />

No entanto, esses símbolos <strong>de</strong>monstram<br />

ser, até no sentido comum do termo, imagens<br />

do que representam" (Lbid., 4.011). A insistência<br />

na noção da imagem indica claramente que<br />

Wittgenstein compartilha a velha interpretação<br />

do conhecer como operação <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação. E<br />

<strong>de</strong> fato diz: "Deve haver algo <strong>de</strong> idêntico na<br />

imagem e no objeto representado para que

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