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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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INDIVIDUAÇÃO 554 INDIVIDUALISMO<br />

Ao mesmo tipo <strong>de</strong> soluções pertence a interpretação<br />

que muitos discípulos <strong>de</strong> Duns Scot<br />

<strong>de</strong>ram à haecceitas [ecceida<strong>de</strong>] como <strong>de</strong> uma<br />

forma final que completa e integra uma série<br />

<strong>de</strong> formas constitutivas do objeto natural (cf.<br />

HERVEUS NATALIS, Depluralitateformarum, 5).<br />

Finalmente, uma terceira solução do problema<br />

é autenticamente escotista. Duns Scot nega<br />

que a matéria ou a forma possam valer como<br />

princípios <strong>de</strong> individuação. A matéria, que é o<br />

sujeito indistinto, não po<strong>de</strong> ser o princípio da<br />

distinção e da diversida<strong>de</strong> (Op. Ox, II, d. 3, q.<br />

5, n. 1). A forma é a própria substância ou natureza<br />

comum, que é antece<strong>de</strong>nte (e indiferente)<br />

tanto à universalida<strong>de</strong> quanto à individualida<strong>de</strong>.<br />

A individualida<strong>de</strong> consiste numa "última<br />

realida<strong>de</strong> do ente" que <strong>de</strong>termina e restringe a<br />

natureza comum à individualida<strong>de</strong>, a<strong>de</strong>ssehanc<br />

rem. Esta última realida<strong>de</strong> ou, como ele também<br />

chama, "entida<strong>de</strong> positiva" (Ibid., II, d. 3,<br />

q. 2) é a <strong>de</strong>terminação última e acabada da<br />

matéria, da forma e do composto <strong>de</strong>las. Desse<br />

ponto <strong>de</strong> vista, o indivíduo não é caracterizado<br />

pela simplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua constituição,<br />

mas pela complexida<strong>de</strong> e riqueza <strong>de</strong> suas <strong>de</strong>terminações.<br />

Como já dissemos, o problema da I. nasce<br />

do caráter privilegiado atribuído à substância<br />

comum, que existiria <strong>de</strong> qualquer maneira<br />

antes e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente dos indivíduos.<br />

Portanto, <strong>de</strong>saparece quando se nega o caráter<br />

privilegiado da substância comum, o que acontece<br />

com o nominalismo empirista da última<br />

escolástica. Ockham reconhece na substância comum<br />

uma forma do universal e o comprometimento<br />

na negação resoluta <strong>de</strong> toda realida<strong>de</strong><br />

universal: "Nada que esteja fora da alma, nem<br />

por si, nem por algo real ou mental que se lhe<br />

acrescente, seja <strong>de</strong> que forma se consi<strong>de</strong>re ou<br />

compreenda, é universal, pois é tão gran<strong>de</strong> a<br />

impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que algo fora da alma seja<br />

<strong>de</strong> qualquer maneira universal (a não ser por<br />

convenção arbitrária, do mesmo modo como a<br />

palavra 'homem', que é particular, se torna universal)<br />

quão gran<strong>de</strong> é a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que<br />

o homem, por qualquer consi<strong>de</strong>ração ou segundo<br />

qualquer ser, seja o asno" (In Sent., I, d.<br />

2, q. 7, S-T). Desse ponto <strong>de</strong> vista o problema<br />

da I. <strong>de</strong>saparece. Ockham diz ainda: "Deve-se<br />

ter em mente, sem sombra <strong>de</strong> dúvida, que<br />

qualquer coisa existente imaginável, por si,<br />

sem que nada lhe seja acrescentado, é uma coisa<br />

singular e uma coisa <strong>de</strong> número: pois nada<br />

que se imagine é singular <strong>de</strong>vido a alguma<br />

coisa que se lhe acrescente, mas a singularida<strong>de</strong><br />

é uma proprieda<strong>de</strong> que pertence imediatamente<br />

a tudo, porque cada coisa é, por<br />

si, idêntica ou diferente <strong>de</strong> outra" (Expositio<br />

áurea, liberpredicabilium, Proemium). Quando,<br />

numa <strong>de</strong> suas primeiras obras, Leibniz afirmou<br />

que "cada indivíduo é individualizado por<br />

sua entida<strong>de</strong> total", só fazia expressar em termos<br />

escotistas a mesma posição <strong>de</strong> Ockham,<br />

como ele mesmo reconhecia. (De principio<br />

indivíduí, 1663, § 4), pois a entida<strong>de</strong> total não<br />

passa da coisa existente enquanto tal. A mesma<br />

negação implícita do problema da individuação<br />

po<strong>de</strong> ser vista na solução aparente dada por<br />

Wolff: "O princípio da I. é a <strong>de</strong>terminação completa<br />

<strong>de</strong> todas as coisas inerentes a um ente em<br />

ato" (Ont., § 229). Por outro lado, Locke dissera:<br />

"Do que se disse é fácil <strong>de</strong>scobrir o que é<br />

principium individuationis, sobre o qual tanto<br />

se indagou; está claro que ele é a própria existência,<br />

que <strong>de</strong>termina um ser <strong>de</strong> qualquer espécie,<br />

num tempo particular e num lugar particular,<br />

incomunicáveis a dois seres da mesma espécie"<br />

(AnEssay ConcerningHuman Un<strong>de</strong>rstanding,<br />

II, 27, 4).<br />

Estas supostas "soluções" na realida<strong>de</strong> são<br />

negações do problema, que <strong>de</strong>saparece completamente<br />

(salvo raras exceções) da <strong>filosofia</strong><br />

mo<strong>de</strong>rna, <strong>de</strong>vido à dissolução do seu pressuposto:<br />

a priorida<strong>de</strong> ontológica da substância<br />

comum.<br />

INDIVIDUAL, PSICOLOGIA. V PSICOLO-<br />

GIA, é).<br />

INDIVIDUALIDADE (lat. Individualitas; in.<br />

Individuality, fr. Individualité, ai. Indívidualitãt;<br />

it. Individualitã). Termo <strong>de</strong> origem medieval:<br />

o modo <strong>de</strong> ser do indivíduo.<br />

INDIVIDUALISMO (in. Individualism; fr.<br />

Individualisme; ai. Individualismus; it. Individualismo).<br />

Toda doutrina moral ou política que<br />

atribua ao indivíduo humano um prepon<strong>de</strong>rante<br />

valor <strong>de</strong> fim em relação às comunida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> que faz parte. O extremo <strong>de</strong>sta doutrina é,<br />

obviamente, a tese <strong>de</strong> que o indivíduo tem<br />

valor infinito, e a comunida<strong>de</strong> tem valor nulo;<br />

essa é a tese do anarquismo (v.). Contudo o<br />

termo I. é habitualmente utilizado na acepção<br />

mais mo<strong>de</strong>rada, sendo, nesse sentido, o fundamento<br />

teórico assumido pelo liberalismo<br />

assim que surgiu no mundo mo<strong>de</strong>rno. É <strong>de</strong><br />

fato o pressuposto comum do jusnaturalismo,<br />

do contratualismo, do liberalismo econômico e<br />

da luta contra o Estado, que constituem os as-

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