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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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FILOSOFIA 449 FILOSOFIA<br />

Cassirer) e também pelo criticismo francês<br />

(Renouvier, Brunschvicg). A posição <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque<br />

<strong>de</strong> que a gnosiologia ou teoria do conhecimento<br />

tem gozado na <strong>filosofia</strong> contemporânea<br />

(e não só entre as correntes neocriticistas)<br />

é conseqüência do conceito <strong>de</strong> <strong>filosofia</strong> como<br />

crítica do conhecimento. A gnosiologia ou teoria<br />

do conhecimento (v.), todavia, é caracterizada<br />

por pressupostos e problemas particulares;<br />

portanto, o conceito <strong>de</strong> F. como crítica do<br />

saber não implica a i<strong>de</strong>ntificação da F. com a<br />

doutrina do conhecimento ou gnosiologia. De<br />

fato, mesmo <strong>de</strong>pois da crise e do abandono da<br />

gnosiologia oitocentista, esse conceito continua<br />

na forma da análise dos procedimentos<br />

efetivos do conhecimento científico e <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminação<br />

<strong>de</strong> seus limites e <strong>de</strong> sua valida<strong>de</strong>. Esta<br />

análise é tema característico da metodologia<br />

(v.). Portanto, a metodologia po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada<br />

a última encarnação da F. como crítica do<br />

saber. Como parte da metodologia, ou como<br />

restrição <strong>de</strong> seu objetivo, po<strong>de</strong>-se enten<strong>de</strong>r a<br />

<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> F. como "análise da linguagem",<br />

proposta pela primeira vez por Wittgenstein,<br />

em Tractatus logíco-philosophicus(1922). Atribuindo<br />

"a totalida<strong>de</strong> das proposições verda<strong>de</strong>iras"<br />

à ciência natural, Wittgenstein nega que<br />

a F. seja uma ciência natural: esta palavra, diz<br />

ele, "<strong>de</strong>ve significar alguma coisa que está acima<br />

ou abaixo das ciências da natureza, não ao<br />

lado <strong>de</strong>las" {Tractatus, § 4,111). Torna-se então<br />

tarefa da F. o aclaramento lógico da linguagem.<br />

"A F. não é uma doutrina, mas uma ativida<strong>de</strong>.<br />

Uma obra filosófica consiste essencialmente<br />

em elucidações. Os frutos da F. não são<br />

proposições filosóficas, mas o aclaramento<br />

das proposições. A F. <strong>de</strong>ve aclarar e <strong>de</strong>limitar<br />

com precisão as idéias que, <strong>de</strong> outro modo, seriam<br />

turvas e confusas" (Jbid., 4, 112).<br />

II. A <strong>filosofia</strong> e o uso do saber— O segundo<br />

ponto <strong>de</strong> vista sob o qual se po<strong>de</strong>m buscar<br />

constantes nos significados historicamente atribuídos<br />

à F., para em seguida realizar divisões<br />

ou articulações <strong>de</strong> tais significados, é o que ficou<br />

expresso na 2- parte da <strong>de</strong>finição usada<br />

como ponto <strong>de</strong> partida <strong>de</strong>ste artigo, qual seja, a<br />

F. como wsodo saber pelo ser humano. Ao longo<br />

da história têm sido dadas duas interpretações<br />

fundamentais <strong>de</strong>sse conceito <strong>de</strong> F. d) a F.<br />

é contemplativa e constitui uma forma <strong>de</strong> vida<br />

que é fim em si mesma; b~) a F. é ativa e constitui<br />

o instrumento <strong>de</strong> modificação ou <strong>de</strong> correção<br />

do mundo natural ou humano. Segundo a<br />

primeira interpretação, a F. exaure-se no indiví-<br />

duo que filosofa; para a segunda interpretação,<br />

a F. transcen<strong>de</strong> o indivíduo e concerne às relações<br />

com a natureza e com os homens, portanto<br />

à vida humana social. Para usar um termo <strong>de</strong><br />

clara significação histórica, po<strong>de</strong>-se chamar <strong>de</strong><br />

"iluminista" esta segunda interpretação da <strong>filosofia</strong>.<br />

a) O conceito <strong>de</strong> F. como contemplação é típico,<br />

em primeiro lugar, das F. <strong>de</strong> tipo oriental,<br />

que estabelecem como objetivo da F. a salvação<br />

do homem. Com efeito, a salvação é a libertação<br />

<strong>de</strong> qualquer relação com o mundo,<br />

portanto a realização <strong>de</strong> um estado em que<br />

qualquer ativida<strong>de</strong> é impossível ou sem sentido.<br />

No Oci<strong>de</strong>nte, o conceito <strong>de</strong> F. como contemplação<br />

hão toi aprimeira forma assumida<br />

pelo trabalho filosófico (que foi, ao contrário, o<br />

da "sabedoria", da F. ativa e militante), mas foi<br />

a primeira caracterização explícita <strong>de</strong>sse trabalho.<br />

Seu fundamento é a natureza "<strong>de</strong>sinteressada"<br />

da investigação filosófica. Quando em<br />

Heródoto (I, 30) o rei Creso diz a Sólon: "Ouvi<br />

falar das viagens que, filosofando, tens empreendido<br />

a fim <strong>de</strong> ver muitos países", obviamente<br />

está aludindo ao caráter <strong>de</strong>sinteressado <strong>de</strong>ssas<br />

viagens, que não foram realizadas com objetivos<br />

lucrativos ou políticos, mas visando apenas<br />

ao conhecimento. O próprio Platão contrapõe<br />

o espírito científico dos gregos ao amor e ao<br />

lucro, típico dos egípcios e dos fenícios (Rep.,<br />

IV, 435 e). E que a busca do saber não po<strong>de</strong> ser<br />

subordinada ou submetida a finalida<strong>de</strong>s alheias<br />

a ela é fato que resulta da própria noção <strong>de</strong>ssa<br />

busca, a maneira como ela se foi configurando<br />

na Grécia antiga (cf. I, B). Mas já na narração<br />

atribuída a Pitágoras, que provém <strong>de</strong> um texto<br />

<strong>de</strong> Herácli<strong>de</strong>s Pôntico (DIÓG. L., Proemium, 12)<br />

com que se preten<strong>de</strong> justificar o nome <strong>de</strong> F.,<br />

há algo mais que a simples exigência <strong>de</strong> <strong>de</strong>sinteresse<br />

na investigação. Segundo essa tradição,<br />

transmitida por Cícero em Tusculanae (V, 9),<br />

Pitágoras comparava a vida com as gran<strong>de</strong>s festas<br />

<strong>de</strong> Olímpia, aon<strong>de</strong> alguns se dirigem a negócio,<br />

outros para participar das competições,<br />

outros para divertir-se e, finalmente, alguns somente<br />

para vero que acontece: estes últimos<br />

são os filósofos. Aqui se evi<strong>de</strong>ncia a distinção<br />

entre o filósofo, interessado apenas em ver, e<br />

o comum dos homens, <strong>de</strong>dicado a suas ocupações.<br />

Portanto, a superiorida<strong>de</strong> da contemplação<br />

sobre a ação está implícita nessa narração,<br />

que, provavelmente, tinha o objetivo <strong>de</strong> enobrecer,<br />

pela alusão a Pitágoras, o conceito <strong>de</strong> F.

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