22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

DOXICO 294 DUPLA VERDADE<br />

dieval, sendo usada p. ex. por S. Boaventura,<br />

para caracterizar o êxtase: "Como por uma<br />

douta ignorância, nosso espírito é arrebatado<br />

acima <strong>de</strong> si, na obscurida<strong>de</strong> e no êxtase"<br />

(Breviloquium, V, 6). Mas sua difusão <strong>de</strong>ve-se<br />

a Nicolau <strong>de</strong> Cusa, que <strong>de</strong>u esse título a uma<br />

<strong>de</strong> suas maiores obras (De docta ignorantia,<br />

1440). Nicolau <strong>de</strong> Cusa, como os outros, usou<br />

a expressão com referência a Deus: a D.<br />

ignorância consiste em saber que nada se po<strong>de</strong><br />

saber <strong>de</strong> Deus. Deus é infinito, logo está além<br />

<strong>de</strong> qualquer proporção com o finito, ou seja,<br />

com o homem: o que faz <strong>de</strong>le algo <strong>de</strong> incomensurável<br />

em relação aos po<strong>de</strong>res humanos,<br />

po<strong>de</strong>ndo ser entendido somente por via <strong>de</strong><br />

alterida<strong>de</strong>, ou seja, negando ou levando ao<br />

extremo os caracteres conhecidos pelo homem<br />

(De docta ignor., I, 3; De coniecturis, I, 13;<br />

Apologia, p. 13) (v. IGNORÂNCIA).<br />

DOXICO (ai. Doxisch). De doxa (opinião).<br />

Husserl indica com esse adjetivo todos os<br />

caracteres próprios da crença (ou doxa) (I<strong>de</strong>en,<br />

I, § 103).<br />

DOXOLOGIAouPRATICOLOGIA(fr Doxologíe<br />

ou practicologie). Foi esse o nome<br />

dado por Leibniz a certas formas <strong>de</strong> expressão<br />

que se coadunam com o uso popular ou corrente,<br />

ainda que não sejam rigorosamente<br />

exatos; por exemplo, continua-se dizendo<br />

que o sol nasce e se põe, mesmo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

aceita a teoria <strong>de</strong> Copérnico (Disc. <strong>de</strong> Mét.,<br />

§ 27).<br />

DUALIDADE (lat. Dualitas; in. Duality, fr.<br />

Dualité, ai. Dualitãt; it. Dualitã). Relação que<br />

une dois objetos quaisquer, <strong>de</strong> tal modo<br />

que um po<strong>de</strong> transformar-se no outro mediante<br />

operações oportunas. Esse pelo menos é o<br />

conceito <strong>de</strong>finido em geometria, em que são<br />

chamadas <strong>de</strong> duais duas figuras que po<strong>de</strong>m ser<br />

obtidas uma da outra, assim como a reta e o<br />

ponto, porque traçar uma reta passando por<br />

um ponto e marcar um ponto sobre uma reta<br />

são ambas operações duais. Em <strong>filosofia</strong>, a palavra<br />

não tem significado tão preciso: indica em geral<br />

um par <strong>de</strong> termos entre os quais haja uma relação<br />

essencial: p. ex., matéria e forma, etc.<br />

DUALISMO (in. Dualism; fr. Dualisme, ai.<br />

Dualismus. it. Dualismo). Esse termo foi cunhado<br />

no séc. XVIII (aparece pela primeira vez, provavelmente,<br />

em THOMAS HYDE, Historia religionis<br />

veterumpersarum, 1700, cap. IX, p. 164), para<br />

indicar a doutrina <strong>de</strong> Zoroastro, que admite dois<br />

princípios ou divinda<strong>de</strong>s, um do bem e outro<br />

do mal, em luta constante entre si. Bayle e Leibniz<br />

empregam essa palavra no mesmo sentido, mas<br />

Christian Wolff dá-lhe significado diferente, ao<br />

dizer que são "dualistas aqueles que admitem<br />

a existência <strong>de</strong> substâncias materiais e <strong>de</strong> substâncias<br />

espirituais" (Psychol. rat., § 39). Esse foi<br />

o significado que se tornou mais comum e difundido<br />

na tradição filosófica. Segundo ele, o<br />

fundador do dualismo seria Descartes, que reconheceu<br />

a existência <strong>de</strong> duas espécies diferentes<br />

<strong>de</strong> substâncias: a corpórea e a espiritual.<br />

Essa palavra, todavia, muitas vezes foi estendida<br />

para indicar outras oposições reais que os<br />

filósofos <strong>de</strong>scobriram no universo: p. ex., a oposição<br />

aristotélica entre matéria e forma, a medieval<br />

entre existência e essência e uma oposição<br />

que ocorre em todos os tempos, entre aparência<br />

e realida<strong>de</strong>. Arthur O. Lovejoy examinou<br />

historicamente a revolta contra o D. (TheRevolt<br />

Against Dualism, 1930), insistindo na necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> certa forma <strong>de</strong> D. ou pelo menos <strong>de</strong><br />

"bifurcação da experiência" que justifique a distinção<br />

entre a aparência ilusória e a realida<strong>de</strong><br />

(v. MONISMO).<br />

DUCTIO PER IMPOSSIBILE. Ou ainda: per<br />

contradictoriampropositionem. Redução da tese<br />

adversária ao absurdo por meio da <strong>de</strong>monstração<br />

da contradição que ela implica. Assume a forma<br />

dos silogismos Baroco (v.) e Bocardo (v.)<br />

(JUNGIUS, Lógica, III, 14; cf. ARISTÓTELES, An.<br />

pr, I, 5, 27 a 36 ss.).<br />

DUPLA VERDADE (in. Double truth; fr.<br />

Double vérité, ai. Doppelte Wahrheit; it. Doppia<br />

veritã). Foi assim que os escolásticos latinos<br />

<strong>de</strong>signaram a doutrina <strong>de</strong> Averróis sobre as<br />

relações entre religião e <strong>filosofia</strong>, sendo assim<br />

<strong>de</strong>signadas <strong>de</strong>pois todas as doutrinas semelhantes.<br />

Segundo Averróis "a religião dos filósofos<br />

consiste em aprofundar o estudo <strong>de</strong> tudo<br />

o que é; não se po<strong>de</strong>ria ren<strong>de</strong>r a Deus culto<br />

melhor do que conhecer suas obras, que leva<br />

a conhecê-lo em toda a sua realida<strong>de</strong>" (MUNK,<br />

Mélanges <strong>de</strong> pbil. juíve et árabe, p. 456). Por<br />

outro lado, a pesquisa filosófica não po<strong>de</strong> ser<br />

<strong>de</strong> todos e a religião do filósofo não po<strong>de</strong><br />

ser a religião do vulgo. A religião feita para a<br />

maioria segue e <strong>de</strong>ve seguir um caminho "simples<br />

e narrativo", que ilumine e dirija a ação.<br />

Segundo Averróis, cabe à <strong>filosofia</strong> o mundo da<br />

especulação; à religião, o mundo da ação (Destructio<br />

<strong>de</strong>struitionum, disp. 6, pp. 56, 79).<br />

Como se vê, o ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> Averróis nada<br />

tem em comum com o fi<strong>de</strong>ísmo grosseiro que<br />

contrapõe a verda<strong>de</strong> da razão à verda<strong>de</strong> da fé<br />

e se <strong>de</strong>cida por esta num ato <strong>de</strong> arbítrio ou <strong>de</strong>

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!