22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

INTUIÇÃO 582 INTUIÇÃO<br />

Anal. dos conceitos, seç. 1). A I. intelectual é<br />

originária e criativa: nela o objeto é posto ou<br />

criado, portanto só se encontra no Ser criador,<br />

<strong>de</strong> Deus (Ibid., § 8, ao final; passim). Em outros<br />

termos, intelectual é a intuição divina da <strong>filosofia</strong><br />

tradicional: a presença do objeto a esta intuição<br />

é inevitável e necessária porque o objeto<br />

é criado pela própria intuição.<br />

Essa distinção kantiana foi conservada pelo<br />

Romantismo, mas só com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reivindicar<br />

para o homem a I. intelectual ou criativa<br />

que Kant e os antigos reservavam para<br />

Deus. Isso é compreensível, visto que, para os<br />

românticos, o conhecimento humano é o mesmo<br />

conhecimento com que o Espírito Absoluto<br />

ou criador se conhece a si mesmo, ou<br />

pelo menos é um aspecto ou um momento<br />

<strong>de</strong>la. Assim, Fichte enten<strong>de</strong> por I. intelectual "a<br />

consciência imediata <strong>de</strong> que eu ajo e daquilo<br />

que faço, sendo aquilo graças a que o Eu sabe<br />

enquanto faz" (Werke, I, p. 463). Por sua<br />

vez, Schelling afirma que "a <strong>filosofia</strong> transcen<strong>de</strong>ntal<br />

<strong>de</strong>ve ser constantemente acompanhada<br />

pela I. intelectual" e que o eu é "uma I.<br />

intelectual contínua", porquanto "se autoproduz".<br />

E acrescenta: "Assim como, sem a I.<br />

do espaço, a geometria seria absolutamente<br />

incompreensível, porque todas as suas construções<br />

são apenas formas e maneiras variadas <strong>de</strong><br />

limitar essa I., também sem a I. intelectual a<br />

<strong>filosofia</strong> seria impossível porque todos os seus<br />

conceitos não passam <strong>de</strong> limitações diversas do<br />

produzir que se tem por objeto, em outras palavras,<br />

a I. intelectual" (System ler transzen<strong>de</strong>ntalen"l<strong>de</strong>alismus,<br />

seç. I, cap. I, trad. it., p.<br />

39). Hegel, por sua vez, i<strong>de</strong>ntificava I. e pensamento:<br />

"O puro intuir é o mesmo que o puro<br />

pensar... Fé e I. <strong>de</strong>vem ser tomadas em sentido<br />

mais elevado, como fé em Deus, como I. intelectual<br />

<strong>de</strong> Deus: vale dizer que se <strong>de</strong>ve abstrair<br />

exatamente daquilo que constitui a diferença<br />

entre I. e fé, <strong>de</strong> um lado, e pensamento, <strong>de</strong><br />

outro. Não se po<strong>de</strong> afirmar que fé e I., transportadas<br />

para essa região mais alta, ainda sejam<br />

diferentes <strong>de</strong> pensamento" (Ene, § 63). A<br />

mesma tese é sustentada por Schopenhauer,<br />

que i<strong>de</strong>ntifica intelecto e I., e preten<strong>de</strong> que até<br />

as conexões lógicas sejam reduzidas a elementos<br />

intuitivos (Die Welt, I, § 15). À mesma linha<br />

<strong>de</strong> conceitos pertence a noção <strong>de</strong> I. encontrada<br />

em Rosmini: como apreensão imediata da idéia<br />

do ser em geral (Nuovo saggio, § 1.159; Antropologia,<br />

§ 40, 505; Psicologia, § 13). E, apesar <strong>de</strong><br />

opor-se a Rosmini quanto ao caráter in<strong>de</strong>-<br />

terminado e vazio da idéia <strong>de</strong> ser, Gioberti<br />

aceitava a noção <strong>de</strong> intuição como relação imediata,<br />

total e necessária da mente humana com<br />

Deus e com sua ação criadora (Intr. alio studio<br />

<strong>de</strong>lia fü., II, p. 46). Esta continuava sendo uma<br />

"I. intelectual", mas também é intelectual a I. <strong>de</strong><br />

que fala Bergson, conquanto carregada <strong>de</strong> polêmica<br />

antiintelectualista ou anti-racionalista.<br />

De fato, como órgão próprio da <strong>filosofia</strong>, ela<br />

possui as características da I. intelectual romântica:<br />

relação imediata ou direta com a realida<strong>de</strong><br />

absoluta, ou seja, com a duração da consciência<br />

ou com o impulso criativo da vida. Bergson<br />

afirma: "AI. é a visão do espírito por parte do<br />

espírito." "I. significa principalmente consciência,<br />

mas consciência imediata, visão que mal se<br />

distingue do objeto visto, conhecimento que é<br />

contato e até coincidência" (La pensée et le<br />

mouvant, 3 a ed., 1934, pp. 35-36). As mesmas<br />

características formais encontram-se na I. eidética<br />

ou I. da essência da qual fala Husserl: "A<br />

essência é um objeto <strong>de</strong> nova espécie. Assim<br />

como o dado da I. individual empírica é um<br />

objeto indidual, também o dado da I. eidética<br />

é uma essência pura. Não se trata <strong>de</strong> uma analogia<br />

externa, mas sim <strong>de</strong> uma afinida<strong>de</strong> radical.<br />

Também a I. eidética é uma I., assim como<br />

o objeto eidético é um objeto. A generalização<br />

dos conceitos correlativos 'I.' e 'objeto' não é<br />

arbitrária, mas exigida necessariamente pela<br />

natureza das coisas" (I<strong>de</strong>en, I, § 3). Por fim, a I.<br />

que Croce i<strong>de</strong>ntifica com a arte tem as mesmas<br />

características formais: é conhecimento originário<br />

e imediato, que por isso não distingue entre<br />

real e irreal; tem caráter ou fisionomia individual<br />

e expressa diretamente o objeto (Estética,<br />

cap. 1).<br />

Recapitulando as características comuns e<br />

as diferenciais da I. ao longo da história da<br />

<strong>filosofia</strong>, po<strong>de</strong>mos dizer sobre as primeiras<br />

que a I. é uma relação com o objeto, caracterizada:<br />

l s pela imediação e 2- pela presença<br />

efetiva do objeto. Constantemente, com<br />

base nessas características, a I. é consi<strong>de</strong>rada<br />

uma forma <strong>de</strong> conhecimento privilegiado.<br />

Por outro lado, suas características diferenciais<br />

po<strong>de</strong>m ser assim distintas: l e a I. po<strong>de</strong> ser<br />

exclusiva <strong>de</strong> Deus e consi<strong>de</strong>rada o conhecimento<br />

que o criador tem das coisas criadas; 2 a<br />

po<strong>de</strong> ser atribuída ao homem e consi<strong>de</strong>rada a<br />

experiência como conhecimento <strong>de</strong> um objeto<br />

presente, sendo, nesse sentido, percepção (v.);<br />

3 2 po<strong>de</strong> ser atribuída ao homem e consi<strong>de</strong>rada<br />

conhecimento originário e criativo no sentido

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!