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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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FILOSOFIA 454 FILOSOFIA<br />

ção <strong>de</strong> si mesmo. Sempre que uma <strong>filosofia</strong><br />

pressupõe que a valida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus resultados<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> exclusivamente <strong>de</strong> sua própria organização<br />

interna, po<strong>de</strong>ndo, pois, ser reconhecida<br />

e estabelecida <strong>de</strong> uma vez por todas, sem<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que esses resultados sejam postos<br />

à prova e confirmados por técnicas ou procedimentos<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>la, seu método<br />

po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado sintético. Com efeito,<br />

neste caso, seu modo <strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r eqüivale<br />

à criação ou composição ex novo <strong>de</strong> seu objeto,<br />

<strong>de</strong> forma que não exige confirmações nem<br />

teme <strong>de</strong>smentidos. A F. <strong>de</strong> Hegel constitui a<br />

encarnação mais pura <strong>de</strong>sse tipo. Quando<br />

Hegel diz: "A F. não tem a vantagem <strong>de</strong> que gozam<br />

as outras ciências, <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r pressupor que<br />

seus objetos são dados imediatamente pela representação<br />

e (<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r pressupor) como já<br />

admitido seu método <strong>de</strong> conhecer no ponto<br />

<strong>de</strong> partida e no procedimento seguinte" (Ene,<br />

§ 1), está afirmando precisamente a exigência <strong>de</strong><br />

que a F. construa seu objeto e seu método por si<br />

mesma e inteiramente. Mas, produzindo por<br />

si mesma tanto o objeto quanto o método, ela<br />

não tem <strong>de</strong> prestar contas <strong>de</strong> seus resultados,<br />

quaisquer que sejam, a outras ciências ou a outros<br />

pontos <strong>de</strong> vista eventuais. Hegel insiste no caráter<br />

absolutamente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte ou incondicionado<br />

<strong>de</strong> seu método. "O método", diz ele,<br />

por exemplo, "assim como o conceito na ciência,<br />

<strong>de</strong>senvolve-se por si mesmo e é apenas<br />

uma progressão imanente e uma produção <strong>de</strong><br />

suas <strong>de</strong>terminações" (Fil. do dir., § 31). E ainda:<br />

"A mais elevada dialética do conceito é produzir<br />

e enten<strong>de</strong>r a <strong>de</strong>terminação não só como limite<br />

ou posição, mas haurindo <strong>de</strong>la conteúdo e<br />

resultado positivos, pois unicamente com isso<br />

ela é <strong>de</strong>senvolvimento e progresso imanente.<br />

Essa dialética não é um fazer externo do pensamento<br />

objetivo, mas a própria alma do conteúdo,<br />

que faz brotar seus ramos e seus frutos organicamente"<br />

(Jbid., § 31). A diferença entre<br />

esse método produtor, ou melhor, criador <strong>de</strong><br />

seu objeto e o método analítico, que Hegel<br />

i<strong>de</strong>ntifica nas ciências <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> Descartes, é<br />

expressa por ele da seguinte maneira: "O método<br />

iniciado por Descartes rejeita todos os métodos<br />

interessados em conhecer aquilo que, por<br />

natureza, é infinito; entrega-se, portanto, ao <strong>de</strong>senfreado<br />

arbítrio das imaginações e asserções,<br />

à presunção <strong>de</strong> moralida<strong>de</strong>, ao orgulho <strong>de</strong> sentimentos<br />

ou ao excesso <strong>de</strong> opiniões e raciocínios,<br />

veementemente assestados contra a F. e os<br />

filosofemas" (Ene, § 77).<br />

Essa concepção atribui ao procedimento filosófico<br />

a produção <strong>de</strong> seu objeto, tomando<br />

como objeto o infinito, o Absoluto ou Deus,<br />

que resolve ou anula em si todos os fatos ou<br />

todas as coisas finitas. Antes <strong>de</strong> encontrar em<br />

Hegel sua forma típica, essa concepção havia<br />

sido exposta por Fichte como exigência <strong>de</strong> que<br />

a F., como doutrina da ciência, confira forma<br />

sistemática não só a si mesma, mas também a<br />

todas as outras ciências possíveis e garanta<br />

para todas a valida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa forma (Über <strong>de</strong>n<br />

Begriff<strong>de</strong>r Wissenschaftslebre [Sobre o conceito<br />

da teoria da ciência], 1794, § 1). Com efeito,<br />

Fichte consi<strong>de</strong>rava que, juntamente com a forma,<br />

a doutrina da ciência <strong>de</strong>veria produzir também<br />

o conteúdo e que o conteúdo da doutrina<br />

da ciência <strong>de</strong>veria encerrar qualquer possível<br />

conteúdo, que seria portanto "o conteúdo absoluto"<br />

(Jbid., § 1). Retroce<strong>de</strong>ndo um pouco<br />

mais, vemos que a concepção do método sintético<br />

po<strong>de</strong> ser encontrada em Spinoza, para<br />

quem o procedimento filosófico (que <strong>de</strong>nomina<br />

conhecimento intuitivo, terceiro gênero <strong>de</strong><br />

conhecimento ou amor intelectual a Deus) é o<br />

que tem por objeto a necessida<strong>de</strong> com que<br />

todas as coisas resultam da natureza divina. O<br />

amor intelectual a Deus é o mesmo amor com<br />

que Deus se ama a si mesmo (Et., V, 36) e isso<br />

significa que o conhecimento da necessida<strong>de</strong><br />

com que as coisas provêm <strong>de</strong> Deus é o conhecimento<br />

mesmo que Deus tem <strong>de</strong> si. Desse<br />

ponto <strong>de</strong> vista, o procedimento matemático da<br />

Ética assume importância fundamental na <strong>filosofia</strong><br />

<strong>de</strong> Spinoza: não é um artifício expositivo,<br />

mas a a<strong>de</strong>quação do método da F. ao procedimento<br />

necessário com que as coisas provêm<br />

<strong>de</strong> Deus. Assim consi<strong>de</strong>rado, o método sintético<br />

revela-se em sua característica mais evi<strong>de</strong>nte:<br />

a pretensão <strong>de</strong> valer como uma vista d'olhos<br />

divina sobre o mundo, como o conhecimento<br />

que Deus tem <strong>de</strong> si e dos seus efeitos criados.<br />

E fácil perceber, então, por que essa pretensão<br />

foi tão freqüente em F. Aristóteles dizia: "Somente<br />

esta ciência é divina, e em sentido duplo:<br />

porque própria <strong>de</strong> Deus e porque concernente<br />

ao divino. Só a ela couberam esses<br />

dois privilégios; Deus aparece como a causa e<br />

o princípio <strong>de</strong> todas as coisas e só uma ciência<br />

semelhante, ou sobretudo ela, po<strong>de</strong> ser própria<br />

<strong>de</strong> Deus" (Met., I, 2, 983 a 5). Aristóteles chamava<br />

<strong>de</strong> teologia a F. primeira. Verda<strong>de</strong> é que<br />

a F. primeira é tal por sua universalida<strong>de</strong> e<br />

que ela é universal somente na medida em<br />

que é ciência do ser enquanto ser (Ibid., VI, I,

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