22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

EXISTÊNCIA 399 EXISTÊNCIA<br />

gação, foi evi<strong>de</strong>nciado por Quine, que também<br />

ressaltou o fato <strong>de</strong> esse compromisso ontológico<br />

não ser meramente lingüístico, mas se<br />

assemelhar à aceitação <strong>de</strong> uma teoria científica<br />

(Fmm a Logical Point ofView, 1). A exigência<br />

<strong>de</strong>sse compromisso obviamente é maior no domínio<br />

da pesquisa científica. A linguagem comum<br />

é muito menos precisa ao <strong>de</strong>finir o modo<br />

<strong>de</strong> ser dos objetos aos quais atribui alguma<br />

espécie <strong>de</strong> existência. Seria por certo embaraçoso<br />

explicar com precisão o que se preten<strong>de</strong><br />

dizer quando se afirma, p. ex., que o objeto x<br />

tem E. "puramente fantástica" ou "puramente<br />

i<strong>de</strong>al", assim como é difícil dizer que tipo <strong>de</strong> E.<br />

cabe a um valor qualquer, como, p. ex., à beleza.<br />

Mas o que interessa aqui <strong>de</strong>stacar é que,<br />

mesmo quando falta <strong>de</strong>terminação precisa, como<br />

muitas vezes ocorre na linguagem comum,<br />

sempre está presente no uso da palavra "E." a<br />

referência a uma esfera limitada do ser ou à<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitá-la. Em geral, po<strong>de</strong>mos<br />

dizer: d) a palavra "E." possui significado<br />

próprio no âmbito <strong>de</strong> cada disciplina, que é explicitamente<br />

expresso ou implicitamente <strong>de</strong>finido<br />

pelas operações ou pelos procedimentos<br />

peculiares à disciplina; b) tal significado em<br />

geral só é válido no âmbito a que se esten<strong>de</strong>m<br />

os instrumentos ou procedimentos da disciplina,<br />

ou seja, no campo específico dos objetos<br />

<strong>de</strong>ssa disciplina, mas não tem significado fora<br />

<strong>de</strong>sse campo e não po<strong>de</strong> ser estendido a campos<br />

diferentes, que não tenham relações <strong>de</strong>finíveis<br />

com o campo em questão.<br />

2 a O significado <strong>de</strong> E. como E. <strong>de</strong> fato, vale<br />

dizer, aquilo que na realida<strong>de</strong> é ou subsiste, é o<br />

mais freqüente na história da <strong>filosofia</strong>. Aristóteles<br />

usava essa palavra com esse sentido ao dizer:<br />

"A ciência dá a razão <strong>de</strong> ser tanto <strong>de</strong> uma coisa<br />

quanto da sua privação, embora <strong>de</strong> modo diferente;<br />

a razão <strong>de</strong> ser é <strong>de</strong> ambas as coisas, mas<br />

especialmente daquilo que existe" (Met., IX, 2,<br />

1046 b 6; cf. De cael., II, 14, 247 b 22).<br />

Do mesmo modo, a palavra é usada por S. Tomás<br />

com o fim <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir a subsistência (subsistentiã)<br />

própria da substância, porquanto esta<br />

"existe não em outra coisa, mas em si mesma"<br />

(5. Th., I, q. 29, a. 2), ou <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir "o que é<br />

existente por si", quer dizer, o que é real sem<br />

ser qualida<strong>de</strong> ou aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> outro real (Ibid.,<br />

I, q. 75, a. 2), Obviamente, para S. Tomás, mesmo<br />

aquilo que não é "por si" po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado<br />

existente, como p. ex. um aci<strong>de</strong>nte real.<br />

A esfera da E. como realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fato é <strong>de</strong>finida<br />

mais explicitamente por Henrique <strong>de</strong> Gand,<br />

que introduz a distinção entre esse essentiae e<br />

esse existentiae. O ser da essência é o grau ou<br />

modo <strong>de</strong> ser que cabe à essência como tal,<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do ser da E.; o ser da E. é<br />

a realida<strong>de</strong> efetiva que po<strong>de</strong> sobrevir ou não<br />

ao ser da essência. Uso análogo <strong>de</strong>ssa palavra<br />

encontra-se em Spinoza {Et., 1,7), e em Leibniz<br />

(Nouv. ess., II, 7), além <strong>de</strong> Locke, que, para<br />

evitar equívocos, fala <strong>de</strong> "E. real" {Ensaio, II, 3,<br />

21). E. também é realida<strong>de</strong> para Berkeley<br />

(.Principies of Knowledge, 3) e Hume ( Treatise,<br />

I, 3, 7). Justamente por consi<strong>de</strong>rar a E. como<br />

realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fato, Kant nega que ela possa ser<br />

reduzida a um predicado conceituai (Crít. R.<br />

Pura, Analítica, II, cap. 2, seç. 3, 4). Na <strong>filosofia</strong><br />

contemporânea, a palavra é usada no mesmo<br />

sentido. Quando Dewey <strong>de</strong>fine a metafísica<br />

como "conhecimento das características genéricas<br />

da E." e fala da pretensão dos filósofos "<strong>de</strong><br />

lidar com o conhecimento da E. e não com a<br />

imaginação", enten<strong>de</strong> por esse termo a realida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> fato, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do embelezamento<br />

e da <strong>de</strong>formação que ela sofre na <strong>de</strong>scrição<br />

dos filósofos {Experience and Nature, cap. II).<br />

Para mais <strong>de</strong>talhes sobre esse significado, v.<br />

SER; FATO; REALIDADE. .<br />

3 Q O terceiro significado específico <strong>de</strong>sse<br />

termo é o que restringe ao modo <strong>de</strong> ser do<br />

homem no mundo. Esse significado encontrase<br />

no existencialismo (v.) como <strong>filosofia</strong>, cujo<br />

tema é a análise <strong>de</strong>sse modo <strong>de</strong> ser. Já nos séculos<br />

XVIII e XIX a alguns filósofos ocorreu<br />

insistir no significado específico da E. como<br />

modo <strong>de</strong> ser das criaturas finitas, dos entes<br />

criados. Viço observou que Descartes não <strong>de</strong>veria<br />

ter dito "Penso, logo sou", mas "Penso,<br />

logo existo"; a E. é o modo <strong>de</strong> ser próprio da<br />

criatura, porquanto significa estar embaixo ou<br />

em cima, e supõe substância, ou seja, o Ser divino<br />

que a sustem e a cria (Prima Risp. ai<br />

Giorn. <strong>de</strong>i Lett., § 3). Essa distinção foi aceita e<br />

adotada por Gioberti (Intr. allostudio <strong>de</strong>lia fil.,<br />

1840, II, cap. 4), mas não era suficiente para<br />

fazer da E. o tema <strong>de</strong> uma nova especulação.<br />

Outro passo nessa direção po<strong>de</strong> ser visto na<br />

chamada "<strong>filosofia</strong> da fé" <strong>de</strong> Hamann e Jacobi,<br />

que insistiu na irredutibilida<strong>de</strong> da E. à razão.<br />

Para Jacobi, a <strong>filosofia</strong> <strong>de</strong> Spinoza era o protótipo<br />

<strong>de</strong> toda <strong>filosofia</strong> que i<strong>de</strong>ntifica E. com razão<br />

e, portanto, não <strong>de</strong>ixa lugar à fé. Contra Spinoza,<br />

recorre a Hume, que i<strong>de</strong>ntificou a E. com<br />

a fé, ou melhor, com a crença (Hume, über<strong>de</strong>n<br />

Glauben, 1787). Schelling a<strong>de</strong>riu a essa tese na<br />

última fase <strong>de</strong> sua <strong>filosofia</strong>, que ele chamou <strong>de</strong>

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!