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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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EVOLUÇÃO 394 EVOLUÇÃO<br />

teses, produziram fatos e observações novos<br />

em favor da teoria geral da E., mas po<strong>de</strong>-se dizer<br />

que nenhuma <strong>de</strong>las logrou <strong>de</strong>monstrar a<br />

falsida<strong>de</strong> das teses da outra. Hoje se sabe que<br />

tanto a adaptação ao ambiente (tese dos<br />

lamarckianos) quanto a seleção natural (tese<br />

dos darwinianos) exercem funções importantíssimas<br />

na E. da vida e que uma coisa não<br />

exclui a outra. Nessa incerteza, inseriram-se as<br />

novas formas do vitalismo (v.), doutrina que,<br />

consi<strong>de</strong>rando que a vida não é explicável, em<br />

princípio, por fatores físico-químicos, reconhece<br />

como fundamento <strong>de</strong>la um princípio espiritual<br />

que age <strong>de</strong> modo finalista. O vitalismo dá<br />

ênfase àquilo que parece ser um dos caracteres<br />

fundamentais da E. biológica: o finalismo. Este,<br />

que está estreitamente vinculado à doutrina da<br />

estrutura substancial do mundo, ou seja, à metafísica<br />

aristotélica, é a parte <strong>de</strong>ssa metafísica<br />

que mais resiste à morte. Como já notava Kant,<br />

seu campo privilegiado é o dos fenômenos vitais.<br />

Esses fenômenos não parecem ocorrer por<br />

acaso. Ainda que De Vries tenha observado<br />

o súbito e casual surgimento <strong>de</strong> novas varieda<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> plantas e tenha assumido esse fato<br />

como base real da E. {Teoria das mutações,<br />

1901), sempre pareceu difícil <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r o caráter<br />

casual e arbitrário <strong>de</strong> todo o processo<br />

evolutivo. Foi graças a essa dificulda<strong>de</strong> que as<br />

teorias vitalistas ganharam força. A mais famosa<br />

<strong>de</strong>las, no mundo contemporâneo, é a <strong>de</strong> Bergson,<br />

que atribui a E. ao élan vital, isto é, a uma<br />

gran<strong>de</strong> corrente <strong>de</strong> consciência que é lançada<br />

na matéria e ten<strong>de</strong> a dominá-la, tendo mais sucesso<br />

numa direção, menos em outra, e progredindo<br />

sobretudo nas duas direções fundamentais:<br />

do instinto nos artrópo<strong>de</strong>s e da inteligência<br />

no homem (Évol. créatr., 1907).<br />

Mas, mesmo rejeitando a idéia <strong>de</strong> um plano total<br />

previamente disposto ou pre<strong>de</strong>terminado<br />

(que, segundo Bergson, seria "um mecanicismo<br />

às avessas"), a teoria bergsoniana da E.<br />

ainda é finalista e passível das mesmas objeções<br />

que Bergson faz ao vitalismo: assumir<br />

como princípio <strong>de</strong> explicação a ignorância da<br />

explicação. Como observou Huxley, atribuir a<br />

E. a um élan vital explica a história da vida tanto<br />

quanto atribuir o movimento <strong>de</strong> uma máquina<br />

a vapor a um élan locomotif explica o funcionamento<br />

<strong>de</strong>ssa máquina. O recurso a um<br />

termo metafísico, que só faz cobrir uma zona<br />

<strong>de</strong> ignorância, mascarando-a como saber e,<br />

portanto, afastando ou <strong>de</strong>sencorajando a<br />

pesquisa positiva ten<strong>de</strong>nte a diminuí-la, tam-<br />

bém é evi<strong>de</strong>nte nas outras formas <strong>de</strong> vitalismo<br />

contemporâneo. Assim, Driesch recorre<br />

à enteléquia, velho conceito aristotélico, à qual<br />

atribui a função diretiva na construção do organismo<br />

(Philosopbie <strong>de</strong>s Organischen, 1908-09).<br />

Os estudos <strong>de</strong> genética (v.) encaminharam a<br />

teoria da E. para um terreno positivo <strong>de</strong> pesquisas,<br />

transformando-a num quadro que abrange<br />

os instrumentos e as possíveis direções da<br />

pesquisa biológica e evitando a dogmatização<br />

<strong>de</strong> princípios parcialmente provados, que fora a<br />

característica da fase prece<strong>de</strong>nte. Os fundamentos<br />

da mo<strong>de</strong>rna teoria da E. po<strong>de</strong>m ser assim<br />

resumidos:<br />

l s Separação da idéia <strong>de</strong> E. da idéia <strong>de</strong> progresso.<br />

E. não é necessariamente progresso, e<br />

muito menos progresso unilinear, necessário e<br />

constante. Seja qual for o critério escolhido<br />

para julgar o curso da E., ver-se-á que a história<br />

da vida oferece exemplos não só <strong>de</strong> progressos,<br />

em relação a esse critério, mas também <strong>de</strong><br />

retrocessos e <strong>de</strong>generações. Huxley sugeriu<br />

como critério objetivo <strong>de</strong> progresso o da dominação<br />

sucessiva <strong>de</strong> um grupo biológico: critério<br />

que levaria a constituir uma sucessão <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>s:<br />

"Ida<strong>de</strong> dos invertebrados", "Ida<strong>de</strong> dos peixes",<br />

"Ida<strong>de</strong> dos anfíbios", "Ida<strong>de</strong> dos répteis",<br />

"Ida<strong>de</strong> dos mamíferos" e "Ida<strong>de</strong> do homem"<br />

(E., The Mo<strong>de</strong>m Synthesis, 1942). Mas também<br />

essa sucessão <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>s tampouco é objetiva,<br />

porque obviamente é sugerida pelo critério <strong>de</strong><br />

aproximação ao homem. Po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>finidas<br />

outras linhas <strong>de</strong> progresso com base na expansão<br />

vital ou na adaptação ao ambiente, critérios<br />

que sugerem a organização das espécies animais<br />

segundo o grau <strong>de</strong> sucesso na realização<br />

<strong>de</strong> alguma <strong>de</strong>ssas duas coisas. Outro critério<br />

que os biólogos utilizam com freqüência é a<br />

chamada lei <strong>de</strong> Willinston, segundo a qual "o<br />

número <strong>de</strong> partes <strong>de</strong> um organismo ten<strong>de</strong> a<br />

reduzir-se e sua função ten<strong>de</strong> a especializarse",<br />

ou seja, há uma tendência à simplificação<br />

mais do que à complicação. Outros indicam<br />

como critério a energia geral do organismo ou<br />

o nível do processo vital (SEWERTZOFF, Morphologische<br />

Gesetzmassigleeiten <strong>de</strong>r E., 1931).<br />

Cada um <strong>de</strong>sses critérios leva a organizar as<br />

espécies vivas ou seus maiores grupos <strong>de</strong> um<br />

modo que coinci<strong>de</strong> apenas parcial e ocasionalmente<br />

com a organização resultante dos outros<br />

critérios.<br />

2 Q Exigência <strong>de</strong> que os fatores invocados para<br />

explicar a E. não só expliquem o que ocorre<br />

segundo um plano na organização da vida, mas

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