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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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HISTORIA 503 HISTORIA<br />

logia, mas o sentido em que Hei<strong>de</strong>gger enten<strong>de</strong>u<br />

essa interpretação (Sein und Zeít, § 73),<br />

não parece puramente tautológico. Quando se<br />

diz: "Isto pertence à H.", enten<strong>de</strong>-se que pertence<br />

ao passado, a um passado que tem pouca<br />

eficácia sobre o presente. Por outro lado,<br />

quando se diz: "Não po<strong>de</strong>mos subtrair-nos à<br />

H.", enten<strong>de</strong>-se ainda a H. como passado, mas<br />

como um passado que age inevitavelmente sobre<br />

o presente. Assim também, dizer que "algo<br />

tem H." significa afirmar que tem passado e<br />

que é fruto <strong>de</strong>sse passado. Nestas e em semelhantes<br />

expressões, o significado <strong>de</strong>sse termo<br />

permanece estritamente genérico: remete a<br />

uma dimensão do tempo e às relações que po<strong>de</strong>m<br />

ser estabelecidas entre ela e as outras dimensões.<br />

2 S Em segundo lugar, a H. po<strong>de</strong> ser entendida<br />

como tradição, em que crenças e técnicas<br />

são transmitidas e conservadas através do tempo,<br />

seja tal legado verificável pela historiografia,<br />

seja consi<strong>de</strong>rado como "evi<strong>de</strong>nte", mesmo<br />

permanecendo obscuro e não verificável.<br />

Ao conceito <strong>de</strong> tradição po<strong>de</strong> vincular-se o<br />

conceito <strong>de</strong> Hei<strong>de</strong>gger sobre a historicida<strong>de</strong><br />

autêntica, que é a escolha, para o futuro, das<br />

possibilida<strong>de</strong>s que já foram, sendo, pois, a<br />

transmissão <strong>de</strong> tais possibilida<strong>de</strong>s da existência<br />

para si mesma, uma repetição <strong>de</strong>cidida, que<br />

Hei<strong>de</strong>gger chama também <strong>de</strong> <strong>de</strong>stino. "A <strong>de</strong>cisão<br />

constitui a fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> da existência a si mesma.<br />

Enquanto <strong>de</strong>cisão permeada <strong>de</strong> angústia, a<br />

fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> é ao mesmo tempo o possível respeito<br />

em face da única autorida<strong>de</strong> que um existir<br />

livre po<strong>de</strong> reconhecer, ou seja, em face das<br />

possibilida<strong>de</strong>s repetíveis da existência" (Sein<br />

undZeit, § 75). "Se o ser-aí só é autenticamente<br />

real na existência, sua factualida<strong>de</strong> constitui-se<br />

justamente no <strong>de</strong>cidido autoprojetar-se para<br />

um po<strong>de</strong>r-serque já foi escolhido. Mas então o<br />

que foi autenticamente um fato é a possibilida<strong>de</strong><br />

existenciária em que se <strong>de</strong>terminam efetivamente<br />

o <strong>de</strong>stino, a <strong>de</strong>stinação comum e mundanamente<br />

histórica" (Ibid., § 76). Às vezes,<br />

porém, a tradição é entendida como conservação<br />

infalível e progressiva <strong>de</strong> todos os resultados<br />

ou conquistas do homem; nesse caso, o<br />

conceito i<strong>de</strong>ntifica-se com o <strong>de</strong> H. como plano<br />

provi<strong>de</strong>ncial (v. TRADIÇÃO).<br />

3 S O terceiro significado <strong>de</strong> H. é o mais relevante<br />

filosoficamente; para ele, H. é o mundo<br />

histórico, a totalida<strong>de</strong> dos modos <strong>de</strong> ser e das<br />

criações humanas no mundo, ou a totalida<strong>de</strong><br />

da "vida espiritual" ou das culturas. Nesse senti-<br />

do, a H. contrapõe-se a "natureza", que é a totalida<strong>de</strong><br />

do que é in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do homem ou<br />

que não po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado produção ou<br />

criação sua, mas permanece aparentado com a<br />

natureza pelo seu caráter <strong>de</strong> totalida<strong>de</strong>, <strong>de</strong><br />

mundo. É no âmbito <strong>de</strong>sse conceito que se po<strong>de</strong>m<br />

distinguir as interpretações "filosóficas" da<br />

H., que constituem a chamada "<strong>filosofia</strong> da H.".<br />

Entre estas interpretações po<strong>de</strong>m-se consi<strong>de</strong>rar<br />

principais as seguintes: a) H. como <strong>de</strong>cadência;<br />

b) H. como ciclo; c) H. como reino do acaso;<br />

d) H. como progresso; é) H. como or<strong>de</strong>m provi<strong>de</strong>ncial.<br />

d) A interpretação da H. como <strong>de</strong>cadência é<br />

própria da Antigüida<strong>de</strong>, que a expressou com<br />

a doutrina das ida<strong>de</strong>s (v.) do gênero humano.<br />

A sucessão das cinco ida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>scrita por Hesíodo,<br />

vai da ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ouro, na qual os homens<br />

"viviam como <strong>de</strong>uses", à ida<strong>de</strong> dos homens, na<br />

qual estes estão sujeitos a toda espécie <strong>de</strong> males,<br />

passando pela ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prata, <strong>de</strong> bronze e<br />

dos heróis, que assinalam a <strong>de</strong>cadência gradual<br />

do estado do gênero humano (Op., 109-79).<br />

Platão reduziu a três as ida<strong>de</strong>s, enumerando<br />

somente a ida<strong>de</strong> dos <strong>de</strong>uses, dos heróis e dos<br />

homens, mas conservando o caráter <strong>de</strong> <strong>de</strong>cadência<br />

sucessiva que as ida<strong>de</strong>s apresentam<br />

quanto às condições materiais e morais dos homens<br />

(Crítias, 109b ss.). Retomada no mundo<br />

mo<strong>de</strong>rno (Viço, Fichte e outros), essa doutrina<br />

per<strong>de</strong>u o significado pessimista e tornou-se otimista:<br />

as ida<strong>de</strong>s estão em or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> progresso<br />

e não <strong>de</strong> <strong>de</strong>cadência. Mas não há dúvida <strong>de</strong><br />

que, para os gregos, essa doutrina constitui<br />

uma interpretação da H. como <strong>de</strong>cadência (v.<br />

IDADE).<br />

b) A noção da H. como ciclo está ligada à<br />

<strong>de</strong> ciclo do mundo, bastante difundida na Antigüida<strong>de</strong><br />

grega. Para os estóicos a repetição<br />

do ciclo cósmico incluía a repetição da H. humana<br />

no seu conjunto. Segundo eles, <strong>de</strong> fato, em<br />

cada novo ciclo do mundo, "haverá <strong>de</strong> novo<br />

Sócrates <strong>de</strong> novo Platão e <strong>de</strong> novo cada um<br />

dos homens com os mesmos amigos e concidadãos,<br />

as mesmas crenças, os mesmos<br />

assuntos discutidos, e toda cida<strong>de</strong>, vilarejo ou<br />

campo igualmente retornarão" (NEMÉSIO, De<br />

nat. hom., 38). Po<strong>de</strong>-se ver na obra <strong>de</strong> Spengler<br />

uma revivescência mo<strong>de</strong>rna <strong>de</strong>sse conceito<br />

<strong>de</strong> H. Para ele, os ciclos históricos, as culturas,<br />

não se repetem <strong>de</strong> modo idêntico, como<br />

julgavam os estóicos, mas a sua forma repetese<br />

i<strong>de</strong>nticamente: nascimento, crescimento e<br />

morte. "Toda cultura, todo surgimento, pro-

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