22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

ARTE 82 ARTEFATO<br />

uma distinção puramente <strong>de</strong> grau entre a A. e<br />

a ciência, colocando a A. como intermediária<br />

entre a experiência e a ciência. Mesmo aquelas<br />

páginas se concluem, porém, com a afirmação<br />

<strong>de</strong> que a sabedoria é antes conhecimento teórico<br />

do que A. produtiva (Met., I, 1, 982 a 1 ss.).<br />

Essa distinção aristotélica não foi, porém, adotada<br />

em todo o seu rigor pelo mundo antigo e<br />

medieval. Os estóicos ampliaram <strong>de</strong> novo a<br />

noção <strong>de</strong> A., afirmando que "a A. é um conjunto<br />

<strong>de</strong> compreensôes", enten<strong>de</strong>ndo por compreensão<br />

o assentimento ou uma representação<br />

compreensiva (SEXTO EMPÍRICO, Pirr. hyp.,<br />

III, 241, Adv. dogm., V, 182); na verda<strong>de</strong>, essa<br />

<strong>de</strong>finição não permite distinguir A. <strong>de</strong> ciência.<br />

E Plotino, que, por sua vez, faz tal distinção<br />

porque quer conservar o caráter contemplativo<br />

da ciência, distingue as A. com base em sua<br />

relação com a natureza. Distingue, portanto, a<br />

arquitetura e as A. análogas, cuja finalida<strong>de</strong> é a<br />

fabricação <strong>de</strong> um objeto, das A. que se limitam<br />

a ajudar a natureza, como a medicina e a agricultura,<br />

e das A. práticas, como a retórica e a<br />

música, que ten<strong>de</strong>m a agir sobre os homens,<br />

tornando-os melhores ou piores (Enn., IV, 4,<br />

31). A partir do séc. I foram <strong>de</strong>nominadas "A.<br />

liberais" (isto é, dignas do homem livre), em<br />

contraste com as A. manuais, nove disciplinas,<br />

algumas das quais Aristóteles teria <strong>de</strong>nominado<br />

ciências, e não artes. Essas disciplinas foram<br />

enumeradas por Varrão: gramática, retórica,<br />

lógica, aritmética, geometria, astronomia, música,<br />

arquitetura e medicina. Mais tar<strong>de</strong>, no séc.<br />

V, Marciano Capela, em Núpcias <strong>de</strong> Mercúrio e<br />

da filologia, reduzia a sete as A. liberais (gramática,<br />

retórica, lógica, aritmética, geometria,<br />

astronomia e música), eliminando as que lhe<br />

pareciam <strong>de</strong>snecessárias a um ser puramente<br />

espiritual (que não tem corpo), isto é, a arquitetura<br />

e a medicina, e estabelecendo assim o<br />

curriculum <strong>de</strong> estudos que <strong>de</strong>veria permanecer<br />

inalterado por muitos séculos (v. CULTURA).<br />

S. Tomás estabelecia a distinção entre A. liberali<br />

e A. servili com o fundamento <strong>de</strong> que as primeiras<br />

<strong>de</strong>stinam-se ao trabalho da razão, as<br />

segundas "aos trabalhos exercidos com o corpo,<br />

que são <strong>de</strong> certo modo servis, porquanto o<br />

corpo está submetido servilmente à alma e o<br />

homem é livre segundo a alma" (S. Th., II, 1, q.<br />

57, a. 3, ad 3). Contudo, a palavra A. continuou<br />

<strong>de</strong>signando, por longo tempo, não só as A.<br />

liberais mas também as A. mecânicas, isto é, os<br />

ofícios, assim como ocorre ainda hoje, pois<br />

enten<strong>de</strong>mos por A. ou artesão um ofício ou<br />

quem o pratica. Kant resumiu as características<br />

tradicionais <strong>de</strong>sse conceito ao fazer a distinção<br />

entre A. e natureza, <strong>de</strong> um lado, e entre A. e<br />

ciência, do outro; e distinguiu, na própria A., a<br />

A. mecânica e a A. estética. Sobre esse último<br />

ponto, diz: "Quando, conformando-se ao conhecimento<br />

<strong>de</strong> um objeto possível, a A. cumpre<br />

somente as operações necessárias para<br />

realizá-lo, diz-se que ela é A. mecânica; se,<br />

porém, tem por fim imediato o sentimento do<br />

prazer, é A. estética. Esta é A. aprazível ou bela<br />

A. É aprazível quando sua finalida<strong>de</strong> é fazer<br />

que o prazer acompanhe as representações<br />

enquanto simples sensações; é bela quando o<br />

seu fim é conjugar o prazer às representações<br />

como formas <strong>de</strong> conhecimento' 1 (Crít. do Juízo,<br />

§ 44). Em outros termos, a bela A. é uma espécie<br />

<strong>de</strong> representação cujo fim está em si mesma<br />

e, portanto, proporciona prazer <strong>de</strong>sinteressado,<br />

ao passo que as A. aprazíveis visam somente<br />

a fruição. A essa concepção <strong>de</strong> A. remetemse<br />

ainda hoje os que vêem nela a libertação das<br />

restrições impostas pela tecnocracia (MARCUSE,<br />

One Dimensional Man, 1964, pp. 238 ss.), ou<br />

pelo menos um meio <strong>de</strong> corrigi-las, fazendo<br />

valer, nesse sistema, a.expressão da personalida<strong>de</strong><br />

individual (GALBRAITH, The New Industrial<br />

State, 1967, p. XXX).<br />

Embora ainda hoje a palavra A. <strong>de</strong>signe<br />

qualquer tipo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> or<strong>de</strong>nada, o uso culto<br />

ten<strong>de</strong> a privilegiar o significado <strong>de</strong> bela A. Dispomos,<br />

<strong>de</strong> fato, <strong>de</strong> um termo para indicar os<br />

procedimentos or<strong>de</strong>nados (isto é, organizados<br />

por regras) <strong>de</strong> qualquer ativida<strong>de</strong> humana: é a<br />

palavra técnica. A técnica, em seu significado<br />

mais amplo, <strong>de</strong>signa todos os procedimentos<br />

normativos que regulam os comportamentos<br />

em todos os campos. Técnica é, por isso, a<br />

palavra que dá continuida<strong>de</strong> ao significado<br />

original (platônico) do termo arte. Por outro<br />

lado, os problemas relativos às belas A. e a seu<br />

objeto específico cabem hoje ao domínio da<br />

estética (v.).<br />

ARTEFATO (in. Artifact; fr. Artefact; ai.<br />

Artefakt; it. Artefattó). Objeto produzido, no<br />

todo ou em parte, pela arte ou por qualquer<br />

ativida<strong>de</strong> humana, na medida em que se distingue<br />

do objeto natural, produzido pelo acaso.<br />

Por isso, a presença <strong>de</strong> A. num estrato geológico<br />

normalmente é consi<strong>de</strong>rada pelos antropólogos<br />

como sinal <strong>de</strong> presença do homem na<br />

ida<strong>de</strong> correspon<strong>de</strong>nte: a natureza e a complexida<strong>de</strong><br />

dos A. são formadas como base para<br />

distinguir os tipos <strong>de</strong> cultura a que pertencem.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!