22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

CONHECIMENTO 179 CONHECIMENTO<br />

presente: ou presente, por assim dizer, em pessoa,<br />

ou presente em um signo que o torne<br />

rastreável, <strong>de</strong>scritível ou previsível. Essa interpretação<br />

não se funda em nenhum pressuposto <strong>de</strong><br />

caráter assimilador ou i<strong>de</strong>ntificador: para<br />

ela, os procedimentos do conhecer não visam<br />

converter-se no próprio objeto do conhecer,<br />

mas a tornar presente esse objeto como tal ou a<br />

estabelecer as condições que possibilitam sua<br />

presença, isto é, permitem prevê-la. A presença<br />

do objeto ou a predição <strong>de</strong>ssa presença constitui<br />

a função efetiva do C, segundo essa interpretação.<br />

É nos estóicos que essa interpretação aparece<br />

pela primeira vez. Eles chamavam <strong>de</strong> evi<strong>de</strong>ntes<br />

as coisas que "vêm por si mesmas ao<br />

nosso C." como p. ex. ser dia; e chamavam <strong>de</strong><br />

"obscuras" as coisas que costumam escapar ao<br />

C. humano. Entre estas últimas, distinguiram<br />

as obscuras por natureza, que nunca se nos<br />

tornam evi<strong>de</strong>ntes, e as obscuras momentaneamente,<br />

mas evi<strong>de</strong>ntes por natureza (p. ex., a<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Atenas para quem mora nela).<br />

Estas duas últimas espécies <strong>de</strong> coisas são compreendidas<br />

por meio <strong>de</strong> signos ou sinais: indicativos<br />

para as coisas obscuras por natureza<br />

(como, p. ex., o suor é assumido como sinal<br />

dos poros invisíveis) e rememoratívos para as<br />

coisas evi<strong>de</strong>ntes por natureza, mas momentaneamente<br />

obscuras (assim como a fumaça é<br />

um sinal <strong>de</strong> fogo) (SEXTO EMPÍRICO, Adv. dogm.,<br />

II, 141; Pirr. hyp., II, 97-102). São reconhecíveis,<br />

nessa empostação, duas teses fundamentais:<br />

I a o C. evi<strong>de</strong>nte consiste na presença da<br />

coisa, pela qual a coisa "se manifesta por si" ou<br />

"se compreen<strong>de</strong> por si", isto é, compreen<strong>de</strong>-se<br />

como coisa, portanto como diferente daquele<br />

que a compreen<strong>de</strong>; 2 a o C. não evi<strong>de</strong>nte ocorre<br />

por meio <strong>de</strong> signos ou sinais que remetem à<br />

própria coisa sem que tenham qualquer i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

ou semelhança com ela.<br />

Essa doutrina dos estóicos ficou esquecida<br />

durante muitos séculos, negligenciada, como<br />

possibilida<strong>de</strong> pela história da <strong>filosofia</strong>. Reaparece<br />

somente na Escolástica do séc. XIV, com<br />

os pensadores que criticam a doutrina da species<br />

como intermediária do conhecimento. A<br />

specíes, como se viu, é uma tese típica da doutrina<br />

da assimilação: na verda<strong>de</strong> é, ao mesmo<br />

tempo, ato do C. e o ato do objeto (como forma<br />

ou substância <strong>de</strong>ste último). Mas Duns Scot distinguiria<br />

um C. "que abstrai da existência atual<br />

da coisa", dando-lhe o nome <strong>de</strong> "abstrativo", e<br />

um "C. da coisa enquanto existente e presente<br />

em sua existência atual", dando-lhe o nome <strong>de</strong><br />

intuitivo (Op. Ox., II, d. 3, q. 9, n. 6). Ora, o<br />

C. intuitivo (que, por um lado, é conhecimento<br />

sensível e, por outro, é conhecimento intelectual,<br />

que tem por objeto a substância ou natureza<br />

comum, p. ex., a natureza humana) não<br />

tem necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espécies, porque nele está<br />

diretamente presente a coisa em pessoa. Só o<br />

C. abstrativo, isto é, o C. intelectual do universal,<br />

tem necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espécies (Ibid., I, d. 3,<br />

q. 7, n. 2). É a essa doutrina que a Escolástica<br />

do séc. XVI faz referência. Durand <strong>de</strong> St.-<br />

Pourçains afirma que a espécie é inútil porque<br />

o próprio objeto está presente ao sentido, e,<br />

através do sentido, também ao intelecto (In<br />

Sent., II, d. 3, q. 6, n. 10); portanto, o C. universal<br />

é somente C. confuso, pois quem tem o C.<br />

universal — p. ex., da rosa — conhece confusamente<br />

o que é intuído distintamente por<br />

quem vê a rosa que lhe está presente (Ibid., IV,<br />

d. 49, q. 2, 8). Para Pedro Auréolo, o objeto do<br />

C. é a própria coisa externa que, graças ao<br />

intelecto, assume um ser intencional ou objetivo<br />

que não é diferente da realida<strong>de</strong> individual da<br />

coisa (In Sent., I, d. 9, a. 1). Ockham, por sua<br />

vez, transforma a teoria scotista do C. intuitivo<br />

em teoria da experiência e afirma a presença<br />

imediata da coisa ao C. intuitivo. "Em nenhum<br />

C. intuitivo, sensível ou intelectivo", diz ele, "a<br />

coisa se constitui em ser intermediário entre a<br />

própria coisa e o ato <strong>de</strong> conhecer; mas a coisa<br />

mesma, imediatamente e sem intermediário entre<br />

ela e o ato, é vista e apreendida" (In Sent, I,<br />

d. 27. q. 3, I). O C. intuitivo perfeito, que tem<br />

por objeto uma realida<strong>de</strong> atual ou presente, é<br />

a experiência (Ibid., II, q. 15, H); o imperfeito,<br />

que concerne a um objeto passado, <strong>de</strong>riva<br />

sempre <strong>de</strong> uma experiência (Ibid., IV, q. 12,<br />

Q). Por sua vez, o C. abstrativo, que prescin<strong>de</strong><br />

da realida<strong>de</strong> ou da irrealida<strong>de</strong> do objeto,<br />

<strong>de</strong>riva do intuitivo e é uma intentioou signum.<br />

Ockham reproduz assim a interpretação dos<br />

estóicos: quando a realida<strong>de</strong> não está presente<br />

ao C. "em pessoa", anuncia-se ou manifesta-se<br />

no signo ou sinal. A valida<strong>de</strong> do signo conceituai,<br />

que, ao contrário do lingüístico, não é<br />

arbitrário ou convencional, mas natural, provém<br />

do fato <strong>de</strong> ser produzido naturalmente,<br />

isto é, causalmente, pelo próprio objeto, <strong>de</strong> tal<br />

modo que sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> representar o<br />

objeto nada mais é que essa conexão causai<br />

com ele (Quodl, IV, q. 3). Para ilustrar a função<br />

lógica do signo, ou sinal, Ockham utiliza o conceito<br />

da supositio, que fora elaborado pela lógi-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!