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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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TOTO-PARCIAL, TODO-TOTAL 964 TRABALHO<br />

laçòes dos clans em que o grupo se divi<strong>de</strong> (Les<br />

formes élémentaires <strong>de</strong> Ia vie religieuse, 1912).<br />

Ao lado <strong>de</strong>sse caráter do T.. A. R. Radcliffe-<br />

Brown evi<strong>de</strong>nciou o seu caráter ainda mais<br />

universal, segundo o qual o T. constituiria "uma<br />

representação do universo como or<strong>de</strong>m moral<br />

e social"; portanto, a regulamentação da relação<br />

entre o homem e a natureza, além da regulamentação<br />

da relação entre os homens, seria<br />

um elemento universal da cultura humana<br />

(Structure and Function in Primitive Society,<br />

1952, cap. VI), Lévi-Strauss, porém, parece reduzir<br />

o T. a fenômeno lingüístico formal: "Aquilo<br />

que se chama <strong>de</strong> T. é apenas uma expressão<br />

particular, através <strong>de</strong> uma nomenclatura especial<br />

formada por nomes <strong>de</strong> animais e <strong>de</strong> plantas<br />

(ou, como diríamos, um código), que é seu<br />

único caráter distintivo, das correlações e oposições<br />

que po<strong>de</strong>m ser formalizadas <strong>de</strong> outros<br />

modos: p. ex., como acontece em certas tribos<br />

das Américas, por oposições do tipo céu-terra,<br />

guerra-paz, em cima-embaixo, vermelho-branco,<br />

etc." (Le totemisme aiijoiird'bni, 1962, p.<br />

172). Por outro lado, Freud apresentou uma interpretação<br />

psicanalítica do 'I'.: "Se o animal<br />

totem é o pai, então os dois principais preceitos<br />

do T., <strong>de</strong> não matar o totem e <strong>de</strong> não usufruir<br />

sexualmente <strong>de</strong> nenhuma mulher do totem,<br />

coinci<strong>de</strong>m substancialmente com os dois crimes<br />

<strong>de</strong> Kdipo (que matou o pai e casou-se com<br />

a mãe) e com os <strong>de</strong>sejos primitivos da criança,<br />

<strong>de</strong>sejos cuja remoção insuficiente ou cujo <strong>de</strong>spertar<br />

talvez constituam a raiz <strong>de</strong> todas as<br />

psiconeuroses" {Totem etabu, 1913, IV, 3; trad.<br />

it., p. 146). Para uma interpretação semelhante<br />

a esta <strong>de</strong> Freud, v. J. G. FRAZFR, Totemism and<br />

Exogamy, 1910.<br />

TOTÓ PARCIAL, TOTO-TOTAL (in Totopartial,<br />

Toto-total). Expressões usadas por W.<br />

Hamilton para indicar, respectivamente, a proposição<br />

na qual o sujeito é consi<strong>de</strong>rado universalmente<br />

e o predicado, particularmente (ex.,<br />

os homens são animais), e a proposição na<br />

qual tanto o sujeito quanto o predicado são<br />

consi<strong>de</strong>rados universalmente (ex. os animais<br />

são mortais) (Lectures on Logic, 11, p. 287).<br />

TRABALHO (gr. TTÓVOÇ; lat. Labor, in. Labor,<br />

fr. Travail; ai. Arbeit; it. Lavoro). Ativida<strong>de</strong><br />

cujo fim é utilizar as coisas naturais ou modificar<br />

o ambiente e satisfazer ás necessida<strong>de</strong>s humanas.<br />

Por isso, o conceito <strong>de</strong> T. implica: 1) <strong>de</strong>pendência<br />

do homem em relação à natureza,<br />

no que se refere à sua vida e aos seus interesses:<br />

isso constitui a necessida<strong>de</strong>, num <strong>de</strong> seus<br />

sentidos (v.); 2) reação ativa a essa <strong>de</strong>pendência,<br />

constituída por operações mais ou<br />

menos complexas, com vistas à elaboração<br />

ou à utilização dos elementos naturais; 3) grau<br />

mais ou menos elevado <strong>de</strong> esforço, sofrimento<br />

ou fadiga, que constitui o custo humano do<br />

trabalho.<br />

Era principalmente nesse aspecto que se baseava<br />

a con<strong>de</strong>nação da <strong>filosofia</strong> antiga e medieval<br />

ao T. manual (v. BANAUSIA). Com esse mesmo<br />

aspecto, na Bíblia o T. é consi<strong>de</strong>rado parte<br />

da maldição divina, <strong>de</strong>corrente do pecado original<br />

(Gênese, III, 19). Num texto famoso <strong>de</strong> S.<br />

Paulo, o preceito "Quem não quer trabalhar<br />

não coma" <strong>de</strong>riva da obrigação <strong>de</strong> não onerar<br />

os outros com o cansaço e o sofrimento do T.<br />

(LITessal, III, 8-10). Era nesse mesmo sentido<br />

que S. Agostinho (De operibus monachomm,<br />

17-18) e S. Tomás (S. Th., II, II, q. 187 a. 3) prescreviam<br />

o T. como preceito religioso. Na exigência<br />

<strong>de</strong> distribuir imparcialmente o sofrimento<br />

e a <strong>de</strong>gradação do T. manual inspiraram-se<br />

Utopia (1516), <strong>de</strong> Thomas More, e A cida<strong>de</strong> do<br />

Sol (1602), <strong>de</strong> Campanella, que prescrevem<br />

para todos os membros <strong>de</strong> sua cida<strong>de</strong> i<strong>de</strong>al a<br />

obrigação do trabalho.<br />

Com base nisso, fixava-se a contraposição<br />

entre trabalho manual e ativida<strong>de</strong> intelectual,<br />

entre artes mecânicas e artes liberais. Mesmo<br />

no Renascimento, a <strong>de</strong>fesa quase unânime feita<br />

por literatos e filósofos da vida ativa em<br />

oposição à contemplativas a con<strong>de</strong>nação unânime<br />

ao ócio (que per<strong>de</strong> o caráter <strong>de</strong> disponibilida<strong>de</strong><br />

para ativida<strong>de</strong>s superiores atribuído<br />

pela Antigüida<strong>de</strong> clássica) nem sempre levam<br />

à revalorização do T, manual. Um trecho <strong>de</strong><br />

Giordano Bruno afirma que a providência dispôs<br />

que o homem "se ocupe na ação das mãos<br />

e na contemplação do intelecto, <strong>de</strong> tal maneira<br />

que não contemple sem ação e não obre sem<br />

contemplação" (Spaccio <strong>de</strong>lia bestia trionfante,<br />

1584, em Op. itali., II, p. 152). Mas é sobretudo<br />

nos textos científicos e técnicos que se afirma,<br />

a partir do séc. XV, a dignida<strong>de</strong> do T. manual.<br />

Galileu reconhecia explicitamente o valor das<br />

observações feitas pelos artesãos mecânicos<br />

para a pesquisa científica (Discorsi in torno a<br />

due nuovescienze, em Op., VIII, p. 49). Bacon<br />

fundamentava seu experimentalismo nas "artes<br />

mecânicas", que agem sobre a natureza e se<br />

enriquecem com a luz da experiência (Nov.<br />

Org., I, 74), e consi<strong>de</strong>rava, pois, indispensáveis<br />

as operações materiais ou manuais para a obtenção<br />

<strong>de</strong> um saber que fosse ao mesmo tem-

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