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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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AMOR 50 AMOR<br />

ca, na qual as emoções <strong>de</strong> um são necessárias<br />

à satisfação dos propósitos instintivos do outro"<br />

(A conquista da felicida<strong>de</strong>; trad. it., p. 42).<br />

Nesse sentido, porém, não requer o sacrifício<br />

das pessoas que se amam, mas constitui enriquecimento<br />

e realização da sua personalida<strong>de</strong>.<br />

Não requer nem mesmo o emu<strong>de</strong>cimento do<br />

espírito <strong>de</strong> ambas as partes, mas, antes, o respeito<br />

à autonomia recíproca e a fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> aos<br />

compromissos assumidos. Por isso, é indispensável<br />

a realização da igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> condição<br />

moral e jurídica entre os sexos, bem como a<br />

transformação e a liberalização das regras morais<br />

que ora restringem e inibem com <strong>de</strong>masiada<br />

rigi<strong>de</strong>z as relações sexuais. Por outro lado,<br />

porém, ''a relação sexual sem A. tem valor mínimo<br />

e <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rada uma primeira experiência,<br />

capaz <strong>de</strong> dar uma noção aproximada do<br />

A." (Marriage and Morais, cap. IX; trad. it.<br />

p. 118).<br />

Um olhar <strong>de</strong> conjunto nas teorias mencionadas<br />

mostra a recorrência <strong>de</strong> duas noções fundamentais<br />

do A., sendo possível vincular cada<br />

uma <strong>de</strong>ssas teorias a uma ou a outra. A primeira<br />

é a do A. como relação que não anula a realida<strong>de</strong><br />

individual e a autonomia dos seres entre<br />

os quais se estabelece, mas ten<strong>de</strong> a reforçá-las,<br />

por meio <strong>de</strong> um intercâmbio, controlado<br />

emotivamente, <strong>de</strong> serviços e cuidados <strong>de</strong> todo<br />

tipo, intercâmbio no qual cada um procura o<br />

bem do outro como seu próprio. Nesse sentido,<br />

A. ten<strong>de</strong> à reciprocida<strong>de</strong> e é sempre recíproco<br />

na sua forma bem-sucedida, que sempre<br />

po<strong>de</strong>rá ser chamada <strong>de</strong> união (<strong>de</strong> interesses,<br />

<strong>de</strong> intentos, <strong>de</strong> propósitos, <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>s,<br />

bem como <strong>de</strong> emoções correlativas), mas nunca<br />

<strong>de</strong> "unida<strong>de</strong>", no sentido próprio <strong>de</strong>sse termo.<br />

Nesse sentido, o A. é uma relação finita<br />

entre entes finitos, suscetível da maior varieda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> modos, em conformida<strong>de</strong> com a varieda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> interesses, propósitos, necessida<strong>de</strong>s<br />

e relativas funções emotivas, que po<strong>de</strong>m<br />

constituir sua base objetiva. "Relação finita" significa<br />

relação não necessariamente <strong>de</strong>terminada<br />

por forças inelutáveis, mas condicionada por<br />

elementos e situações aptas a explicar suas modalida<strong>de</strong>s<br />

particulares. Significa também relação<br />

sujeita ao êxito como ao malogro e, ainda<br />

nos casos mais favoráveis, suscetível <strong>de</strong> êxitos<br />

só parciais e <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> relativa. Nesse caso,<br />

obviamente, o A. nunca é "tudo" e não constitui<br />

a solução <strong>de</strong> todos os problemas humanos. Cada<br />

tipo ou espécie <strong>de</strong> A., e, em cada tipo ou espécie,<br />

cada caso será <strong>de</strong>limitado e <strong>de</strong>finido, na<br />

relação que o constitui, por interesses, necessida<strong>de</strong>s,<br />

aspirações, preocupações, etc, cuja<br />

comparticipaçào constituirá a base ou o motivo<br />

do A. Especificamente, o A. po<strong>de</strong>rá ser <strong>de</strong>finido<br />

como o controle emotivo <strong>de</strong> tais tipos ou modos<br />

<strong>de</strong> comparticipaçào e dos comportamentos<br />

correspon<strong>de</strong>ntes. O valor <strong>de</strong>sse controle emotivo<br />

po<strong>de</strong> ser evi<strong>de</strong>nciado por algumas observações.<br />

P. ex., a fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> no A. não tem valor se<br />

não <strong>de</strong>riva do controle emotivo, mas <strong>de</strong> uma<br />

fria noção <strong>de</strong> <strong>de</strong>ver; e, por outro lado, certas<br />

infi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>s não ofen<strong>de</strong>m necessariamente o<br />

A. Nesses limites, em cjue o A. é um fenômeno<br />

humano, para cuja <strong>de</strong>scrição termos como "unida<strong>de</strong>",<br />

"todo", "infinito", "absoluto" são <strong>de</strong>scabidos,<br />

o A. per<strong>de</strong> em substância cósmica tanto<br />

quanto ganha em importância humana; e o seu<br />

significado, objetivamente constatável, para a<br />

formação, a conservação e o equilíbrio da personalida<strong>de</strong><br />

humana, torna-se fundamental. A<br />

noção <strong>de</strong> A. nesse sentido é a ilustrada por<br />

Platão, Aristóteles, S. Tomás, Descartes, Leibniz,<br />

Scheler, Russell.<br />

A segunda teoria recorrente sobre o A. é a<br />

que vê nele uma unida<strong>de</strong> absoluta ou infinita,<br />

ou seja, consciência, <strong>de</strong>sejo ou projeto <strong>de</strong> tal<br />

unida<strong>de</strong>. Desse ponto <strong>de</strong> vista, o A. <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong><br />

ser um fenômeno humano para tornar-se um<br />

fenômeno cósmico ou, melhor ainda, a natureza<br />

do Princípio ou da Realida<strong>de</strong> Suprema. O<br />

êxito ou o malogro do A. humano passa a ser<br />

indiferente; aliás, o A. humano, como aspiração<br />

à i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> absoluta e como tentativa por<br />

parte do finito <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar-se com o Infinito,<br />

está previamente con<strong>de</strong>nado ao insucesso e<br />

reduzido a uma aspiração unilateral, pela qual<br />

a reciprocida<strong>de</strong> é <strong>de</strong>cepcionante, que se contenta<br />

em imaginar a vaga forma <strong>de</strong> um i<strong>de</strong>al<br />

fugaz. São duas as conseqüências <strong>de</strong>sse conceito<br />

<strong>de</strong> A. A primeira é a infinitizaçâo das vicissitu<strong>de</strong>s<br />

amorosas que, consi<strong>de</strong>radas como formas<br />

ou manifestações do Infinito, assumem um<br />

significado e um alcance <strong>de</strong>sproporcional e<br />

grotesco, sem relação com a importância real<br />

que têm para a personalida<strong>de</strong> humana e para<br />

as suas relações com os outros. A segunda é<br />

que todo tipo ou forma <strong>de</strong> A. humano <strong>de</strong>stinase<br />

ao fracasso; e o próprio êxito <strong>de</strong> tal A.,<br />

verificável na reciprocida<strong>de</strong>, na possibilida<strong>de</strong><br />

da comparticipação, é assumido como sinal <strong>de</strong>sse<br />

fracasso. Essas duas atitu<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m ser facilmente<br />

encontradas na literatura romântica sobre<br />

o A. É a noção <strong>de</strong>fendida por Spinoza, Hegel,<br />

Feuerbach, Bergson, Sartre.

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