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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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AMOR 40 AMOR<br />

pela sabedoria, isto é, <strong>filosofia</strong>, e o <strong>de</strong>lírio erótico<br />

po<strong>de</strong> tornar-se uma virtu<strong>de</strong> divina, que<br />

afasta dos modos <strong>de</strong> vida usuais e empenha o<br />

homem na difícil procura dialética {Fed., 265 b.<br />

ss.). Essa doutrina platônica do A., ao mesmo<br />

tempo em que contém os elementos <strong>de</strong> uma<br />

análise positiva do fenômeno, oferece também<br />

o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> uma metafísica do A., que seria<br />

retomada várias vezes na história da <strong>filosofia</strong>.<br />

Aristóteles, ao contrário, <strong>de</strong>tém-se na consi<strong>de</strong>ração<br />

positiva do amor. Para ele o A. é A.<br />

sexual, afeto entre consangüíneos ou entre<br />

pessoas <strong>de</strong> algum modo unidas por uma relação<br />

solidária, ou amiza<strong>de</strong> (v.). Em geral, o A.<br />

e o ódio, como todas as outras afeições da<br />

alma, não pertencem à alma como tal, mas ao<br />

homem enquanto composto <strong>de</strong> alma e corpo<br />

{Dean., I,1, 403 a 3) e, portanto, enfraquecemse<br />

com o enfraquecimento da união <strong>de</strong> alma e<br />

corpo {Ibid., I, 4, 408 b 25). Aristóteles também<br />

reconhece no A. o fundamento <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>,<br />

imperfeição ou <strong>de</strong>ficiência, em que Platão<br />

insistira. A divinda<strong>de</strong>, diz ele, não tem necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> amiza<strong>de</strong>, pois é o seu próprio bem<br />

para si mesma, enquanto para nós o bem vem<br />

do outro {Et. eud., VII, 12, 1.245 b 14). O A. é,<br />

portanto, um fenômeno humano e não é <strong>de</strong><br />

estranhar que Aristóteles não tenha feito nenhum<br />

uso <strong>de</strong>le em sua teologia. Ele é uma<br />

afeição, isto é, uma modificação passiva, enquanto<br />

a amiza<strong>de</strong> é um hábito, uma disposição<br />

ativa {Et. nic, VIII, 5, 1.157 b 28). Ao A. unem-se<br />

a tensão emotiva e o <strong>de</strong>sejo: ninguém é atingido<br />

pelo A. se não foi antes ferido pelo prazer da<br />

beleza; mas esse prazer <strong>de</strong> per si não é ainda<br />

A., que só se tem quando se <strong>de</strong>seja o objeto<br />

amado que está ausente e se anseia por ele<br />

quando presente {ibid., IX, 5, 1.167 a 5). O A.<br />

que está ligado ao prazer po<strong>de</strong> começar e acabar<br />

rapidamente, mas po<strong>de</strong> também dar lugar<br />

à vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> conviver; neste caso, assume a<br />

forma da amiza<strong>de</strong> {Md., VIII, 3, 1.156 b 4). Se<br />

a análise aristotélica do A. é <strong>de</strong>sprovida <strong>de</strong> referências<br />

metafísicas e teológicas, convém recordar<br />

que a or<strong>de</strong>nação finalista do mundo e a<br />

teoria do primeiro motor imóvel levam Aristóteles<br />

a dizer que Deus, como primeiro motor,<br />

move as outras coisas "como objeto <strong>de</strong> A.", isto<br />

é, como termo do <strong>de</strong>sejo que as coisas têm <strong>de</strong><br />

alcançar a perfeição <strong>de</strong>le {Met., XII, 7, 1.072 b<br />

3). Essas palavras serão muito empregadas pela<br />

<strong>filosofia</strong> medieval. Ao findar da <strong>filosofia</strong> grega,<br />

o neoplatonismo utilizou a noção <strong>de</strong> A. não<br />

para <strong>de</strong>finir a natureza <strong>de</strong> Deus, mas para indi-<br />

car uma das fases do caminho que conduz a<br />

Deus. O Uno <strong>de</strong> Plotino não é A., porque é<br />

unida<strong>de</strong> inefável, superior à dualida<strong>de</strong> do <strong>de</strong>sejo<br />

{Enn., VI, 7, 40). Mas o A. é o caminho<br />

preparatório que conduz à visão <strong>de</strong>le, porque<br />

o objeto do A., segundo a doutrina <strong>de</strong> Platão,<br />

é o bem, e o Uno é o bem mais alto {ibid., VI,<br />

7, 22). O Uno, portanto, é o verda<strong>de</strong>iro termo<br />

e o objeto último e i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> todo A., conquanto<br />

não seja através do A. que o homem se une a<br />

Ele, mas através da intuição, <strong>de</strong> uma visão em<br />

que o vi<strong>de</strong>nte e o visto se fun<strong>de</strong>m e se unificam<br />

{ibid., VI, 9, 11).<br />

Com o Cristianismo, a noção <strong>de</strong> A. sofre<br />

uma transformação; <strong>de</strong> um lado, é entendido como<br />

relação ou um tipo <strong>de</strong> relação que <strong>de</strong>ve esten<strong>de</strong>r-se<br />

a todo "próximo"; <strong>de</strong> outro, transformase<br />

em um mandamento, que não tem conexões<br />

com as situações <strong>de</strong> fato e que se propõe<br />

transformar essas situações e criar uma comunida<strong>de</strong><br />

que ainda não existe, mas que <strong>de</strong>verá<br />

irmanar todos os homens: o reino <strong>de</strong> Deus. O<br />

A. ao próximo transforma-se no mandamento<br />

da não-resistência ao mal (MATEUS, 5, 44), e a<br />

parábola do bom Samaritano (LUCAS, 10, 29 ss.)<br />

ten<strong>de</strong> a <strong>de</strong>finir a humanida<strong>de</strong> à qual o A. <strong>de</strong>ve<br />

dirigir-se, não no seu sentido composto, mas<br />

no seu sentido dividido, como cada pessoa com<br />

quem cada um entre em contato; a qual, exatamente<br />

como tal, faz apelo à solicitu<strong>de</strong> e ao A.<br />

do cristão. Além disso, na concepção cristã, o<br />

próprio Deus respon<strong>de</strong> com A. ao A. dos homens;<br />

por isso, seu atributo fundamental é o <strong>de</strong><br />

"Pai". As Epístolas <strong>de</strong> S. Paulo, i<strong>de</strong>ntificando o<br />

reino <strong>de</strong> Deus com a Igreja e consi<strong>de</strong>rando a<br />

Igreja o "corpo <strong>de</strong> Cristo", cujos membros são<br />

os cristãos {Rom., 12, 5 ss.), fazem do A. (àyá7un),<br />

que é o vínculo da comunida<strong>de</strong> religiosa, a<br />

condição da vida cristã. Todos os outros dons<br />

do Espírito, a profecia, a ciência, a fé, nada são<br />

sem ele. "O A. tudo suporta, em tudo crê, tudo<br />

espera, tudo sustenta... Agora há fé, esperança,<br />

amor, três coisas; mas o amor é a maior <strong>de</strong><br />

todas" {Cor., I, 13, 7-13). A elaboração teológica<br />

sofrida pelo Cristianismo no período da<br />

Patrística não utilizou, no princípio, a noção <strong>de</strong><br />

A. Nos gran<strong>de</strong>s sistemas da Patrística oriental<br />

(Origenes, Gregório <strong>de</strong> Nissa), a terceira pessoa<br />

da Trinda<strong>de</strong>, o Espírito Santo, é entendida<br />

como uma potência subordinada e <strong>de</strong> caráter<br />

incerto: daí, também, as freqüentes discussões<br />

trinítárías que o concilio <strong>de</strong> Nícéia (325) não<br />

logrou eliminar <strong>de</strong> todo. Somente por obra <strong>de</strong><br />

S. Agostinho, com a i<strong>de</strong>ntificação do Espírito

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