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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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CULTURA 228 CULTURA<br />

tentar solucionar esse problema que hoje se<br />

discute a noção <strong>de</strong> "C. geral", que <strong>de</strong>veria<br />

acompanhar todos os graus e formas <strong>de</strong> educação,<br />

até a mais especializada. Mas está claro<br />

que a solução do problema será apenas aparente<br />

enquanto não se tiver uma idéia clara do<br />

que é "C. geral". Não se trata, obviamente, <strong>de</strong><br />

contrapor um grupo <strong>de</strong> disciplinas a outro e<br />

<strong>de</strong> impor, p. ex., as disciplinas históricas ou<br />

humanísticas como "C. geral", em oposição à<br />

especialização das disciplinas "naturalistas". Isso<br />

seria impróprio principalmente porque mesmo<br />

as disciplinas chamadas "humanistas" não escapam<br />

à premência da especialização e também<br />

exigem treinamento especializado para serem<br />

entendidas e proficuamente cultivadas. Também<br />

é óbvio que a C. geral não po<strong>de</strong> ser constituída<br />

por noções vazias e superficiais, que<br />

não suscitariam interesse e, portanto, não contribuiriam<br />

para enriquecer a personalida<strong>de</strong><br />

do indivíduo e sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicar-se<br />

com os outros. Contudo, é possível indicar <strong>de</strong><br />

maneira aproximada as características <strong>de</strong> uma<br />

C. geral que, como a clássica paidéia, esteja<br />

preocupada com a formação total e autêntica<br />

do homem. Em primeiro lugar, é uma C. "aberta",<br />

ou seja, não fecha o homem num âmbito<br />

estreito e circunscrito <strong>de</strong> idéias e crenças. O<br />

homem "culto" é, em primeiro lugar, o homem<br />

<strong>de</strong> espírito aberto e livre, que sabe enten<strong>de</strong>r as<br />

idéias e as crenças alheias ainda que não possa<br />

aceitá-las ou reconhecer sua valida<strong>de</strong>. Em segundo<br />

lugar, e por conseqüência, uma C. viva<br />

e formativa <strong>de</strong>ve estar aberta para o futuro,<br />

mas ancorada no passado. Nesse sentido, o homem<br />

culto é aquele que não se <strong>de</strong>sarvora diante<br />

do novo nem foge <strong>de</strong>le, mas sabe consi<strong>de</strong>rálo<br />

em seu justo valor, vinculando-o ao passado<br />

e elucidando suas semelhanças e disparida<strong>de</strong>s.<br />

Em terceiro lugar, a C. se funda na possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> abstrações operacionais, isto é, na capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> efetuar escolhas ou abstrações que<br />

permitam confrontos, avaliações globais e, portanto,<br />

orientações <strong>de</strong> natureza relativamente<br />

estável. Em outros termos: não há C. sem as<br />

idéias que comumente chamamos "idéias gerais",<br />

mas estas não <strong>de</strong>vem nem po<strong>de</strong>m ser<br />

impostas ou aceitas, arbitrária ou passivamente,<br />

pelo homem culto na forma <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ologias<br />

institucionalizadas; <strong>de</strong>vem po<strong>de</strong>r formar-se <strong>de</strong><br />

modo autônomo, sendo continuamente comensuradas<br />

com as situações reais. É claro<br />

que, para a formação <strong>de</strong> uma C. com essas características<br />

formais, são igualmente necessá-<br />

rios o enfoque histórico-humanístico do passado<br />

e o espírito crítico e experimental da pesquisa<br />

científica, assim como é necessário o uso<br />

disciplinado e rigoroso das abstrações, próprio<br />

da <strong>filosofia</strong>, além da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> formar projetos<br />

<strong>de</strong> vida a longo prazo, que também é<br />

fruto do espírito filosófico. Desse ponto <strong>de</strong> vista,<br />

o problema da C. geral não se coloca como<br />

formulação <strong>de</strong> um curriculum <strong>de</strong> estudos único<br />

para todos, que compreenda disciplinas <strong>de</strong><br />

informação genérica, mas como o problema<br />

<strong>de</strong> encontrar, para cada grupo ou classe <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong>s especializadas, e a partir <strong>de</strong>las, um<br />

projeto <strong>de</strong> trabalho e <strong>de</strong> estudo coor<strong>de</strong>nado<br />

com essas disciplinas ou que as complemente,<br />

que enriqueça os horizontes do indivíduo e<br />

mantenha ou reintegre o equilíbrio <strong>de</strong> sua personalida<strong>de</strong>.<br />

2. No segundo significado, essa palavra hoje<br />

é especialmente usada por sociólogos e antropólogos<br />

para indicar o conjunto dos modos <strong>de</strong><br />

vida criados, adquiridos e transmitidos <strong>de</strong> uma<br />

geração para a outra, entre os membros <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada<br />

socieda<strong>de</strong>. Nesse significado, C. não<br />

é a formação do indivíduo em sua humanida<strong>de</strong>,<br />

nem sua maturida<strong>de</strong> espiritual, mas é a<br />

formação coletiva e anônima <strong>de</strong> um grupo social<br />

nas instituições que o <strong>de</strong>finem. Nesse sentido,<br />

esse termo talvez tenha sido usado pela<br />

primeira vez por Spengler, que com ele enten<strong>de</strong>u<br />

"consciência pessoal <strong>de</strong> uma nação inteira";<br />

consciência que, em sua totalida<strong>de</strong>, ele<br />

enten<strong>de</strong>u organismo vivo; e, como todos os<br />

organismos, nasce, cresce e morre. "Cada C,<br />

cada surgimento, cada progresso e cada <strong>de</strong>clínio,<br />

cada um <strong>de</strong> seus graus e <strong>de</strong> seus períodos<br />

internamente necessários, tem duração <strong>de</strong>terminada,<br />

sempre igual, sempre recorrente com<br />

forma <strong>de</strong> símbolo" (Untergang <strong>de</strong>s Abendlan<strong>de</strong>s,<br />

I, p. 147). Do conceito da C. assim entendida,<br />

Spengler distinguia o conceito <strong>de</strong> civilização,<br />

que é o aperfeiçoamento e o fim <strong>de</strong> uma<br />

C, a realização e, portanto, o esgotamento <strong>de</strong><br />

suas possibilida<strong>de</strong>s constitutivas. "A civilização",<br />

diz Spengler, "é o <strong>de</strong>stino inevitável da<br />

cultura. Nela se atinge o ápice a partir do qual<br />

po<strong>de</strong>m ser resolvidos os problemas últimos e<br />

mais difíceis da morfologia histórica. As civilizações<br />

são os estados extremos e mais refinados<br />

aos quais po<strong>de</strong> chegar uma espécie humana<br />

superior. São um fim: são o <strong>de</strong>vindo que<br />

suce<strong>de</strong> ao <strong>de</strong>vir, a morte que suce<strong>de</strong> à vida, a<br />

cristalização que suce<strong>de</strong> à evolução. São um

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