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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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DEUS 250 DEUS<br />

Do Uno emana, em primeiro lugar, a Inteligência<br />

na qual resi<strong>de</strong>m as estruturas substanciais<br />

do ser e que, por isso, Plotino i<strong>de</strong>ntifica com o<br />

próprio Ser, e, em segundo lugar, a Alma, que<br />

penetra e governa o mundo (Ibid., V, 1, 6). O<br />

mundo, emanado da Inteligência e governado<br />

pela Alma, é cópia perfeita da divinda<strong>de</strong><br />

emanadora, sendo eterno e incorruptível como<br />

o mo<strong>de</strong>lo (Ibid., V, 81, 12); ele "é um D. bemaventurado<br />

que se basta a si mesmo" (Ibid., III,<br />

5,5). A noção <strong>de</strong> emanação, para a qual ''o ser<br />

gerado existe necessariamente junto com o seu<br />

gerador e só é separado <strong>de</strong>le por sua própria<br />

alterida<strong>de</strong>" (Ibid., V, 1, 6), vê o mundo como<br />

parte integrante <strong>de</strong> D., e D. como origem única<br />

do processo emanativo, algo superior ao mundo<br />

e inexprimível nos termos do mundo. D.<br />

propriamente não é nem ser ou substância,<br />

nem vida, ou inteligência, por ser superior a<br />

essas coisas: elas, porém como emanações<br />

suas, fazem parte <strong>de</strong>le. Proclo cunha as palavras<br />

a<strong>de</strong>quadas: "D. é supersubstancial, supervital<br />

e superinteligente" (Inst. theol, 115); essas<br />

palavras se tornam nos primórdios da Escolástica<br />

cristã com Scotus Erigena: para ele, D. não<br />

é substância, mas Supersubstância; não é verda<strong>de</strong>,<br />

mas Superverda<strong>de</strong>, etc. (Dedivis. nat., I,<br />

14). Mas, ao mesmo tempo, o mundo é D., ou<br />

melhor, como diz Scotus Erigena, manifestação<br />

<strong>de</strong> D., teofania. O processo da teofania vai <strong>de</strong><br />

D. ao Verbo, do Verbo ao mundo e do mundo<br />

retorna a D. Desse modo, "D. está acima <strong>de</strong> todas<br />

as coisas e em todas elas; é a substância <strong>de</strong><br />

todas as coisas porque só ele é; e conquanto<br />

seja tudo em tocias as coisas, não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser<br />

tudo fora <strong>de</strong> todas as coisas" (Ibid., IV, 5).<br />

A característica da divinda<strong>de</strong> nessa concepção<br />

é sua "supersubstancialida<strong>de</strong>", seu ser acima<br />

do ser (<strong>de</strong> qualquer espécie <strong>de</strong> realida<strong>de</strong>).<br />

Por essa característica, já em Plotino, D. só parece<br />

acessível a um arrebatamento excepcional<br />

ou sobrenatural, ou seja, ao êxtase místico<br />

(Enn., VI, 7, 35). Por esse mesmo caráter, D.<br />

não po<strong>de</strong> ser objeto <strong>de</strong> uma ciência positiva,<br />

que <strong>de</strong>termine sua natureza, mas só <strong>de</strong> uma<br />

"teologia negativa" que aju<strong>de</strong> a compreendê-lo<br />

<strong>de</strong>terminando o que ele não é. O conceito <strong>de</strong><br />

teologia negativa, que está em Proclo (Theol.<br />

plat., II, 10-11) difundiu-se na <strong>filosofia</strong> cristã<br />

por obra do pseudo-Dionísio, o Areopagita,<br />

com a sua Tbeologia mystica. O conceito <strong>de</strong> D.<br />

como Supersubstância emanante, da ascensão<br />

mística que culmina no êxtase e da teologia negativa<br />

são os três aspectos fundamentais do<br />

conceito panteísta <strong>de</strong> D. que compreen<strong>de</strong> em<br />

si o mundo e é idêntico à sua natureza última.<br />

Qualquer <strong>de</strong>ssas <strong>de</strong>terminações, ao aparecer<br />

na história da <strong>filosofia</strong>, ten<strong>de</strong> a reproduzir as<br />

outras. Teologia negativa e misticismo foram,<br />

ao que sabemos, as características do panteísmo<br />

<strong>de</strong> Amalric <strong>de</strong> Bène e <strong>de</strong> Davi <strong>de</strong> Dinant<br />

no séc. XII: o primeiro via em D. a essência ou<br />

forma das coisas; o segundo, a matéria das próprias<br />

coisas (S. TOMÁS, In Sent., II, d. 17, q. 1, a.<br />

1). Essas mesmas características reparecem na<br />

mística do Mestre Eckhart (séc. XIV), para<br />

quem D. é "uma Essência supra-essencial e um<br />

Nada supra-ente" (Deutsche Mystiker, edição<br />

Pfeiffer, II, pp. 318-19), <strong>de</strong> tal modo que <strong>de</strong>le<br />

nada se po<strong>de</strong> dizer senão que é uma "quietu<strong>de</strong><br />

erma", ao mesmo tempo em que é preciso<br />

reconhecê-lo como a verda<strong>de</strong>ira essência das<br />

criaturas. "Se D. por um momento se retirasse<br />

<strong>de</strong>las, diz Eckhart, "elas se reduziriam ao<br />

nada" (Ibid., p. 136). No séc. XV, Nicolau <strong>de</strong><br />

Cusa retoma a mesma concepção: D. é a essência<br />

ou a substância do mundo e o mundo é um<br />

D. contraído, no sentido <strong>de</strong> que é um D. que<br />

se <strong>de</strong>termina e se individualiza numa multiplicida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> coisas singulares (Dedocta ignor., II,<br />

4). D. é tudo em todas as coisas e todas as coisas<br />

estão em D., já que ele é "a essência <strong>de</strong> todas<br />

as essências" e portanto a complicação e a<br />

explicação da multiplicida<strong>de</strong> cósmica: o ponto<br />

no qual a multiplicida<strong>de</strong> se unifica e do qual<br />

começa a diversificar-se (Ibid., II, 5; I, 2).<br />

Giordano Bruno, por sua vez, utiliza a tese<br />

neoplatônica e mística da transcendência e da<br />

incognoscibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> D. para limitar-se a consi<strong>de</strong>rar<br />

D. como natureza. Como tal, D. é a causa<br />

e o princípio do mundo: causa no sentido <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>terminar as coisas que constituem o mundo,<br />

permanecendo distinto <strong>de</strong>las; princípio no sentido<br />

<strong>de</strong> constituir o próprio ser das coisas naturais<br />

(De Ia causa, II, em Op. ital, I, 177). Em<br />

nenhum dos casos se distingue da natureza: "A<br />

natureza é D. mesmo ou é a virtu<strong>de</strong> divina que<br />

se manifesta nas coisas" (Summa ter. met., em<br />

Op. lat. IV, 101). Quase simultaneamente,<br />

Jacob Boehme consi<strong>de</strong>rava D. como "um nada<br />

eterno" (Mysterium magnum, I, 2) e como raiz<br />

do mundo natural, que não foi criado do nada,<br />

mas <strong>de</strong> D., e nada mais é que a revelação ou a<br />

explicação da essência divina (De tribus<br />

principiis, 7, 23). Não têm um significado muito<br />

diferente as fórmulas com que, no séc. XIX,<br />

Scheüing expressou o conceito <strong>de</strong> D. do ponto<br />

<strong>de</strong> vista <strong>de</strong> sua <strong>filosofia</strong> da natureza. D. é uni-

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