22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

ÉTICA 383 ÉTICA<br />

da mesma intuição axiológica em que são dados<br />

e, portanto, são necessários e absolutos, o<br />

que, como pretendia Hartmann, <strong>de</strong>veria conter<br />

o avanço do "relativismo axiológico <strong>de</strong><br />

Nietzsche" (Ibid., p. 139).<br />

No entanto, o "relativismo axiológico <strong>de</strong><br />

Nietzsche" tem a mesma estrutura formal, ou<br />

seja, a mesma elaboração da E. <strong>de</strong> Hartmann e,<br />

em geral, da É. tradicional do fim, porque também<br />

se funda em uma hierarquia absoluta <strong>de</strong><br />

valores. Para Scheler e Hartmann, essa hierarquia,<br />

assim como os próprios valores, é <strong>de</strong><br />

todo in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da escolha humana; aliás,<br />

toda escolha é pressuposta pela escolha, quer<br />

esta se conforme ou não a ela. Essa também é<br />

a crença <strong>de</strong> Nietzsche. Só que, para Nietzsche,<br />

essa hierarquia é diferente: é a hierarquia<br />

dos valores vitais, dos valores em que se encarna<br />

a Vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Po<strong>de</strong>r: "Até hoje os valores<br />

morais ocuparam posição superior; quem<br />

po<strong>de</strong>ria duvidar <strong>de</strong>les? Mas retiremos esses<br />

valores <strong>de</strong> sua posição e mudaremos todos os<br />

valores: inverteremos o princípio da sua hierarquia<br />

prece<strong>de</strong>nte" (Wille zur Macht; trad. fr.<br />

Bianquis, III, 503). O imoralismo <strong>de</strong> Nietzsche,<br />

seu "relativismo axiológico", que o leva a criticar<br />

a moral corrente e ver nela formas camufladas<br />

<strong>de</strong> egoísmo e hipocrisia, é simplesmente a<br />

proposta <strong>de</strong> uma nova tábua <strong>de</strong> valores, fundada<br />

no princípio <strong>de</strong> aceitação entusiástica da<br />

vida, na preeminência do espírito dionisíaco. É<br />

por esse motivo que Nietzsche preten<strong>de</strong> substituir<br />

as virtu<strong>de</strong>s da moral tradicional pelas novas<br />

virtu<strong>de</strong>s em que se exprime a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> potência.<br />

É virtu<strong>de</strong> toda paixão que diz sim à vida<br />

e ao mundo: "a altivez, a alegria e a saú<strong>de</strong>; o<br />

amor sexual, a inimiza<strong>de</strong> e a guerra; a veneração,<br />

as belas aptidões, as boas maneiras, a<br />

vonta<strong>de</strong> forte, a disciplina da intelectualida<strong>de</strong><br />

superior, a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> potência, o reconhecimento<br />

para com a terra e para com a vida:<br />

tudo o que é rico e quer dar, quer recompensar<br />

a vida, dourá-la, eternizá-la e divinizá-la" (Ibid.,<br />

5 479). Assim, daquilo que consi<strong>de</strong>rou a natureza<br />

do homem, a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> potência,<br />

Nietzsche <strong>de</strong>duziu a tábua <strong>de</strong> valores morais<br />

que <strong>de</strong>veriam dirigir o homem para a realização<br />

da vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> potência num mundo <strong>de</strong><br />

super-homens. A estrutura <strong>de</strong> sua doutrina não<br />

é, portanto, diferente da estrutura <strong>de</strong> muitas<br />

outras que, utilizando o mesmo processo, ten<strong>de</strong>m<br />

a conservar e justificar as tábuas <strong>de</strong> valores<br />

tradicionais, <strong>de</strong>duzindo-as da natureza do<br />

homem ou da estrutura do ser.<br />

2° A segunda concepção fundamental da É.<br />

é a que se configura como uma doutrina do<br />

móvel da conduta. A característica <strong>de</strong>ssa concepção<br />

é que nela o bem não é <strong>de</strong>finido com<br />

base na sua realida<strong>de</strong> ou perfeição, mas só<br />

como objeto da vonta<strong>de</strong> humana ou das regras<br />

que a dirigem. Assim, enquanto na primeira<br />

concepção as normas <strong>de</strong>rivam do i<strong>de</strong>al que se<br />

assume como próprio do homem (a perfeição<br />

da vida racional, segundo Aristóteles, o Estado,<br />

segundo Hegel, a socieda<strong>de</strong> fechada ou aberta,<br />

segundo Bergson, etc); na segunda concepção<br />

procura-se em primeiro lugar <strong>de</strong>terminar<br />

o móvel Ao homem, ou seja, a normas que ele<br />

<strong>de</strong> fato obe<strong>de</strong>ce; portanto, <strong>de</strong>fine-se como bem<br />

aquilo a que se ten<strong>de</strong> em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse móvel,<br />

ou aquilo que se conforma à norma em que ele<br />

se exprime. Assim, quando Pródico formulava<br />

sua moral em proposições condicionais ou imperativos<br />

hipotéticos, estava criando uma das<br />

primeiras É. do móvel. Dizia: "Se quiseres que<br />

os <strong>de</strong>uses te sejam benévolos, <strong>de</strong>ves venerar os<br />

<strong>de</strong>uses. Se quiseres ser amado pelos amigos,<br />

<strong>de</strong>ves beneficiar os amigos. Se <strong>de</strong>sejares ser<br />

honrado por uma cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ves ser útil à cida<strong>de</strong>.<br />

Se aspiras a ser admirado por toda a<br />

Grécia, <strong>de</strong>ves esforçar-te por fazer bem à Grécia",<br />

etc. (XENOF., Memor.. II, i, 28). Do mesmo<br />

modo, Protágoras aspira a uma E. do móvel<br />

quando reconhece que o respeito mútuo e a<br />

justiça são as condições para a sobrevivência<br />

do homem. Esse é o sentido do mito <strong>de</strong> Prometeu,<br />

que Protágoras expõe no diálogo homônimo<br />

<strong>de</strong> Platão (Prot., 322 c). E a obra conhecida<br />

com o nome <strong>de</strong> Anônimo <strong>de</strong> Jâmblico reafirma<br />

esse ponto <strong>de</strong> vista. "Mesmo que houvesse<br />

(mas não há) um homem invulnerável, insensível,<br />

com corpo e alma <strong>de</strong> aço, só aliando-se às<br />

leis e ao direito, fortalecendo-os e utilizando<br />

sua força por eles e em favor <strong>de</strong>les, po<strong>de</strong>ria<br />

salvar-se, pois <strong>de</strong> outro modo não po<strong>de</strong>ria resistir"<br />

(Anôn.Jâmbi, 6, 3). Nessas formulações, o<br />

que se costuma evi<strong>de</strong>nciar é o mecanismo dos<br />

móveis que fundam as normas do direito e da<br />

moral: para sobreviver, o homem conforma-se<br />

a tais regras e não po<strong>de</strong> agir <strong>de</strong> outro modo.<br />

Em tais formulações, o móvel da conduta humana<br />

é o <strong>de</strong>sejo ou a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> sobreviver.<br />

Em outras formulações do mesmo gênero, esse<br />

móvel é o prazer. Aristipo afirmava que só o<br />

prazer é <strong>de</strong>sejado por si mesmo, e via a confirmação<br />

disso no fato <strong>de</strong> que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a infância,<br />

os homens procuram o prazer sem vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong>liberada<br />

e, quando o alcançam, não procuram

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!