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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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MAIS-VIDA, MAIS-QUE-VIDA 638 MAL<br />

M., que 6 a parte do valor produzido pelo trabalho<br />

assalariado da qual o capitalista se apo<strong>de</strong>ra<br />

(cf. Das Kapital, I, seç. 3).<br />

MAIS VIDA, MAIS-QUE-VIDA (ai Mehrí.eben,<br />

Mehr-als-I.eben). Expressões cunhadas<br />

por G. Simmel para indicar, respectivamente, o<br />

processo da vida e as formas às quais ele clã lugar.<br />

Como "M.-vida", a vicia é o processo que<br />

supera continuamente os limites que impòe<br />

a si mesma. Como "M.-que-vida", a vida 6 o<br />

conjunto das formas finitas que emergem do<br />

processo vital e a ele se contrapõem (Lebensanscbcmiing,<br />

1918, pp. 22-23).<br />

MAL (gr. xò KOCKÓV; lat. Malim. in. liril; fr.<br />

Mal; ai. Base, it. Me<strong>de</strong>). Este termo tem uma varieda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> significados tào extensa quanto a<br />

do termo bem (v.), do qual é correlativo. Do<br />

ponto <strong>de</strong> vista filosófico, entretanto, é possível<br />

resumir essa varieda<strong>de</strong> em duas interpretações<br />

fundamentais dadas a essa noção ao longo da<br />

história da <strong>filosofia</strong>: I a noção metafísica do M.<br />

segundo a qual este é a) o nào-ser, ou h) uma<br />

dualida<strong>de</strong> no ser; 2- noção subjetivista, segundo<br />

a qual o M. é o objeto <strong>de</strong> aptidão negativa<br />

ou cie um juízo negativo.<br />

I a A concepção metafísica do M. consiste<br />

em consi<strong>de</strong>rá-lo como o nào-ser diante do ser,<br />

que 6 o bem, ou em consi<strong>de</strong>rá-lo como uma<br />

dualida<strong>de</strong> do ser, como uma dissensào ou um<br />

conflito interno do próprio ser.<br />

ei) A concepção do M. como não aparece<br />

nos estóicos e 6 claramente formulada pelos<br />

neoplatônicos. Por consi<strong>de</strong>rarem que a existência<br />

dos males condiciona a dos bens, <strong>de</strong> tal<br />

modo que, p. ex., não haveria justiça se não<br />

houvesse ofensas, não haveria trabalho se<br />

não houvesse indolência, não haveria verda<strong>de</strong><br />

se não houvesse mentira, etc, os estóicos, em<br />

particular Crisipo, achavam que os chamados<br />

males não são realmente males, porque necessários<br />

à or<strong>de</strong>m e ã ecnomia do universo<br />

(AILO Gúuo, Nucl. At!., 1). Marco Aurélio exprimia<br />

perfeitamente este ponto <strong>de</strong> vista dizendo:<br />

"Toda vez que arrancas uma partícula qualquer<br />

da or<strong>de</strong>m e da continuida<strong>de</strong> do inverso a<br />

integrida<strong>de</strong> do todo fica mutilada e comprometida.<br />

(...) K realmente extirpas, na medida do<br />

teu po<strong>de</strong>r, alguma coisa do universo toda vez<br />

que te queixas do que aconteceu; em um certo<br />

sentido, em assim fazendo, estás con<strong>de</strong>nando<br />

à morte o universo inteiro em teu <strong>de</strong>sejo" (Ric,<br />

V, 8). Uma vez que não se po<strong>de</strong> amar uma coisa<br />

e consi<strong>de</strong>rá-la má, o ponto <strong>de</strong> vista estóico<br />

eqüivale a consi<strong>de</strong>rar bom tudo o que existe e<br />

a reduzir o M. ao nào-ser. Essa redução tornase<br />

explícita no neoplatonismo. Plotino diz: "Se<br />

tais são os entes e se tal é o que está além dos<br />

entes [isto é, Deusl, então o M. não existe nem<br />

naqueles nem neste, já que tanto um quanto o<br />

outro são bem. Conclui-se, portanto, que, se<br />

existir, existe no que não é. e que é uma espécie<br />

<strong>de</strong> nào-ser. encontrando-se, pois, nas coisas<br />

mescladas <strong>de</strong> nào-ser ou partícipes do nào-ser"<br />

(Hnn.. I, 8, 3). Nesse sentido, Plotino i<strong>de</strong>ntifica<br />

o M. com a matéria: a matéria é o nào-ser. "O<br />

M. não consiste na <strong>de</strong>ficiência parcial, mas na<br />

<strong>de</strong>ficiência total: o que carece parcialmente <strong>de</strong><br />

bem não é mau e po<strong>de</strong> até ser perfeito em seu<br />

gênero. Mas quando há <strong>de</strong>ficiência total, como<br />

na matéria, tem-se o verda<strong>de</strong>iro M., que não<br />

tem parte alguma <strong>de</strong> bem. A matéria não tem<br />

sequer o ser que lhe possibilitaria participar do<br />

bem: po<strong>de</strong>-se dizer que ela é apenas em sentido<br />

equívoco; na verda<strong>de</strong>, a matéria é o próprio<br />

nào-ser" (Ibid., 1, 8, 5).<br />

A i<strong>de</strong>ntificação do M. com o nào-ser tornase<br />

tradicional na <strong>filosofia</strong> cristã. É retomada por<br />

Clemente <strong>de</strong> Alexandria (Slrom., IV, 13), por<br />

Orígenes (Depriuc, 1, 109) e por S. Agostinho,<br />

que a difun<strong>de</strong> no mundo oci<strong>de</strong>ntal. S. Agostinho<br />

diz: "Nenhuma natureza é M., e esse nome<br />

indica apenas a privação do bem" (Deciv. Dei.<br />

XI, 21). Portanto, "todas as coisas são boas, e o<br />

M. não é substância porque se fosse substância<br />

seria bem" (Conf., VII, 12). Hoécio afirmava:<br />

"O mal é nada, porque não o po<strong>de</strong> fazer<br />

Aquele que po<strong>de</strong> todas as coisas" (Pbil. cons.,<br />

III, 12). A Escolástica é igualmente unânime<br />

nesse aspecto. S. Anselmo reiterou a doutrina<br />

do M. como nào-ser nos mesmos termos <strong>de</strong> S.<br />

Agostinho (De casn diabo/i. 12-16). Com<br />

Maimôni<strong>de</strong>s, a escolástica hebraica repete a<br />

mesma tese (Guia dos perplexos, III, 10), na<br />

escolástica cristã, é repetida por agostinianos,<br />

como Alexandre <strong>de</strong> Hales (S. Th., I, q. 18, 9),<br />

por aristotélicos, como Alberto Magno (S. Tb.. 1,<br />

cj. 27, 1), e por S. Tomás, liste último diz: "Uma<br />

vez que bem é tudo o que é apetecível e uma<br />

vez que a cada natureza apetece seu ser e sua<br />

perfeição, cumpre dizer que o ser e a perfeição<br />

<strong>de</strong> qualquer natureza são essencialmente bem.<br />

Portanto, não po<strong>de</strong> acontecer que 'M.' signifique<br />

algum ser, alguma forma ou natureza; conclui-se,<br />

pois, significa apenas a ausência do<br />

bem" (S. Th., I, q. 48, a. 1) O verbo ser po<strong>de</strong><br />

referir-se ao M. somente no sentido ''da verda<strong>de</strong><br />

da proposição", como quando se diz que "a<br />

cegueira é do olho", sentido que não implica

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