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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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BEM 109 BEM AVENTURANÇA<br />

concordância em Leibniz: "O B. divi<strong>de</strong>-se em<br />

honesto, agradável e útil, mas, no fundo, creio<br />

que <strong>de</strong>ve ser agradável por si mesmo ou servir<br />

a algo que nos dê sentimento <strong>de</strong> prazer: o B. é<br />

agradável ou útil e mesmo a honestida<strong>de</strong> consiste<br />

em um prazer do espírito" (Nouv. ess., II,<br />

20, 2). Kant aceitou essas observações, acrescentando-lhes<br />

um elemento importante, isto é,<br />

a exigência <strong>de</strong> uma referência conceituai. "O<br />

B." diz ele, "é o que, por intermédio da razão,<br />

agrada pelo seu conceito puro. Dizemos que<br />

alguma coisa é boa para (útil) quando ela agrada<br />

só como um meio; aquela que, ao contrário,<br />

agrada por si mesma, dizemos que é boa em si.<br />

Em ambas, estão sempre contidos o conceito<br />

<strong>de</strong> finalida<strong>de</strong> e a relação entre razão e vonta<strong>de</strong><br />

(pelo menos possível); conseqüentemente, o<br />

prazer está ligado à existência <strong>de</strong> um objeto ou<br />

<strong>de</strong> uma ação, vale dizer, a um interesse" (Crít.<br />

dojuízo, § 4). A presença do conceito, isto é, do<br />

fim a que a coisa ten<strong>de</strong> ou da norma a que <strong>de</strong>ve<br />

a<strong>de</strong>quar-se, é o que distingue o bom do agradável.<br />

Kant nota que um alimento agradável,<br />

para ser consi<strong>de</strong>rado "bom", <strong>de</strong>ve agradar também<br />

à razão, isto é, <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rado bom<br />

em relação ao objetivo da nutrição, da saú<strong>de</strong><br />

física. Todavia, o agradável e o bom estão ligados<br />

pelo fato <strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rem ambos do interesse<br />

pelo seu objeto; além disso, "o que é B<br />

absolutamente sob todos os aspectos, o B. moral,<br />

inclui o mais alto interesse, pois o B. é o<br />

objeto da vonta<strong>de</strong>, isto é, <strong>de</strong> uma faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sejar <strong>de</strong>terminada pela razão. Mas querer<br />

alguma coisa e ter prazer por sua existência,<br />

isto é, sentir interesse por ela, são a mesma<br />

coisa" (íbid., fim). Nesse sentido, o B. é aquilo<br />

que se aprecia, que se aprova e a que se atribui<br />

"um valor objetivo" (ibid, § 5). Assim, no seio<br />

da própria teoria subjetivista, Kant valida a exigência<br />

objetivista que constituía a força da teoria<br />

metafísica. O B., para Kant, só é B. em relação<br />

ao homem, isto é, em face do interesse<br />

que o homem tem por sua existência. Mas isso<br />

não o torna exclusivamente subjetivo, isto é,<br />

não o i<strong>de</strong>ntifica pura e simplesmente com o<br />

prazer porque ao reconhecimento do B. está<br />

vinculada a valorização conceituai <strong>de</strong> sua eficiência<br />

em relação a certos fins e é isto que<br />

constitui o B. como "um valor objetivo".<br />

Depois <strong>de</strong> Kant, a noção <strong>de</strong> valor ten<strong>de</strong> a<br />

suplantar a <strong>de</strong> B. nas discussões morais, e po<strong>de</strong><br />

ser consi<strong>de</strong>rada como sucessora do conceito<br />

subjetivo <strong>de</strong> B., dotada que é <strong>de</strong> suas mesmas<br />

conexões sistemáticas. Em seu lugar, porém,<br />

renascerá, com forma pouco alterada, a alternativa<br />

entre uma concepção objetivista e uma concepção<br />

subjetivista: alternativa que ainda hoje<br />

constitui um dos temas fundamentais da discussão<br />

moral (v. VALOR).<br />

BEM-AVENTURANÇA (gr. |j.aKapía; lat.<br />

Beatitudo; in. Beatitu<strong>de</strong>; fr. Béatitu<strong>de</strong>; ai.<br />

Seligheit; it. Beatitudiné). O significado <strong>de</strong>sse<br />

termo po<strong>de</strong> distinguir-se do <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong> (v.),<br />

<strong>de</strong> que é sinônimo, porque <strong>de</strong>signa um estado<br />

<strong>de</strong> satisfação completa, perfeitamente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

das vicissitu<strong>de</strong>s do mundo. Aristóteles,<br />

que às vezes usa esse termo e o termo<br />

felicida<strong>de</strong> indiferentemente, vincula a B. à contemplação<br />

e comensura-a com o grau da ativida<strong>de</strong><br />

contemplativa nos vários seres vivos. Assim,<br />

a vida dos <strong>de</strong>uses é bem-aventurada porque<br />

contemplativa. Aos homens cabe uma espécie<br />

<strong>de</strong> semelhança com essa vida porque se elevam<br />

só vez por outra à contemplação; os animais<br />

não são absolutamente bem-aventurados<br />

porque carecem <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> contemplativa (Et.<br />

nic, X, 8, 1.178 b 9 ss.). Entre os homens,<br />

naturalmente, o sábio é o mais bem-aventurado<br />

(ibid., I, 11, 1.101 b 24). Na <strong>filosofia</strong> pósaristotélica<br />

e sobretudo na estóica, a B. do sábio<br />

tornou-se tema comum <strong>de</strong> exercício (cf. De<br />

vita beata <strong>de</strong> Sêneca), e no neoplatonismo <strong>de</strong><br />

Plotino a crítica da felicida<strong>de</strong>, como é entendida<br />

por estóicos e aristotélicos (Enn., I, 4), é<br />

acompanhada pelo conceito <strong>de</strong> que a B. é inativa<br />

porque indiferente a toda realida<strong>de</strong> externa.<br />

"Os seres bem-aventurados estão imóveis em<br />

si e basta-lhes ser o que são: não se arriscam a<br />

ocupar-se com nada, pois isso os faria sair do<br />

seu estado; mas essa é a felicida<strong>de</strong> <strong>de</strong>les, pois,<br />

sem agir, realizam gran<strong>de</strong>s coisas e não fazem<br />

pouco permanecendo imóveis em si mesmos"<br />

(ibid., II, 2,1). A partir do neoplatonismo, po<strong>de</strong>se<br />

dizer que o conceito <strong>de</strong> B. se foi distinguindo<br />

cada vez mais do <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong>, ligando-se<br />

estreitamente à vida contemplativa, ao abandono<br />

da ação e à atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> reflexão interior e<br />

<strong>de</strong> retorno para si mesmo. A tradição cristã<br />

agiu no mesmo sentido, vinculando a B. a uma<br />

condição ou estado, tão in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte das li<strong>de</strong>s<br />

mundanas quanto <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da disposição<br />

interna da alma. A doutrina aristotélica da<br />

felicida<strong>de</strong>, própria da vida contemplativa, serviu<br />

<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo aos escolásticos para a elaboração<br />

do conceito <strong>de</strong> beatitu<strong>de</strong>. S. Tomás diz que<br />

a B. é "a última perfeição do homem", isto é, a<br />

ativida<strong>de</strong> da sua faculda<strong>de</strong> mais elevada, o intelecto<br />

na contemplação da realida<strong>de</strong> superior,

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