22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

GEOMETRIA 483 GEOMETRIA<br />

sob nenhum outro aspecto" (Met., XI, 1061 a<br />

29). Mas foi também graças a Aristóteles que a<br />

G. ganhou organização lógica; <strong>de</strong> fato, essa<br />

organização, que se realizou plenamente nos<br />

Elementos <strong>de</strong> Eucli<strong>de</strong>s, no séc. III a.C, tem<br />

como mo<strong>de</strong>lo a or<strong>de</strong>m que, no Organon, Aristóteles<br />

consi<strong>de</strong>rara própria <strong>de</strong> toda ciência,<br />

qual seja: o ponto <strong>de</strong> partida são os primeiros<br />

princípios (<strong>de</strong>finições, axiomas e postulados),<br />

passando-se à <strong>de</strong>dução rigorosa a partir <strong>de</strong>sses<br />

princípios, sem recorrer à experiência ou a<br />

qualquer intuição. Mas essa mesma formulação<br />

lógica da G. antiga esclarece a natureza <strong>de</strong> seu<br />

objeto. Como dizia Aristóteles, esse objeto é a<br />

quantida<strong>de</strong> continua; e como dissera Platão, é<br />

"alguma coisa que é sempre", ou, na terminologia<br />

<strong>de</strong> Aristóteles, é uma substância ou essência<br />

substancial que, justamente por ser tal,<br />

po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finida, e cujas proprieda<strong>de</strong>s fundamentais<br />

o intelecto po<strong>de</strong> intuir, expressando-as<br />

nos axiomas. É preciso lembrar que, segundo<br />

Aristóteles, o procedimento <strong>de</strong>dutivo ou silogístico<br />

<strong>de</strong>ve partir <strong>de</strong> premissas evi<strong>de</strong>ntes,<br />

intuídas pelo intelecto, e que essa intuição só<br />

po<strong>de</strong> existir com relação a proprieda<strong>de</strong>s ou a<br />

<strong>de</strong>terminações necessárias da substância. O caráter<br />

substancial do objeto da G., no sentido<br />

exato e técnico que a palavra "substancial" tem<br />

em Aristóteles (v. SUBSTÂNCIA), é o pressuposto<br />

fundamental <strong>de</strong>ssa fase conceptual da geometria.<br />

Isto quer dizer que o contínuo espacial,<br />

que é o objeto da G., é pressuposto, em seu<br />

modo <strong>de</strong> existência específica e em suas <strong>de</strong>terminações<br />

necessárias, a partir das operações<br />

geométricas que a tomam como objeto. Esse<br />

contínuo é in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> tais operações<br />

porque é uma substância, porque é necessariamente<br />

o que é e não po<strong>de</strong> ser diferente. A necessida<strong>de</strong><br />

intrínseca das <strong>de</strong>finições e dos axiomas<br />

e o caráter indispensável dos postulados<br />

(que tampouco po<strong>de</strong>m ser mudados) expressam,<br />

no âmbito <strong>de</strong>sta fase conceptual, a necessida<strong>de</strong><br />

do objeto da G., ou seja, do espaço. Este<br />

tem essência necessária, cujos princípios expressam<br />

as <strong>de</strong>terminações imutáveis e cuja <strong>de</strong>dução<br />

silogística põe em evidência as <strong>de</strong>terminações<br />

implícitas (mas igualmente necessárias).<br />

A interpretação do espaço feita por Kant, como<br />

"forma da intuição" ou "intuição pura", não<br />

constitui (e nem Kant teve essa intenção)<br />

uma inovação do conceito <strong>de</strong> geometria. Segundo<br />

Kant, o espaço como intuição pura <strong>de</strong>via<br />

exatamente servir para garantir à G. seu papel<br />

<strong>de</strong> ciência que <strong>de</strong>termina as proprieda<strong>de</strong>s<br />

do espaço apriori, ou seja, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente<br />

da experiência, e para garantir a tais proprieda<strong>de</strong>s<br />

seu caráter apodítico, ou seja, sua necessida<strong>de</strong><br />

(Crít. R. Pura, § 3).<br />

2 a A segunda fase conceptual da G. só começou<br />

quando se realizou plenamente o significado<br />

da <strong>de</strong>scoberta das G. não-euclidianas.<br />

O V postulado <strong>de</strong> Eucli<strong>de</strong>s provocara discussões<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Antigüida<strong>de</strong>. No séc. XVIII,<br />

especialmente graças a Saccheri e <strong>de</strong> Lambert,<br />

e nos primeiros <strong>de</strong>cênios do séc. XIX, graças a<br />

Legendre, essas discussões se acirraram, mas<br />

não levaram a conclusões, porque se achou<br />

absurdo admitir a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma G. diferente<br />

da <strong>de</strong> Eucli<strong>de</strong>s. Só Gauss, Lobacevskij<br />

e Bolyai reconheceram e puseram em prática<br />

essa possibilida<strong>de</strong>. Em 1855, uma dissertação<br />

<strong>de</strong> RIEMANN, Sobre as hipóteses que fundamentam<br />

a G., mostrava como, com mudanças oportunas<br />

no V postulado, seria possível obter não<br />

só a G. <strong>de</strong> Eucli<strong>de</strong>s e a G. <strong>de</strong> Lobacevskij e<br />

Bolyai, mas também uma terceira G. (que mais<br />

tar<strong>de</strong> foi chamada <strong>de</strong> Riemann). O V postulado<br />

<strong>de</strong> Eucli<strong>de</strong>s exige que só haja uma paralela<br />

para uma reta dada; a G. <strong>de</strong> Lobacevskij e<br />

Bolyai exige que haja infinitas paralelas para<br />

uma reta dada. Riemann supôs que não houvesse<br />

paralela nenhuma para uma reta dada, o<br />

que produz uma G. simetricamente oposta à <strong>de</strong><br />

Lobacevskij e <strong>de</strong> Bolyai. A G. euclidiana é válida<br />

para o espaço <strong>de</strong> curvatura constante nula.<br />

A G. <strong>de</strong> Lobacevskij vale para o espaço <strong>de</strong><br />

curvatura constante negativa. A G. <strong>de</strong> Riemann<br />

vale para o espaço <strong>de</strong> curvatura constante positiva.<br />

Nesta última G., uma reta não po<strong>de</strong> ser<br />

prolongada até o infinito, mas é finita e fechada,<br />

e é a G. que vigora na superfície da esfera<br />

(supondo-se que se consi<strong>de</strong>rem somente duas<br />

dimensões), portanto o modo mais natural <strong>de</strong><br />

um navegador <strong>de</strong>screver o mundo. Assim, a<br />

G. euclidiana tornava-se um caso particular <strong>de</strong><br />

uma G. bem mais ampla e geral, mas a verda<strong>de</strong>ira<br />

significação <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>scoberta só ficou clara<br />

alguns anos <strong>de</strong>pois, em virtu<strong>de</strong> do emprego<br />

<strong>de</strong> um conceito que fora utilizado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início<br />

pela chamada G. projetiva: o conceito <strong>de</strong><br />

transformação. A G. projetiva, cujas primeiras<br />

menções se encontram nos trabalhos <strong>de</strong> Gaspard<br />

Monge (1746-1818), introduzia uma nova<br />

operação — a projeção —, que permite transformar<br />

uma figura em outra, cujas proprieda<strong>de</strong>s<br />

po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>duzidas das proprieda<strong>de</strong>s da<br />

primeira. O caráter peculiar <strong>de</strong>ssas proprieda<strong>de</strong>s,<br />

como foi mostrado por Poncelet (Tratado

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!