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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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CLAREZA e DISTINÇÃO 144 CLASSE 1<br />

um sistema <strong>de</strong> valores (como po<strong>de</strong>riam ser os<br />

da C. cristã ou oci<strong>de</strong>ntal e da C. islâmica, etc).<br />

É preciso, então, em primeiro lugar, não per<strong>de</strong>r<br />

<strong>de</strong> vista a eficiência das armas que uma C. põe<br />

à disposição da cultura a que pertence, em<br />

vista da sua conservação e do seu progresso. E<br />

é claro que, em face das mudanças incessantes<br />

nas condições que uma cultura <strong>de</strong>ve enfrentar<br />

e em face da imprevisibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas mudanças,<br />

as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sucesso dos instrumentos<br />

técnico-simbólicos, que constituem <strong>de</strong>terminada<br />

civilização ou uma <strong>de</strong> suas fases, não<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da configuração particular que assumiram<br />

nessa fase (ainda que essa configuração<br />

tenha permitido gran<strong>de</strong> êxito), mas sim <strong>de</strong> sua<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> autocorreção, isto é, da sua capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> adaptação a circunstâncias sempre<br />

novas e variáveis. Isso significa que as possibilida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> sucesso <strong>de</strong> tais instrumentos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m<br />

essencialmente das regras metodológicas<br />

que prescrevem e dirigem sua adaptação a circunstâncias<br />

ou a fatos diversos e díspares, permitindo,<br />

cada vez, estruturá-los <strong>de</strong> modo oportuno<br />

em vista <strong>de</strong> tais circunstâncias ou fatos, <strong>de</strong><br />

tal forma que sua eficácia permaneça e aumente.<br />

Desse ponto <strong>de</strong> vista, a presença ativa<br />

e atuante, em todos os campos, da metodologia<br />

da pesquisa científica — no sentido mais lato,<br />

que inclui a consciência das limitações ou das<br />

insuficiências <strong>de</strong>ssa metodologia em cada fase<br />

histórica — é o índice objetivo que me<strong>de</strong> o<br />

grau <strong>de</strong> C, isto é, o po<strong>de</strong>r do arsenal <strong>de</strong> que<br />

uma cultura dispõe para a sua própria conservação<br />

e o seu progresso (v. CULTURA).<br />

CLAREZA e DISTINÇÃO (in. Clearness<br />

and distinctness; fr. Clartê et distinction; ai.<br />

Klarheit und Deutlichkeit; it. Chiarezza e distinzione).<br />

Os dois graus da evidência, no sentido<br />

subjetivo em que foi entendida a partir <strong>de</strong><br />

Descartes. Diz Descartes: "Chamo <strong>de</strong> clara a<br />

percepção presente e manifesta ao espírito <strong>de</strong><br />

quem lhe presta atenção, assim como dizemos<br />

que são claras as coisas que temos diante do<br />

olho que as olha". Chama-se, porém, distinta a<br />

percepção que, "sendo clara, é tão <strong>de</strong>sligada e<br />

separada <strong>de</strong> todas as outras que não contém<br />

absolutamente em si nada além do que é claro"<br />

(Princ. phil, I, 45). Essa distinção cartesiana<br />

não é muito precisa, ao menos no que se refere<br />

ao conceito <strong>de</strong> distinção; Locke, que a reproduz,<br />

não a torna mais precisa (Ensaio, II, 29,<br />

§ 4). Mas Leibniz tornou-a mais precisa, ao consi<strong>de</strong>rar<br />

clara a noção que permite discernir a<br />

coisa representada e obscura a que não o<br />

permite, como quando nos lembramos <strong>de</strong> uma<br />

flor ou <strong>de</strong> um animal que vimos, mas não o suficiente<br />

para distingui-lo dos outros e para<br />

reconhecê-los. A distinção é um grau muito<br />

superior <strong>de</strong> evidência e, além do mais, um grau<br />

que pertence especificamente à evidência racional.<br />

Com efeito, uma noção é confusa quando<br />

não permite que se distingam suas notas<br />

constitutivas; p. ex., os odores, os sabores, as<br />

cores, embora possam ser claramente reconhecidos,<br />

não po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>scritos e <strong>de</strong>finidos com<br />

base em seus traços constitutivos; tanto é verda<strong>de</strong><br />

que não po<strong>de</strong>mos explicar o que é uma<br />

cor a um cego. Ao contrário, as noções distintas<br />

são aquelas para cujos traços po<strong>de</strong>mos ter a<br />

<strong>de</strong>finição nominal, isto é, a enumeração das<br />

suas notas suficientes. Assim, o conhecimento<br />

que um químico tem do ouro é distinto. O<br />

conhecimento distinto é in<strong>de</strong>finível só quando<br />

vem antes, ou seja, não é <strong>de</strong>rivável dos outros<br />

(Op., ed. Erdmann, p. 79). A distinção assim<br />

estabelecida por Leibniz é muito importante<br />

porque é a própria distinção entre o conhecimento<br />

sensível e o conhecimento racional. O<br />

conhecimento sensível po<strong>de</strong> chegar à C, mas é<br />

sempre confuso; o conhecimento racional é o<br />

conhecimento distinto. A <strong>filosofia</strong> alemã, <strong>de</strong><br />

Leibniz a Kant, conservou essa distinção e o<br />

próprio Kant a aceita embora não a julgue suficiente<br />

para estabelecer a diferença entre o conhecimento<br />

sensível e o conhecimento racional.<br />

Diz ele: "A consciência das próprias<br />

representações, quando basta para diferenciar<br />

um objeto dos outros, chama-se clareza. Aquela<br />

pela qual se esclarece a composição das<br />

representações chama-se distinção. Só esta<br />

última po<strong>de</strong> fazer que uma soma <strong>de</strong> representações<br />

se torne um conhecimento no qual<br />

seja pensada a or<strong>de</strong>m da multiplicida<strong>de</strong>" (Antr.,<br />

I, § 6).<br />

Essa doutrina da diferença entre C. e distinção<br />

como graus da evidência não conservou a<br />

mesma importância na <strong>filosofia</strong> contemporânea,<br />

que retornou ao antigo conceito objetivista<br />

da evidência. Todavia Husserl ainda utiliza o<br />

conceito <strong>de</strong> C. para <strong>de</strong>finir a consciência à qual<br />

o objeto é dado "puramente em si mesmo, exatamente<br />

como é em si mesmo... No caso da<br />

plena obscurida<strong>de</strong>, pólo oposto da plena C,<br />

nada chegou a ser dado, e a consciência é obscura,<br />

não mais vi<strong>de</strong>nte nem oferente em sentido<br />

próprio" (I<strong>de</strong>en, I, § 67).<br />

CLASSE 1 (in. Class; fr. Classe, ai. Klasse, it.<br />

Classe). Em sentido sociológico, correspon<strong>de</strong>

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