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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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CONVENÇÃO 207 CONVENCIONA1ISMO<br />

CONVENÇÃO. V. CONVENCIONALISMO.<br />

CONVENCIONALISMO (in. Conventionalísni;<br />

fr. Conventionalisme, ai. Konventionalismus;<br />

it. Convenzionalismó). Qualquer doutrina<br />

segundo a qual a verda<strong>de</strong> <strong>de</strong> algumas proposições<br />

válidas em um ou mais campos se <strong>de</strong>va<br />

ao acordo comum ou ao entendimento (tácito<br />

ou expresso) daqueles que utilizam essas proposições.<br />

A antítese entre o que é válido "por<br />

convenção" e o que é válido "por natureza" já<br />

era familiar para os gregos. Demócrito diz: "O<br />

doce, o amargo, o quente, o frio, a cor são tais<br />

por convenção; só os átomos e o vácuo são tais em<br />

verda<strong>de</strong>" (Fr. 125, Diels). Ò seu oposto, aplicado<br />

ao campo político, foi tema habitual dos<br />

sofistas, sobretudo da última geração, que encontram<br />

eco nos Diálogos <strong>de</strong> Platão. Pólos, em<br />

Górgias, Trasímaco, na República, sustentam<br />

que as leis humanas são pura convenção, cujo<br />

objetivo é impedir que os mais fortes tirem proveito<br />

do direito natural que lhes dá a força. É<br />

da natureza que o mais forte domine o mais<br />

fraco; e isso acontece <strong>de</strong> fato quando um homem<br />

dotado <strong>de</strong> natureza idônea rompe as ca<strong>de</strong>ias<br />

da convenção e <strong>de</strong> servo se torna senhor<br />

(Górg, 484 A). Para os céticos, a lei moral e jurídica<br />

eram convenção (SEXTO EMPÍRICO, Pirr.<br />

hyp., I, 146). O contratualismo dos sécs. XVII e<br />

XVIII tornou familiar a idéia <strong>de</strong> que o Estado e,<br />

em geral, a comunida<strong>de</strong> civil, bem como as<br />

normas e os valores que <strong>de</strong>la se originam, são<br />

produtos <strong>de</strong> um contrato ou convenção originária.<br />

Aludindo a essa doutrina. Hume notava<br />

que a convenção, nesse sentido, <strong>de</strong>ve não ser<br />

entendida como promessa formal, mas como<br />

"um sentimento <strong>de</strong> interesse comum que cada<br />

um encontra em seu coração" (Inq. Cone.<br />

Morais, Ap. 3); e acrescentava: "Assim, dois homens<br />

movem as velas <strong>de</strong> um barco em comum<br />

acordo para o interesse comum, sem qualquer<br />

promessa ou contrato; assim, o ouro e a prata<br />

foram adotados como medida para as trocas;<br />

assim, o discurso, as palavras, a língua estão fixados<br />

pelas convenções e pelo acordo humano"<br />

(Ibid., Ap. 3). Com tais palavras, talvez<br />

pela primeira vez, o conceito <strong>de</strong> convenção<br />

era utilizado fora do campo* político.<br />

Mas a extensão do C. para o domínio cognitivo<br />

só ocorre na segunda meta<strong>de</strong> do séc.<br />

XIX, quando, com a <strong>de</strong>scoberta das geometrias<br />

não euclidianas, o caráter <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nte<br />

dos axiomas geométricos foi negado. Diz Poincaré:<br />

"Os axiomas geométricos não são juízos<br />

sintéticos apriori nem fatos experimentais; são<br />

convenções. Nossa escolha entre todas as convenções<br />

possíveis é guiada por fatos experimentais,<br />

mas continua livre e é limitada apenas<br />

pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> evitar a contradição" (La<br />

science et Vhypothèse, II, cap. III). O mesmo<br />

Poincaré recusava-se, porém, a atribuir caráter<br />

convencional à ciência toda e contestou Le<br />

Roy, no que se refere a essa extensão do C.<br />

(La valeur <strong>de</strong> Ia science, 1905).<br />

Contudo, o <strong>de</strong>senvolvimento posterior da<br />

matemática permitiu esten<strong>de</strong>r o ponto <strong>de</strong> vista<br />

<strong>de</strong> Poincaré a toda essa disciplina. A obra <strong>de</strong><br />

Hilbert induzia a ver na matemática sistemas<br />

hipotético-<strong>de</strong>dutivos nos quais se <strong>de</strong>duzem<br />

conseqüências implícitas em certas proposições<br />

originárias ou axiomas, segundo regras<br />

que os próprios axiomas <strong>de</strong>finem, implícita ou<br />

explicitamente. A tese fundamental do C. mo<strong>de</strong>rno<br />

podia ser assim formulada: as proposições<br />

originárias, <strong>de</strong> que parte qualquer sistema<br />

<strong>de</strong>dutivo, são convenções. O que quer dizer:<br />

1 Q não po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>radas verda<strong>de</strong>iras nem<br />

falsas; 2 a po<strong>de</strong>m ser escolhidas com base em<br />

<strong>de</strong>terminados critérios que <strong>de</strong>ixam, entretanto,<br />

certa liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolha. Graças ao Círculo<br />

<strong>de</strong> Viena (v.) e do empirismo lógico, o C.<br />

assumia a forma que tem, atualmente, <strong>de</strong> tese<br />

geral sobre a estrutura lógica da linguagem. A<br />

Visão lógica do mundo <strong>de</strong> Rudolf Carnap (1928)<br />

constitui a primeira exposição <strong>de</strong>ssa tese, que,<br />

no entanto, fora preparada pelo Tractatus<br />

logico-philosophicus <strong>de</strong> Wittgenstein. "A lógica",<br />

diz Carnap, "incluindo-se nela a matemática,<br />

consiste em estipulações convencionadas<br />

sobre o uso <strong>de</strong> signos e tautologias que se baseiam<br />

nessas convenções" (Logische Aufbau<br />

<strong>de</strong>r Welt, § 107). A essa tese Carnap <strong>de</strong>u <strong>de</strong>pois<br />

o nome <strong>de</strong> "princípio <strong>de</strong> tolerância das sintaxes",<br />

porque se trata <strong>de</strong> um princípio que, ao<br />

mesmo tempo em que torna inoperantes todas<br />

as proibições, aconselha a estabelecer distinções<br />

convencionais. "Em lógica", diz ele, "não<br />

há moral. Cada um po<strong>de</strong> construir como quiser<br />

a sua lógica, isto é, a sua forma <strong>de</strong> linguagem.<br />

Se quiser discutir conosco, <strong>de</strong>verá apenas indicar<br />

como quer fazê-lo, dar <strong>de</strong>terminações sintáticas<br />

em vez <strong>de</strong> argumentos filosóficos" (Logische<br />

Syntax <strong>de</strong>r Spracbe, 1934, § 17). Hoje,<br />

po<strong>de</strong>-se dizer que essa tese é amplamente<br />

aceita, mesmo fora do empirismo lógico. A segunda<br />

obra <strong>de</strong> Wittgenstein, Investigações filosóficas<br />

(1953)', levou isso ao extremo, afirmando<br />

que qualquer linguagem é uma espécie <strong>de</strong><br />

"jogo" que parte <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados pressupostos

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