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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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ALIENAÇÃO 27 ALMA<br />

infeliz... E somente fora do trabalho sente-se<br />

junto <strong>de</strong> si mesmo, e sente-se fora <strong>de</strong> si no<br />

trabalho". Na socieda<strong>de</strong> capitalista, o trabalho<br />

não é voluntário, mas obrigatório, pois não é<br />

satisfação <strong>de</strong> uma necessida<strong>de</strong>, mas só um meio<br />

<strong>de</strong> satisfazer outras necessida<strong>de</strong>s. "O trabalho<br />

exterior, o trabalho em que o homem se aliena,<br />

é um trabalho <strong>de</strong> sacrifício <strong>de</strong> si mesmo, <strong>de</strong><br />

mortificação" (Manuscritos econômico-filosóficos,<br />

1844, I, 22). Esse uso do termo tornou-se<br />

corrente na cultura contemporânea, não só na<br />

<strong>de</strong>scrição do trabalho operário em certas fases<br />

da socieda<strong>de</strong> capitalista, mas também a propósito<br />

da relação entre o homem e as coisas na<br />

era tecnológica, já que parece que o predomínio<br />

da técnica "aliena o homem <strong>de</strong> si mesmo"<br />

no sentido <strong>de</strong> que ten<strong>de</strong> a fazer <strong>de</strong>le a engrenagem<br />

dg uma máquina (v. TÉCNICA). Também<br />

sob esse ponto <strong>de</strong> vista Sartre retornou ao conceito<br />

hegeliano da A., entendida como "um caráter<br />

constante da objetivaçào, seja ela qual for":<br />

on<strong>de</strong> se enten<strong>de</strong> por "objetivação" qualquer<br />

relação do homem com as coisas e com os<br />

outros homens (Critique <strong>de</strong> Ia raison dialectique,<br />

1960, p. 285). Marcuse, por sua vez, consi<strong>de</strong>rou<br />

a A. como a característica do homem e da<br />

socieda<strong>de</strong> "numa só dimensão", ou seja, como<br />

a situação na qual não se distingue o <strong>de</strong>ver ser<br />

do será, por isso, o pensamento negativo, ou<br />

a força crítica da Razão, é esquecida ou calada<br />

pela força onipresente da estrutura tecnológica<br />

da socieda<strong>de</strong> (One Dimensional Man, 1964,<br />

p. 12).<br />

Na linguagem filosófico-política hoje corrente,<br />

esse termo tem os significados mais díspares,,<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da varieda<strong>de</strong> dos caracteres<br />

nos quais se insiste para a <strong>de</strong>finição do<br />

homem. Se o homem é rkzão autocontemplativa<br />

(como pensava Hegel), toda relação sua com<br />

um objeto qualquer é A. Se o homem é um ser<br />

natural e social (como pensava Marx), A. é refugiar-se<br />

na contemplação. Se o homem é instinto<br />

e vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> viver, A. é qualquer repressão<br />

ou diminuição <strong>de</strong>sse instinto e <strong>de</strong>ssa vonta<strong>de</strong>;<br />

se o homem é racionalida<strong>de</strong> operante ou ativa,<br />

A. é entregar-se ao instinto. Se o homem é<br />

razão (entendida <strong>de</strong> qualquer modo), A. é refugiar-se<br />

na fantasia; mas, se é essencialmente<br />

imaginação e fantasia, A. é qualquer disciplina<br />

racional. Enfim, se o indivíduo humano é uma<br />

totalida<strong>de</strong> auto-suficiente e completa, A. é qualquer<br />

regra ou norma imposta, <strong>de</strong> qualquer modo,<br />

à sua expressão. A equivocida<strong>de</strong> do conceito<br />

<strong>de</strong> A. <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da problematicida<strong>de</strong> da noção<br />

<strong>de</strong> homem.<br />

ALMA (gr. \|fu^r|; lat. Anima; in. Soul; fr.<br />

Âme, ai. Seele, it. Anima). Em geral, o princípio<br />

da vida, da sensibilida<strong>de</strong> e das ativida<strong>de</strong>s espirituais<br />

(como quer que sejam entendidas e classificadas),<br />

enquanto constitui uma entida<strong>de</strong> em<br />

si, ou substância. Esta última noção é importante<br />

porque o uso da noção <strong>de</strong> A. está condicionado<br />

pelo reconhecimento <strong>de</strong> que certo conjunto <strong>de</strong><br />

operações ou <strong>de</strong> eventos, chamados "psíquicos"<br />

ou "espirituais", constituem manifestações<br />

<strong>de</strong> um princípio autônomo, irredutível, pela<br />

sua originalida<strong>de</strong>, a outras realida<strong>de</strong>s, embora<br />

em relação com elas. Que a alma seja incorpórea<br />

ou tenha a mesma constituição das coisas<br />

corpóreas é questão menos importante, já que<br />

a solução materialista em geral se fundamenta,<br />

assim como a solução oposta, no reconhecimento<br />

da A. como substância. Nesse significado<br />

fundamental, a A. é o mais das vezes consi<strong>de</strong>rada<br />

como "substância": enten<strong>de</strong>ndo-se por<br />

esse termo precisamente uma realida<strong>de</strong> em si,<br />

isto é, que existe in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente das outras<br />

(v. SUBSTÂNCIA). O reconhecimento da realida<strong>de</strong>-A.<br />

parece prover sólido fundamento aos<br />

valores vinculados às ativida<strong>de</strong>s espirituais humanas,<br />

os quais, sem ela, pareceriam suspensos<br />

no nada; <strong>de</strong> modo que a substancialida<strong>de</strong> da A.<br />

é consi<strong>de</strong>rada, pela maior parte das teorias filosóficas<br />

tradicionais, como uma garantia da<br />

estabilida<strong>de</strong> e da permanência <strong>de</strong>sses valores;<br />

garantia que, às vezes, é reforçada pela crença<br />

<strong>de</strong> que a A. é, no mundo, a realida<strong>de</strong> mais alta<br />

ou última, ou, às vezes, o próprio princípio<br />

or<strong>de</strong>nador e governador do mundo. Dadas essas<br />

características da noção, a sua história filosófica<br />

apresenta-se relativamente monótona, por<br />

ser, predominantemente, a reiteração da realida<strong>de</strong><br />

da A. nos termos dos conceitos que cada<br />

filósofo assume para <strong>de</strong>finir a própria realida<strong>de</strong>.<br />

Assim, p. ex., a A. é ar para Anaxímenes (Fr.<br />

2, Diels) e para Diógenes <strong>de</strong> Apolônia (Fr. 5,<br />

Diels), que julgam ser o ar o princípio das coisas;<br />

é harmonia para os pitagóricos (ARISTÓTE-<br />

LES, Pol., VIII, 5, 1340 b 19), que na harmonia<br />

exprimível em números vêem a própria estrutura<br />

do cosmos; é fogo para Heráclito (Fr. 36,<br />

Diels), que vê no fogo o princípio universal;<br />

para Demócrito, é formada por átomos redondos,<br />

que po<strong>de</strong>m penetrar no corpo com gran<strong>de</strong><br />

rapi<strong>de</strong>z e movê-lo (ARISTÓTELES, Dean., I, 2,<br />

404,1); e assim por diante. Provavelmente Platão<br />

só fez exprimir um pensamento implícito nes-

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