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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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DIALÉTICA 272 DIALÉTICA<br />

3 S D. como lógica. O terceiro conceito <strong>de</strong> D.<br />

<strong>de</strong>ve-se aos estóicos, que a i<strong>de</strong>ntificaram com<br />

a lógica em geral ou, pelo menos, com a parte da<br />

lógica que não é retórica. Consi<strong>de</strong>rando a retórica<br />

como a ciência do bem falar nos discursos<br />

que dizem respeito às "vias <strong>de</strong> saída", ao passo<br />

que a D. é a ciência do discutir corretamente<br />

nos discursos que consistem em perguntas e<br />

respostas ( DIÓG. L, VII, 1, 42). Essa i<strong>de</strong>ntificação<br />

da D. com a lógica geral foi possibilitada<br />

pela transformação radical a que os estóicos<br />

submeteram a teoria aristotélica do raciocínio.<br />

Como, para eles, a <strong>de</strong>monstração era "utilizar<br />

as coisas mais compreensíveis para explicar as<br />

menos compreensíveis" (Ibid., VII, 1, 45), e<br />

como as coisas mais compreensíveis eram as<br />

evi<strong>de</strong>ntes para os sentidos (Ibid, VII, 1, 46), as<br />

bases <strong>de</strong> qualquer <strong>de</strong>monstração eram os raciocínios<br />

anapodíticosiy.), que se apoiam diretamente<br />

na evidência sensível. De resto, para<br />

eles, o raciocínio em geral constava <strong>de</strong> premissa<br />

e conclusão; isso também é o silogismo<br />

(Ibid., VII, 1, 45). Sua teoria do raciocínio não<br />

permitia, pois, a distinção entre premissas necessariamente<br />

verda<strong>de</strong>iras e premissas prováveis<br />

em que, segundo Aristóteles, se fundava a<br />

distinção entre silogismo <strong>de</strong>monstrativo e silogismo<br />

dialético. A D. i<strong>de</strong>ntificou-se assim com<br />

a lógica, que, para eles, era uma teoria dos<br />

signos e das coisas significadas e se <strong>de</strong>finia<br />

como "ciência do verda<strong>de</strong>iro e do falso, e do<br />

que não é nem verda<strong>de</strong>iro nem falso" (Ibid.,<br />

VII, 1, 42). Por "aquilo que não é nem verda<strong>de</strong>iro<br />

nem falso" entendiam (como resulta do<br />

trecho <strong>de</strong> Cícero citado mais abaixo) a conexão<br />

da conclusão com a premissa, cujas condições<br />

<strong>de</strong> verda<strong>de</strong> a D. estabelece.<br />

Essa interpretação da lógica toda como D.<br />

não é um simples retorno à concepção platônica<br />

<strong>de</strong> D. Na verda<strong>de</strong>, a lógica estóica, tão centrada<br />

nas <strong>de</strong>duções anapodíticas (do tipo "Se é dia,<br />

há luz"), não conhece raciocínios que não partam<br />

<strong>de</strong> premissas hipotéticas, e as premissas<br />

hipotéticas são as que, mesmo para Aristóteles,<br />

dão caráter dialético ao raciocínio. A doutrina<br />

estóica da D. foi a mais difundida na Antigüida<strong>de</strong><br />

e na Ida<strong>de</strong> Média. Foi adotada por Cícero,<br />

que entendia por D. "a arte que ensina a dividir<br />

uma coisa inteira em suas partes, a explicar uma<br />

coisa oculta com uma <strong>de</strong>finição, a esclarecer<br />

uma coisa obscura com uma interpretação, a<br />

entrever primeiro e a distinguir <strong>de</strong>pois o que é<br />

ambíguo e, finalmente, a obter uma regra com<br />

a qual se julgue o verda<strong>de</strong>iro e o falso e se as<br />

conseqüências <strong>de</strong>rivam das premissas assumidas"<br />

(Brut., 41, 152; cf. também De or., II, 38,<br />

157; Tusc, V, 25, 72; Acad, II, 28,91; Top., 2, 6).<br />

Quintiliano (Inst. or., XII, 2, 13) e Sêneca (Ep.,<br />

1,1) aceitam esse conceito da D., que se encontra<br />

igualmente na patrística oriental, p. ex. em<br />

Orígenes e Gregório <strong>de</strong> Nissa (De homínis opificio,<br />

16), bem como na patrística latina, p. ex. em S.<br />

Agostinho (De ordine, 13, 38). Através da tradição<br />

<strong>de</strong>sses escritores e da obra <strong>de</strong> Boécio<br />

(AdCic. Top., I, P. L, 64 a , col. 1047) a noção da<br />

D. como lógica geral, segundo o conceito estóico,<br />

persiste por toda a Ida<strong>de</strong> Média, coexistindo<br />

com o conceito mais restrito <strong>de</strong> D. como<br />

arte da discussão ou do raciocínio provável,<br />

mesmo quando esse conceito se difun<strong>de</strong> nas<br />

escolas a partir do séc. XII como efeito do melhor<br />

conhecimento dos Tópicos e dos Elencos sqftstícos.<br />

Isidoro <strong>de</strong> Sevilha retomara o conceito estóico<br />

(Etymol, II, 22-24); o mesmo fez Rábano Mauro,<br />

que repete as palavras <strong>de</strong> Agostinho: "A D. é a<br />

disciplina das disciplinas: ensina a ensinar, ensina<br />

a apren<strong>de</strong>r, e nela a própria razão manifesta o<br />

que é, o que quer, o que vê" (De clericorum<br />

institutione, III, 20). Abelardo, por sua vez,<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a D. com as mesmas palavras <strong>de</strong> Agostinho<br />

(Ep., 13), e Hugo <strong>de</strong> São Vítor consi<strong>de</strong>raas<br />

segundo o mo<strong>de</strong>lo estóico, parte da lógica<br />

racional ao lado da retórica (Didascalion, I,<br />

12). Ainda no séc. XIII, Pedro Hispano dizia em<br />

Sumtnulae logicales: "A D. é a arte das artes<br />

e a ciência das ciências porque <strong>de</strong>tém o caminho<br />

para chegar aos princípios <strong>de</strong> todos os<br />

métodos. Só a D. po<strong>de</strong> discutir com probabilida<strong>de</strong><br />

os princípios <strong>de</strong> todas as outras artes; por<br />

isso, no aprendizado das ciências, a D. <strong>de</strong>ve vir<br />

antes" (1.01).<br />

Encontra-se analogia no conceito <strong>de</strong> Santayana,<br />

<strong>de</strong> D. como "ciência i<strong>de</strong>al" ou formal,<br />

que compreen<strong>de</strong> a matemática e procura<br />

"esclarecer e <strong>de</strong>senvolver a essência do que<br />

<strong>de</strong>scobrimos, com o foco nas harmonias internas<br />

e nas implicações das formas que nossa<br />

atenção ou nossas metas <strong>de</strong>finiram inicialmente"<br />

(The Life of Reason, 1954 2 , p. 436).<br />

4 e D. como síntese dos opostos. O quarto conceito<br />

<strong>de</strong> D. é formulado pelo I<strong>de</strong>alismo romântico,<br />

em particular por Hegel; seu princípio foi<br />

apresentado pela primeira vez por Fichte em<br />

Doutrina da ciência, <strong>de</strong> 1794, como "síntese<br />

dos opostos por meio da <strong>de</strong>terminação recíproca".<br />

Os opostos <strong>de</strong> que falava Fichte eram o Eu<br />

e o Não-eu, e a conciliação era dada pela posição<br />

do Não-eu por parte do Eu e pela <strong>de</strong>termi-

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