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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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HISTÓRIA 507 HISTÓRIA<br />

nunciando, também, a consi<strong>de</strong>rar todos os fatos<br />

como fatos históricos, visto que a afirmação<br />

<strong>de</strong> que todos os fatos são históricos (presente,<br />

p. ex., em CROCE, Lastoria comepensiero<br />

e come azione, 1938, p. 19) é apenas outro<br />

modo <strong>de</strong> expressar a noção <strong>de</strong> H. como totalida<strong>de</strong><br />

absoluta. Por outro lado, se a H. não é o<br />

mundo histórico, não existe a história. Toda<br />

H., <strong>de</strong>sse ponto <strong>de</strong> vista, é a H. <strong>de</strong> alguma<br />

coisa (um período, uma instituição, uma personalida<strong>de</strong>),<br />

mas não é um processo ou uma<br />

substância única ou universal que compreenda<br />

tudo <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si (cf. J. H. RANDALJR., Nature<br />

and Historical Experience, 1958, p. 28). Desse<br />

ponto <strong>de</strong> vista, as expressões "objeto histórico"<br />

ou "realida<strong>de</strong> histórica" são apenas nomes<br />

comuns para indicar qualquer tema <strong>de</strong> investigação<br />

historiográfica. A metodologia historiográfica<br />

contemporânea, que historiadores e<br />

filósofos (em acordo fundamental) fizeram avançar<br />

notavelmente nestes últimos tempos, permite<br />

atribuir no objeto histórico os seguintes caracteres:<br />

I a Individualida<strong>de</strong> ou unicida<strong>de</strong>, em virtu<strong>de</strong><br />

da qual o fato histórico se apresenta<br />

como algo único e não repetível. O reconhecimento<br />

explícito <strong>de</strong>ste caráter <strong>de</strong>ve-se ao<br />

historicismo alemão. Já afirmado por Dilthey<br />

(Gesammelte Schriften, V, p. 236), foi ressaltado<br />

por Win<strong>de</strong>lband (Práludien, IP, p. 145) e<br />

por Rickert (Die Grenzen <strong>de</strong>r naturwissenschaftlichen<br />

Begriffsbildung, 1896-1902, pp.<br />

251, 420, etc.) como conseqüência da distinção<br />

entre o procedimento generalizador das ciências<br />

da natureza e o procedimento individualizador<br />

das ciências do espírito. Este caráter<br />

da H. às vezes suscitou <strong>de</strong>sconfiança nos<br />

metodizadores porque pareceu um caráter<br />

"metafísico" (cf., p. ex., C. G. HEMPEL, em Readíngs<br />

in Philosophical Analysis, ed. Feigl e<br />

Sellars, 1949, p. 461; GARDINER, The Nature of<br />

Histórica!Explanation, 1952, p. 43). Por outro<br />

lado, ninguém nega que um acontecimento<br />

histórico seja único no sentido <strong>de</strong> estar individualizado<br />

pelos dois parâmetros fundamentais,<br />

a cronologia e a geografia (cf. o mesmo<br />

GARDINER, loc. cit.), e além disso muitos reconhecem<br />

unicida<strong>de</strong> no acontecimento histórico,<br />

no sentido "<strong>de</strong> ser diferente dos outros, com<br />

os quais seria naturalmente agrupado sob um<br />

termo classificador, sendo também diferente<br />

quanto aos modos pelos quais <strong>de</strong>sperta o interesse<br />

dos historiadores que procuram explicálo"<br />

(W. DRAY, Laws and Explanation inHistory,<br />

1956, p. 46). O caráter <strong>de</strong> unicida<strong>de</strong> do acontecimento<br />

provém das próprias técnicas historiográficas<br />

que servem para verificá-lo e ilustrá-lo,<br />

sendo reflexo <strong>de</strong>ssas técnicas. O acontecimento<br />

histórico só se mostra único e não repetível<br />

quando sua abordagem historiográfica é conduzida<br />

a bom termo, <strong>de</strong> tal modo que o ditado<br />

"a H. não se repete" exprime mais o i<strong>de</strong>al<br />

historiográfico (aliás, difícil <strong>de</strong> ser alcançado)<br />

do que um suposto caráter do processo<br />

histórico.<br />

2- A correlação do fato com os outros fatos,<br />

graças à qual o fato é "explicado" ou "compreendido".<br />

Também quanto a este segundo<br />

caráter, a metodologia histórica contemporânea<br />

chegou a um ponto <strong>de</strong> concordância satisfatória.<br />

Ainda que não falte quem queira interpretar<br />

a conexão entre os fatos históricos como<br />

conexão causai (cf., p. ex., HEMPEL, loc. cit., p.<br />

462 ss.) no intuito <strong>de</strong> mostrar que tanto a H.<br />

quanto as ciências naturais fazem uso <strong>de</strong> um<br />

único tipo <strong>de</strong> explicação, hoje já está bem<br />

claro que os historiadores rejeitaram a explicação<br />

causai tanto quanto os estudiosos da Física<br />

(cf., sobre este ponto, HISTORIOGRAFIA, e<br />

também CAUSALIDADE.; CONDIÇÃO; EXPLICAÇÃO).<br />

Com a recusa do esquema causai elimina-se<br />

também da H. a noção <strong>de</strong> lei que está ligada a<br />

ele, já que uma lei só faz expressar uma sucessão<br />

causai <strong>de</strong> fatos. E com a eliminação do conceito<br />

<strong>de</strong> lei também se eliminou o conceito <strong>de</strong><br />

necessida<strong>de</strong> da. história. Nesse aspecto, é preciso<br />

lembrar que Kierkegaard foi o primeiro a reconhecer<br />

na H. a categoria da possibilida<strong>de</strong>: "O<br />

passado não é necessário ao momento em que<br />

vem a ser; não veio a ser necessário vindo a ser<br />

(o que seria uma contradição); e vem a sê-lo<br />

ainda menos por meio da compreensão que se<br />

tem <strong>de</strong>le (...) Se o passado viesse a ser necessário<br />

por meio da compreensão, ganharia aquilo que<br />

a compreensão per<strong>de</strong>ria, pois então esta última<br />

compreen<strong>de</strong>ria uma coisa diferente e seria<br />

uma incompreensão" (PhilosophischeBrocken,<br />

1844, IV, § 4).<br />

3 e O significado ou a importância que o<br />

acontecimento possui como opção historiográfica.<br />

Também este caráter é quase universalmente<br />

reconhecido na metodologia contemporânea.<br />

Po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado conseqüência do caráter<br />

prece<strong>de</strong>nte, visto que a importância <strong>de</strong> um<br />

acontecimento consiste na capacida<strong>de</strong> por ele<br />

<strong>de</strong>monstrada <strong>de</strong> condicionar <strong>de</strong> um modo qualquer<br />

os outros acontecimentos, isto é, <strong>de</strong> produzir,<br />

no seu <strong>de</strong>correr, variações que po<strong>de</strong>m

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