22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

TRABALHO 965 TRABALHO<br />

po po<strong>de</strong>r sobre a natureza, com vistas à satisfação<br />

das necessida<strong>de</strong>s e dos interesses humanos<br />

(Ibid., I, 83). Se Descartes dava pouca importância<br />

à parte técnica ou instrumental da ciência<br />

(que para ele continua sendo um sistema rigidamente<br />

<strong>de</strong>dutivo) e ao T. manual, Leibniz, ao<br />

contrário, insistia na importância do T. dos<br />

artesãos, dos agricultores, dos marinheiros, dos<br />

comerciantes, dos músicos, não só em proveito<br />

da ciência, mas também da vida e da<br />

civilização (Phil. Schriften, VII, pp, 180 ss.).<br />

Essas idéias tornaram-se dominantes no Iluminismo.<br />

sobretudo graças a Bacon e a Locke;<br />

este último reconhecia na investigação experimental,<br />

voltada para a <strong>de</strong>terminação das proprieda<strong>de</strong>s<br />

dos corpos físicos, único instrumento<br />

cie que o inteíecto humano dispõe para<br />

ampliar esse tipo <strong>de</strong> conhecimento, visto que a<br />

substância dos corpos continua <strong>de</strong>sconhecida<br />

(Ensaio, IV, II, 25). Na esteira <strong>de</strong> Bacon, o verbete<br />

"Art", <strong>de</strong> Di<strong>de</strong>rot na F.ncyclopédie, criticava<br />

a distinção das artes em liberais e mecânicas,<br />

consi<strong>de</strong>rando-a preconceito, ten<strong>de</strong>nte a<br />

"encher as cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> raciocinadores orgulhosos<br />

e <strong>de</strong> contemplativos supérfluos, e os<br />

campos <strong>de</strong> tiranetes ociosos, preguiçosos e arrogantes".<br />

O Iluminismo, em geral, marca a<br />

reivindicação da dignida<strong>de</strong> do T. manual, a partir<br />

do qual Rousseau <strong>de</strong>sejava que Emílio adquirisse<br />

as primeiras idéias sobre solidarieda<strong>de</strong><br />

social e sobre as obrigações que ela impõe<br />

(Émile, [17621, IV). Kant, mesmo fazendo a distinção<br />

entre T. e arte, não consi<strong>de</strong>rava possível<br />

uma separação nítida porque até nas artes liberais<br />

"é necessário algo <strong>de</strong> obrigatório e —<br />

como se diz — um mecanismo sem o qual o<br />

espírito não adquiriria corpo e evaporaria"<br />

(Crít. do Juízo, § 43).<br />

Foi só no Romantismo que se começou a estabelecer<br />

a relação entre o T. e a natureza do<br />

homem. Fichte afirmava que até mesmo a ocupação<br />

mais reles e insignificante, se estiver ligada<br />

à conservação e à livre ativida<strong>de</strong> dos seres<br />

morais, é santificada tanto quanto a ação<br />

mais elevada (Sittenlehre, III. § 28). Foi Hegel<br />

quem formulou a primeira teoria filosófica do<br />

T., utilizando os resultados a que chegara Adam<br />

Smith na economia política (v.). Já em Lições<br />

<strong>de</strong> Ietia (1803-04), Hegel consi<strong>de</strong>rava o T. como<br />

"mediação entre o homem e seu mundo"; isso<br />

porque, diferentemente dos animais, o homem<br />

não consome <strong>de</strong> imediato o produto natural,<br />

mas elabora <strong>de</strong> maneiras diferentes e para os<br />

fins mais diversos a matéria fornecida pela na-<br />

tureza, conferindo-lhe assim valor e conformida<strong>de</strong><br />

com o fim a que se <strong>de</strong>stina (Fil. do dir.,<br />

§ 196). Só na satisfação <strong>de</strong> suas necessida<strong>de</strong>s<br />

através do T. é que o homem é realmente homem,<br />

porque assim se educa tanto teoricamente,<br />

por meio dos conhecimentos que o T. exige,<br />

quanto na prática, ao habituar-se ã ocupação,<br />

ao a<strong>de</strong>quar suas ativida<strong>de</strong>s à natureza da matéria<br />

e ao adquirir aptidões universalmente válidas.<br />

Por isso, ao contrário do bárbaro, que é<br />

preguiçoso, o homem civilizado é educado no<br />

costume e na necessida<strong>de</strong> da ocupação (Ibíd.,<br />

§ 197 e Zusatz). Através do T., "o egoísmo subjetivo<br />

converte-se na satisfação das necessida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> todos os outros'', <strong>de</strong> tal modo que, enquanto<br />

"alguém adquire, produz e usufrui, justamente<br />

por isso está produzindo e adquirindo<br />

para o usufruto <strong>de</strong> outros" (Ibid., § 199). Hegel<br />

também evi<strong>de</strong>nciou o crescimento in<strong>de</strong>finido<br />

das necessida<strong>de</strong>s, a importância da divisão do<br />

T. e a relevância assumida pela distinção <strong>de</strong><br />

classes, com base nessa divisão (Ibid., §§ 195,<br />

241, 245). Viu também que a divisão do T. leva<br />

à substituição do homem pela máquina. Isso<br />

porque, com essa divisão, aumenta realmente<br />

a facilida<strong>de</strong> do T. — portanto da produção<br />

-—, mas ao mesmo tempo ocorre a limitação a<br />

lima única habilida<strong>de</strong>, portanto a <strong>de</strong>pendência<br />

incondicional do indivíduo ao contexto social.<br />

A própria habilida<strong>de</strong> torna-se mecânica e ocasiona<br />

a substituição doT. humano pela máquina<br />

(Ene, § 526). Esses princípios hegelianos foram<br />

aceitos por Marx, que. no entanto, insiste no<br />

caráter natural ou material da relação criada<br />

pelo T. entre o homem e o mundo, contra o caráter<br />

espiritual atribuído por Hegel, que permitia<br />

consi<strong>de</strong>rá-lo um momento ou uma manifestação<br />

da consciência. Segundo Marx, os<br />

homens começaram a distinguir-se dos animais<br />

quando "começaram a produzir seus próprios<br />

meios <strong>de</strong> subsistência, progresso este condicionado<br />

pela organização física humana. Produzindo<br />

seus meios <strong>de</strong> subsistência, os homens<br />

produzem indiretamente sua própria vida material"<br />

(I<strong>de</strong>ologia alemã, I, A; trad. it., p. 17).<br />

Portanto, o T. não é apenas o meio com que os<br />

homens asseguram sua subsistência: é a própria<br />

extrinsecaçào e produção cie sua vida.<br />

C 1 um modo <strong>de</strong> vida <strong>de</strong>terminado. A produção<br />

e o T. não são, pois, uma con<strong>de</strong>nação para o<br />

homem: constituem o próprio homem, seu<br />

modo específico <strong>de</strong> ser e <strong>de</strong> fazer-se homem.<br />

Pelo T., a natureza torna-se "o corpo inorgânico<br />

do homem", e o homem po<strong>de</strong> ascen<strong>de</strong>r à cons-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!