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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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LINGUAGEM 621 LINGUAGEM<br />

logico-philosophicus (1922) <strong>de</strong> Wittgenstein. O<br />

princípio era exposto por Russell da seguinte<br />

forma: "Em toda proposição que po<strong>de</strong>mos<br />

apreen<strong>de</strong>r (ou seja, não só aquelas cuja verda<strong>de</strong><br />

ou falsida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>mos julgar, mas todas as<br />

que pu<strong>de</strong>rmos imaginar), todos os constituintes<br />

são realmente entida<strong>de</strong>s das quais temos<br />

conhecimento direto" ("On Denoting", 1905,<br />

agora em Logic and Knouiedge, 1956, p. 56; cf.<br />

Mysticism and Logic, 1918, pp. 219, 221; The<br />

Problema of Philosophy, 1912, p. 91). Isso significa<br />

que a cada termo empregado nas proposições<br />

<strong>de</strong>ve correspon<strong>de</strong>r um termo ou entida<strong>de</strong><br />

objetiva da qual se tenha conhecimento direto<br />

(acquaintance), ou que <strong>de</strong>ve existir uma<br />

correspondência termo a termo entre os elementos<br />

que entram na composição das proposições<br />

e as entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> que se tem conhecimento<br />

direto. Russell observa a propósito que<br />

"<strong>de</strong>vemos atribuir um significado às palavras<br />

que usamos se <strong>de</strong>sejamos falar com algum significado<br />

e não por simples tagarelice, e o significado<br />

que atribuímos às palavras <strong>de</strong>ve ser algo<br />

do qual já tenhamos conhecimento" (Problems<br />

o/Pbii. p. 9D. Esta é simplesmente a reexposiçào<br />

da tese <strong>de</strong> Antístenes. segundo a qual falar<br />

significa dizer algo, mais precisamente algo<br />

que é. <strong>de</strong> tal forma que não é possível dizer o<br />

que não é; acrescenta-se a isso que o que é, ou<br />

seja, as entida<strong>de</strong>s correspon<strong>de</strong>ntes aos termos<br />

da L, <strong>de</strong>ve ser "diretamente conhecido". Russell<br />

baseava sua teoria da <strong>de</strong>notação nesse<br />

princípio: segundo ela, "quando existe alguma<br />

coisa <strong>de</strong> que não temos conhecimento imediato,<br />

mas apenas uma <strong>de</strong>finição com frases <strong>de</strong>notantes.<br />

as proposições nas quais essa coisa é<br />

introduzida por meio <strong>de</strong> uma frase <strong>de</strong>notante<br />

não contêm realmente a coisa como constituinte,<br />

mas os constituintes expressos pelas diversas<br />

palavras da frase <strong>de</strong>notante" ("On Denoting",<br />

Ibid., pp. 55-6). Assim, p. ex., como não<br />

temos experiência direta do espírito dos outros,<br />

se A 6 um <strong>de</strong>sses espíritos, não sabemos que<br />

"A possui esta e aquela proprieda<strong>de</strong>", mas sabemos<br />

apenas que "Fulano <strong>de</strong> Tal tem um espírito<br />

com esta ou aquela proprieda<strong>de</strong>". Todavia,<br />

se pu<strong>de</strong>sse haver uma L. i<strong>de</strong>al, ela <strong>de</strong>veria<br />

conter unicamente elementos constitutivos últimos,<br />

<strong>de</strong> tal forma que nela "só haveria uma<br />

palavra, e não mais <strong>de</strong> uma, para cada objeto simples,<br />

e as coisas que não fossem simples seriam<br />

expressas por uma combinação <strong>de</strong> palavras,<br />

cada uma das quais ali representaria uma coisa<br />

simples" ("The Phil. of Logical Atomism", Logic<br />

and Knowledge, pp. 197-98). Segundo Russell,<br />

a L. <strong>de</strong> Principia mathematica visa a ser a L.<br />

<strong>de</strong>ssa espécie: nela só existe sintaxe, sem vocabulário<br />

(Ibid., p. 198). E isso a equipara à linguagem<br />

proposta pelos doutos da Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong><br />

Lagado, <strong>de</strong> que fala Swift em Viagens <strong>de</strong> Gulliver.<br />

a proposta era abolir as palavras porque,<br />

"<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que as palavras são apenas nomes para<br />

as coisas, seria mais cômodo as pessoas levarem<br />

consigo as coisas necessárias para expressar<br />

os diversos assuntos sobre os quais preten<strong>de</strong>ssem<br />

conversar". Por isso, aqueles sábios carregavam<br />

sacos repletos <strong>de</strong> objetos e conversavam<br />

mostrando-se os objetos (Gullivefs Traveis,<br />

III. cap. 5).<br />

O mesmo i<strong>de</strong>al foi expresso por Wittgenstein<br />

(primeira maneira) com fórmulas simples<br />

e precisas. Eis algumas: "O nome significa o<br />

objeto: o objeto é o seu significado" ( Tractatus,<br />

3.203). "A configuração dos signos simples na<br />

proposição correspon<strong>de</strong> a configuração dos<br />

objetos na situação" (Ibid., 3.21). "O nome 6 o<br />

representante do objeto na proposição" (Ibid..<br />

3.22). Wittgenstein expressou com toda a clareza<br />

<strong>de</strong>sejável o conceito <strong>de</strong> linguagem (que outro<br />

não é senão "a totalida<strong>de</strong> das proposições".<br />

Ibid., 4.001) como representação pictórica do<br />

mundo. "A primeira vista" — diz ele — "não<br />

parece que a proposição, assim como está, p.<br />

ex., impressa no papel, seja uma imagem da<br />

realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que trata. Mas a notação musical, à<br />

primeira vista, tampouco parece uma imagem<br />

da música, assim como nossa escritura fonética<br />

(em letras) não parece uma imagem da nossa L.<br />

falada. No entanto, esses símbolos <strong>de</strong>monstram<br />

ser — inclusive no sentido comum do termo —<br />

imagens daquilo que representam" (Ibid., 4.001).<br />

Boa parte do empirismo lógico e. em geral, da<br />

<strong>filosofia</strong> contemporânea compartilha ou compartilhou<br />

<strong>de</strong>ssa doutrina da L. como imagem<br />

lógica do mundo. A objeção fundamental a ela<br />

foi bem expressa por Max Black: "Não há motivo<br />

para a L. 'correspon<strong>de</strong>r' ou 'assemelhar-se'<br />

ao mundo', assim como não há motivo para<br />

assemelhar-se ao mundo o telescópio com que<br />

o astrônomo o estuda" (Language and Philosophy,<br />

V, 4; trad. it., p. 173).<br />

É interessante constatar que no outro extremo<br />

da <strong>filosofia</strong> contemporânea, o metafísico<br />

ou ultrametafísico, tem-se conceito análogo<br />

da linguagem. Heiclegger certamente<br />

não admite a correspondência termo a termo<br />

entre os elementos da L. e os elementos do<br />

ser, mas afirma com a mesma veemência <strong>de</strong>

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