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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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FACTUALIDADE 425 FACULDADE<br />

cias e factícias; as últimas são as idéias "feitas e<br />

inventadas" por nós {Méd., III).<br />

FACTUALIDADE (in. Factuality, ai. Tatsàchlichkeit;<br />

it. Fatticita). Husserl <strong>de</strong>u esse nome<br />

ao modo <strong>de</strong> ser do fato, enquanto essencialmente<br />

"casual", ou seja, porquanto po<strong>de</strong> ser diferente<br />

do que é {I<strong>de</strong>en, I, § 2). Hei<strong>de</strong>gger fez<br />

a distinção entre a "F. do factum brutum <strong>de</strong><br />

uma simples presença", <strong>de</strong> uma coisa, e afacticida<strong>de</strong>{v.)<br />

da existência {Sein undZeit, % 29).<br />

FACULDADE (gr. yuxnç eiSoç ou uópiov;<br />

lat. Facultas, in. Faculty, fr. Faculte, ai. Vermógen;<br />

it. Facoltã). 1. Enten<strong>de</strong>m-se por esse<br />

nome os po<strong>de</strong>res da alma, ou seja, as espécies<br />

ou partes em que é possível classificar e<br />

dividir suas ativida<strong>de</strong>s ou princípios aos quais<br />

são atribuídas tais ativida<strong>de</strong>s. A distinção entre<br />

os po<strong>de</strong>res da alma, bem como a própria noção<br />

<strong>de</strong> um po<strong>de</strong>r que se refere à alma, nascem<br />

da óbvia consi<strong>de</strong>ração da diferença entre as<br />

operações atribuídas à alma e do fato <strong>de</strong> que<br />

essas operações po<strong>de</strong>m opor-se entre si. Com<br />

esse fundamento, Platão distinguiu três po<strong>de</strong>res,<br />

que ele chamava <strong>de</strong> espécies (eí5r|, Rep.,<br />

IV, 440 e) da alma: po<strong>de</strong>r racional, graças ao<br />

qual a alma raciocina e domina os impulsos<br />

corpóreos; po<strong>de</strong>r concupiscível ou irracional,<br />

que presi<strong>de</strong> aos impulsos, aos <strong>de</strong>sejos, às necessida<strong>de</strong>s<br />

e concerne ao corpo; po<strong>de</strong>r irascível,<br />

que é auxiliar do princípio racional e indigna-se<br />

e luta por aquilo que a razão julga<br />

justo {Rep., IV, 439-40). Já Aristóteles distinguiu:<br />

a) parte ((XÓpiov) vegetativa, que é a potência<br />

nutritiva e reprodutiva própria dos seres vivos,<br />

a começar pelo homem; b) parte sensitiva, que<br />

compreen<strong>de</strong> a sensibilida<strong>de</strong> e o movimento, e<br />

é própria do animal; c) parte intelectiva {dianoéticd),<br />

que é própria do homem. O princípio<br />

mais elevado po<strong>de</strong> fazer as vezes dos inferiores,<br />

mas não vice-versa. Assim, no homem a<br />

alma intelectiva também cumpre as funções que<br />

nos animais são realizadas pela alma sensitiva e<br />

nas plantas pela vegetativa {Dean., II, 2, 413 a<br />

30 ss.). Por sua vez, o princípio dianoético<br />

ou alma intelectiva divi<strong>de</strong>-se em duas partes<br />

que são, respectivamente, a parte apetitiva ou<br />

prática (a vonta<strong>de</strong>) e a parte intelectiva ou<br />

contemplativa (o intelecto) {Ibid., III, X, 433 a<br />

14; Et. nic. VI, 1, 1139 a 3; Poi, 1133 a). Essa<br />

divisão seria aceita e difundida durante muitos<br />

séculos. Os estóicos, todavia, haviam proposto<br />

outra, consistente em quatro princípios:<br />

à) princípio diretivo ou hegemônico, que é a<br />

razão; b) sentidos; c) princípio seminal ou es-<br />

permático; d) linguagem (DIÓG. L, VII, 157;<br />

SEXTO EMPÍRICO, Adv. math., IX, 102). Na <strong>filosofia</strong><br />

medieval, a partição aristotélica, que acaba<br />

por prevalecer no fim da Escolástica e é repetida<br />

por muitos pensadores (p. ex., Alberto<br />

Magno, S. Tomás, Duns Scot, Ockham), entrelaça-se<br />

com o tipo <strong>de</strong> partição que fora inaugurado<br />

por S. Agostinho e que consiste em julgar<br />

que as partes da alma têm como mo<strong>de</strong>lo a Trinda<strong>de</strong><br />

divina. S. Agostinho distinguira, com efeito,<br />

três faculda<strong>de</strong>s da alma: memória, inteligência<br />

e vonta<strong>de</strong>, correspon<strong>de</strong>ntes às três pessoas<br />

da Trinda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>finidas respectivamente como<br />

Ser, Verda<strong>de</strong> e Amor {De Trin., X, 18). Esta divisão<br />

e outras análogas encontram-se freqüentemente<br />

na Escolástica (é repetida, p. ex., por S.<br />

ANSELMO, Monol., 67). A partir <strong>de</strong> Descartes, a<br />

única divisão admitida foi a que Aristóteles<br />

consi<strong>de</strong>rara própria da alma intelectiva ou dianoética,<br />

entre vonta<strong>de</strong> (apetição ou <strong>de</strong>sejo) e<br />

intelecto propriamente dito, ou seja, a divisão<br />

fundada no uso prático e no uso teórico da<br />

razão. Para Descartes, a alma é apenas a alma<br />

"racional", já que as funções vegetativa e sensitiva<br />

não pertencem à alma racional nem a outra<br />

espécie <strong>de</strong> alma, porquanto são funções<br />

mecânicas, explicadas pelo mecanismo corpóreo<br />

{Discours, V). A divisão entre intelecto e vonta<strong>de</strong><br />

é enunciada por Descartes {Pass. <strong>de</strong> 1'âme, I,<br />

17) como entre as ações da alma, que compreen<strong>de</strong>m<br />

todos os <strong>de</strong>sejos, entre os quais Descartes<br />

inclui a vonta<strong>de</strong> {Ibid., 18), e as paixões,<br />

que compreen<strong>de</strong>m "todas as espécies <strong>de</strong> percepções<br />

ou formas <strong>de</strong> conhecimento". Essa<br />

divisão é elucidada pelo modo como Descartes<br />

a utiliza na sua teoria do erro: este <strong>de</strong>pen<strong>de</strong><br />

do concurso <strong>de</strong> duas causas, do intelecto e da<br />

vonta<strong>de</strong>. Com o intelecto o homem não afirma<br />

nem nega nada, mas concebe tão-somente as<br />

idéias que po<strong>de</strong> afirmar ou negar. O ato <strong>de</strong><br />

afirmar ou negar é próprio da vonta<strong>de</strong>. Ora, a<br />

vonta<strong>de</strong> é livre e como tal é muito mais ampla<br />

que o intelecto e po<strong>de</strong>, portanto, afirmar ou<br />

negar até o que o intelecto não consegue perceber<br />

clara e distintamente {Méd., IV; Princ.<br />

phil., I, 34). Com isso estabelecia-se a distinção<br />

entre intelecto e vonta<strong>de</strong>, o que seria aceito até<br />

Kant. É bem verda<strong>de</strong> que Spinoza negou a<br />

existência <strong>de</strong> F. separadas na alma, aduzindo<br />

que elas "são fictícias, entida<strong>de</strong>s metafísicas ou<br />

universais que formamos a partir das coisas<br />

particulares" {Et., II, 48). Mas isso significa que para<br />

ele "vonta<strong>de</strong> e intelecto são a mesma coisa"<br />

{Ibid., 49, corol.), sendo a distinção pressupôs-

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