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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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POESIA 769 POESIA<br />

P. a aproximação da verda<strong>de</strong> absoluta, mas a<br />

própria verda<strong>de</strong> absoluta. Schiller já se expressara<br />

sobre a poesia nesses termos. Na obra Sobre<br />

a poesia ingênua e sentimental (1795-96),<br />

afirmou que o poeta é a natureza, ou seja, sente<br />

naturalmente e portanto imita a natureza, ou<br />

sente-se afastado da natureza e vai à sua procura<br />

nostalgicamente, configurando-a como i<strong>de</strong>al.<br />

No primeiro caso, o poeta é ingênuo, como na<br />

antiga Grécia; no segundo caso, é sentimental,<br />

como na era mo<strong>de</strong>rna. Mas em ambos os casos,<br />

a P. é o absoluto. Com efeito, a P. ingênua<br />

é representação absoluta, concluída, total e<br />

<strong>de</strong>finitiva; a P. sentimental é representação<br />

do absoluto, <strong>de</strong> um i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> perfeição consumado,<br />

conquanto longínquo ( Werke, ed. Karpeles,<br />

XII, pp. 122 ss.). Schiller valeu-se <strong>de</strong>sse<br />

aspecto para afirmar resolutamente a superiorida<strong>de</strong><br />

da P. sobre a <strong>filosofia</strong>: não hesitava em dizer<br />

que "o único homem verda<strong>de</strong>iro é o poeta,<br />

diante do qual o melhor filósofo não passa <strong>de</strong><br />

caricatura" (FpistolãrioGoethe-Schiller,7l-1795;<br />

trad. Santangelo). Essa tese representa sem dúvida<br />

um filão importante e bem <strong>de</strong>terminado<br />

da concepção romântica da poesia. Schelling<br />

dizia: 'A faculda<strong>de</strong> poética é a intuição originária<br />

na sua primeira potência; e vice-versa, a<br />

única intuição produtiva que se repete na mais<br />

elevada potência é o que chamamos <strong>de</strong> faculda<strong>de</strong><br />

poética" (System <strong>de</strong>s transzen<strong>de</strong>ntalen<br />

I<strong>de</strong>alismus, 1800, VI, § 3). A faculda<strong>de</strong> poética<br />

atualiza a unida<strong>de</strong> das ativida<strong>de</strong>s consciente e<br />

inconsciente, que constitui a natureza do Eu<br />

absoluto. "O que chamamos <strong>de</strong> natureza é um<br />

poema, fechado em caracteres misteriosos e<br />

admiráveis. Mas se o enigma pu<strong>de</strong>sse ser revelado,<br />

reconheceríamos nele a odisséia cio Espírito,<br />

que, por maravilhosa ilusão, buscando-se,<br />

foge <strong>de</strong> si mesmo" (Ibid.). Na <strong>filosofia</strong> contemporânea,<br />

esse ponto <strong>de</strong> vista foi reexpresso por<br />

Hei<strong>de</strong>gger: "A P. é a nominaçâo fundadora do<br />

ser e da essência <strong>de</strong> todas as coisas; não é um<br />

simples dizer qualquer, mas é dizer pelo qual<br />

é revelado inicialmente tudo o que nós <strong>de</strong>batemos<br />

e tratamos <strong>de</strong>pois na linguagem <strong>de</strong> todos<br />

os dias. Por conseguinte a P. nunca recebe a<br />

linguagem como matéria a ser manipulada,<br />

pressuposta, mas, ao contrário, é a P. que começa<br />

a possibilitar a linguagem. A P. é a linguagem<br />

primitiva <strong>de</strong> um povo, e a essência da<br />

linguagem <strong>de</strong>ve ser compreendida a partir da<br />

essência da P." (Hol<strong>de</strong>rlin und das Wesen <strong>de</strong>r<br />

Dichtung, 1936, § 5). Como linguagem originária,<br />

a P. é a própria verda<strong>de</strong>, isto é, a ma-<br />

nifestação ou revelação do Ser (Holzwege, 1950,<br />

pp. 252 ss.).<br />

3 a A terceira concepção fundamental à primeira<br />

vista é menos filosófica que as outras,<br />

porque não consiste em atribuir à P. <strong>de</strong>terminada<br />

tarefa em dada metafísica, nem em ligá-la a<br />

<strong>de</strong>terminada faculda<strong>de</strong> ou categoria do espírito,<br />

ou em reservar-lhe um lugar na enciclopédia<br />

do saber humano, mas apenas em <strong>de</strong>scobrir<br />

certas características que a P. possui em<br />

suas realizações históricas mais bem-sucedidas,<br />

e em resumi-las numa <strong>de</strong>finição generalizadora.<br />

Todavia, é este o único procedimento<br />

que po<strong>de</strong> gerar uma <strong>de</strong>finição funcional da P.,<br />

que sirva para expressar e orientar o trabalho<br />

efetivo dos poetas. Portanto, para essa <strong>de</strong>finição<br />

os poetas contribuíram mais que os filósofos,<br />

apesar <strong>de</strong> estes também terem por vezes<br />

conseguido captar alguns <strong>de</strong> seus aspectos importantes.<br />

Obviamente, <strong>de</strong>ste ponto <strong>de</strong> vista, a<br />

P., pelo menos à primeira vista, é apenas um<br />

modo privilegiado <strong>de</strong> expressão lingüística: privilegiado<br />

em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma função especial a<br />

ele atribuída. O privilégio atribuído ao modo<br />

poético <strong>de</strong> expressão é freqüentemente <strong>de</strong>terminado<br />

como "liberda<strong>de</strong>". Depois <strong>de</strong> dizer que<br />

"as artes da palavra" são a eloqüência e a P.,<br />

Kant afirma: "A eloqüência é a arte <strong>de</strong> tratar<br />

uma função do intelecto como livre jogo da<br />

imaginação; a P. é a arte <strong>de</strong> dar a um livre jogo<br />

da imaginação o caráter <strong>de</strong> função do "intelecto"<br />

(Crít, do Juízo, § 51). Aqui, a noção <strong>de</strong><br />

"jogo" serve para ressaltar o caráter livre da ativida<strong>de</strong><br />

poética em face <strong>de</strong> qualquer outro fim<br />

utilitário; a noção <strong>de</strong> "função do intelecto" serve<br />

para <strong>de</strong>signar a disciplina a cjue se sujeita a<br />

P., mesmo na liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu jogo. Deste<br />

ponto <strong>de</strong> vista, a função da expressão poética é<br />

a libertação da linguagem <strong>de</strong> seus usos utilitários<br />

e a sua elaboração numa disciplina autônoma.<br />

Dewey insistiu nas mesmas características<br />

da expressão poética: "Se, entre prosa e poesia,<br />

não há uma diferença passível <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finida<br />

com exatidão, entre prosaico e poético há um<br />

abismo, pois são termos extremos que limitam<br />

tendências da experiência. O prosaico realiza o<br />

po<strong>de</strong>r que as palavras têm <strong>de</strong> exprimir "por<br />

meio da extensão"; o poético, o <strong>de</strong> exprimir<br />

pormeio da intensão. O prosaico lida com <strong>de</strong>scrição<br />

e narração, acumulando <strong>de</strong>talhes; o poético<br />

inverte o processo: "con<strong>de</strong>nsa e abrevia,<br />

dando assim às palavras uma energia e expansão<br />

quase explosiva". Por isso, na P. "cada palavra<br />

é imaginativa, assim como, na verda<strong>de</strong>,

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