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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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ORGANISMO 734 ORGANON<br />

dissolvido no finalismo cósmico. A esse mesmo<br />

resultado chega a doutrina <strong>de</strong> Bergson, que<br />

vê no O. o resultado <strong>de</strong> um elà vital (ou corrente<br />

<strong>de</strong> consciência) que penetra e sujeita a matéria<br />

bruta. O que do ponto <strong>de</strong> vista da ciência<br />

é "máquina", do ponto <strong>de</strong> vista da <strong>filosofia</strong> é o<br />

equilíbrio atingido pelo elà vital em seu esforço<br />

formador. F. diz: "Para nós, o conjunto da máquina<br />

organizada representa o conjunto do trabalho<br />

organizativo (embora mesmo este só seja<br />

verda<strong>de</strong>iro aproximativamente), mas as peças<br />

da máquina não correspon<strong>de</strong>m às partes do<br />

trabalho, visto que a materialida<strong>de</strong> da máquina<br />

não representa mais um conjunto <strong>de</strong> meios empregados,<br />

mas um conjunto <strong>de</strong> obstáculos contornados:<br />

é uma negação mais do que uma<br />

realida<strong>de</strong> positiva" (Évol. créatr., 8- ed., 1911,<br />

p. 102) A realida<strong>de</strong> positiva é somente o elà<br />

vital, isto é, a consciência.<br />

A disputa metafísica entre finalismo e mecanicismo,<br />

ou entre materialismo e vitalismo,<br />

não influencia o conceito <strong>de</strong> organismo. Aquilo<br />

que, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> Kant, convencionou-se chamar<br />

<strong>de</strong> "finalida<strong>de</strong> interna" do O. não foi posto em<br />

dúvida nem (como vimos) por quem concebia<br />

o O. como máquina. Por outro lado, a resolução<br />

da finalida<strong>de</strong> intrínseca do O. no finalismo<br />

cósmico, apreciada por todas as formas <strong>de</strong><br />

vitalismo e, em geral, por todas as interpretações<br />

metafísicas do O., não ajuda em nada a<br />

esclarecer o conceito <strong>de</strong> O. porque, ao recorrer<br />

a uma tese genérica, só dá uma solução<br />

aparente ao problema <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r as formas<br />

específicas <strong>de</strong> ação da finalida<strong>de</strong> orgânica. Os<br />

biólogos contemporâneos ten<strong>de</strong>m, portanto, a<br />

fugir à antítese entre mecanismo e finalismo.<br />

Goldstein julga tào inútil o recurso à enteléquia<br />

quanto o recurso ao finalismo cósmico, mas julga<br />

indispensável insistir na ação do O. como<br />

totalida<strong>de</strong>. Isso leva a admitir o finalismo interno<br />

do O. "A hipótese <strong>de</strong> uma tarefa <strong>de</strong>terminada"<br />

— diz ele — "é supérflua para a compreensão<br />

do O., mas a hipótese <strong>de</strong> um objetivo<br />

<strong>de</strong>terminado (a realização da essência do O.) é<br />

bastante profícua para a nossa compreensão<br />

do O." (Der Aufbau <strong>de</strong>s Organismus. 1934,<br />

p. 264). Mais recentemente Simpson disse: "Sabemos<br />

que o fogo não é um elemento ou princípio<br />

separado, mas um processo e uma organizaçào<br />

da matéria em que a conduta da<br />

matéria é diferente da que existe no nào-fogo.<br />

Do mesmo modo. não se renuncia à perspectiva<br />

materialista quando se consi<strong>de</strong>ra a vida como<br />

um processo e uma organização em que a<br />

conduta da matéria é diferente da que se observa<br />

nos estados não-vivos" (TheMeaning of<br />

Evolution, 1952, p. 125). Por outro lado, a capacida<strong>de</strong><br />

que o O. tem <strong>de</strong> <strong>de</strong>sfrutar das possibilida<strong>de</strong>s<br />

ou oportunida<strong>de</strong>s que sua estrutura,<br />

suas próprias variações ou mesmo o ambiente<br />

lhe oferecem — que Simpson chama <strong>de</strong> oportunismo<br />

da vida — outra coisa nào é senào a<br />

própria "finalida<strong>de</strong> intrínseca" da qual falam os<br />

outros biólogos. Isso fora reconhecido até por<br />

um dos fundadores do Círculo <strong>de</strong> Viena, Morta<br />

Schlick: "Um grupo <strong>de</strong> processos ou <strong>de</strong> órgãos<br />

é chamado <strong>de</strong> finalista em relação a um efeito<br />

<strong>de</strong>finido se esse efeito for normal na cooperação<br />

dos processos e dos órgãos. Aqui é preciso<br />

ressaltar a cooperação; num caso específico,<br />

esses processos, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo das circunstâncias,<br />

po<strong>de</strong>m ocorrer <strong>de</strong> várias maneiras, mas<br />

são inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e interligados <strong>de</strong> tal maneira<br />

que sempre produzem aproximadamente a<br />

mesma espécie <strong>de</strong> efeitos" ("Naturphilosophie",<br />

em Die Philosophie in ihren F.inzelgebieten,<br />

Berlim, 1925; trad. in. em Readings<br />

in the Pbilosophy of Science, 1953, p. 529).<br />

Este conceito <strong>de</strong> finalismo <strong>de</strong>certo nada tem a<br />

ver com a tese do finalismo universal: trata-se<br />

<strong>de</strong> um finalismo limitado, específico, que proce<strong>de</strong><br />

por tentativas e tem êxito só em certos<br />

casos, e nào do plano universal infalível, no<br />

qual todos os seres se acham salvaguardados.<br />

Algumas vezes foi chamado <strong>de</strong> teleonomia(\'.).<br />

Desse ponto <strong>de</strong> vista, o O. po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado<br />

como máquina, mas uma máquina dotada<br />

<strong>de</strong> unida<strong>de</strong> funcional, coerente, integral e, a<strong>de</strong>mais,<br />

capaz <strong>de</strong> autoconstruir-se, com base num<br />

plano ou projeto que se mantém relativamente<br />

invariável <strong>de</strong> geração em geração (cf., p. ex., J.<br />

MONOD, Le hasar<strong>de</strong>t Ia necessite, 1970, cap. III).<br />

V. CIBERNÉTICA; SISTF.MA; ESTRUTURA.<br />

ORGANON (gr. õp^avov; lat. Organum). Esse<br />

foi o título dado pelos fomentadores gregos<br />

ao conjunto das obras lógicas <strong>de</strong> Aristóteles:<br />

Categorias, Sobre a interpretação, Analíticos<br />

primeiros (dois livros), Analíticos segundos<br />

(dois livros); Tópicos (oito livros) e Refutações<br />

sofísticas. Duas outras vezes o nome O. aparece<br />

como título <strong>de</strong> livro: Novum Organum (1620),<br />

<strong>de</strong> Francis Bacon, que contrapôs explicitamente<br />

sua lógica à lógica aristotélica, e Neues O. (1764)<br />

<strong>de</strong> J. H. LAMBERT, filósofo iluminista alemão com<br />

quem Kant manteve importante correspondência.<br />

O uso <strong>de</strong>sse título, porém, não tem relação<br />

exata com a tarefa atribuída à lógica (v.).

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