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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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VALOR 992 VALOR<br />

observando que, com base nessa <strong>de</strong>finição, só<br />

teriam V. os objetos existentes, <strong>de</strong>finiu o V. como<br />

simples "<strong>de</strong>sejabilida<strong>de</strong>" (System <strong>de</strong>r Wertheorie,<br />

I, 1897, p. 53). Essa <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Ehrenfels é<br />

importante porque introduz pela primeira vez<br />

e <strong>de</strong> modo explicito a conotação da possibilida<strong>de</strong><br />

na noção <strong>de</strong> V. V. não é a coisa <strong>de</strong>sejada,<br />

mas o objeto <strong>de</strong>sejável: não é coisa no sentido<br />

<strong>de</strong> não ser necessariamente um objeto real:<br />

não é <strong>de</strong>sejado porque simplesmente po<strong>de</strong> sêlo.<br />

Não tem significado diferente a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong><br />

V. apresentada alguns anos mais tar<strong>de</strong> por R.<br />

B. Perry, para quem "todo objeto, qualquer<br />

que seja, adquire V. quando é investido por um<br />

interesse qualquer" (General Theory of Value,<br />

1926, 2 a ed., 1950, p. 116): <strong>de</strong> fato, o interesse,<br />

diferentemente do <strong>de</strong>sejo, é apenas uma possibilida<strong>de</strong>.<br />

Foi exatamente no âmbito <strong>de</strong>ssa concepção<br />

<strong>de</strong> V. que nasceu o relativismo dos valores; isso<br />

aconteceu no coração do historicismo, da consi<strong>de</strong>ração<br />

da relação entre os V. e a história. O<br />

primeiro a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r o relativismo dos V. foi<br />

Dilthey: "A própria história é a força que produz<br />

as <strong>de</strong>terminações <strong>de</strong> V., idéias e metas,<br />

com base nos quais se <strong>de</strong>termina o significado<br />

<strong>de</strong> homens e acontecimentos" (Gesammelte<br />

Schriften, VH, p. 290). Portanto, os V. e as normas<br />

nascem e morrem na história e não subsistem<br />

fora <strong>de</strong>la nem acima <strong>de</strong> seu curso (Ibid., p.<br />

290). O relativismo dos V. em relação à história<br />

foi afirmado ainda mais explicitamente por<br />

Simmel. Partindo do reconhecimento da relativida<strong>de</strong><br />

do V. econômico, Simmel chegou ao<br />

reconhecimento da relativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> todos os V.:<br />

o V. nunca é uma entida<strong>de</strong> objetiva, mas sua<br />

objetivida<strong>de</strong> <strong>de</strong>riva apenas da correlação entre<br />

sujeito e objeto. Portanto, não existem V. absolutos,<br />

e são V. só aqueles que, em <strong>de</strong>terminadas<br />

condições, os homens reconhecem como tais.<br />

A esfera dos V. distingue-se da esfera da realida<strong>de</strong>,<br />

não com base num status ontológico<br />

próprio, mas por uma qualificação categorial,<br />

que po<strong>de</strong> ser aplicada a qualquer objeto (Philosopbie<br />

<strong>de</strong>s Gel<strong>de</strong>s, 1900, I, § 1). O historicismo<br />

alemão, todavia, não foi unânime em reconhecer<br />

essa relativida<strong>de</strong>; consi<strong>de</strong>rou-a sempre como<br />

um perigo, mas às vezes quis evitá-la. Foi<br />

Troeltsch o primeiro a formular claramente a<br />

antítese entre relativida<strong>de</strong> histórica e absolutismo<br />

dos V., ao mesmo tempo em que procurava<br />

recuperar esse absolutismo no próprio âmbito<br />

do historicismo. A solução que ele <strong>de</strong>u à<br />

antítese é a coincidência entre os dois termos<br />

antinômicos: cada ponto da história está em<br />

relação direta com a esfera dos V. absolutos e<br />

contém em si tais V. sem relativizá-los à sua mutabilida<strong>de</strong><br />

(Der Hístorismus und seine Probleme,<br />

1922, Gesammelte Schriften, III, p. 211).<br />

Do mesmo modo, Meinecke afirmava que a relação<br />

com o Absoluto é constitutiva da história,<br />

mas que essa relação vai do infinito para o finito,<br />

e não o inverso: <strong>de</strong> sorte que, enquanto a história<br />

encontra fundamento nos V. que realiza, o<br />

modo <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>stes V. é irredutível à relativida<strong>de</strong><br />

histórica e conserva valida<strong>de</strong> incondicional<br />

(Die Entstehung <strong>de</strong>s Historismus, 1936, II,<br />

p. 645).<br />

Como se vê, no interior <strong>de</strong>sta segunda interpretação<br />

fundamental do V., reproduz-se uma<br />

situação análoga à que se verificou na primeira:<br />

a atribuição <strong>de</strong> duas características opostas<br />

ao V., absolutida<strong>de</strong> e relativida<strong>de</strong>: a primeira<br />

constituiria o modo <strong>de</strong> ser do valor em si, o<br />

segundo o seu modo <strong>de</strong> ser na história. O pressuposto<br />

<strong>de</strong>ssa oposição é o caráter <strong>de</strong> relativida<strong>de</strong><br />

atribuído à história e em geral a tudo o<br />

que encontra lugar na história, entendida segundo<br />

o esquema <strong>de</strong> Bergson como uma criação<br />

contínua, em que tudo se cria e se <strong>de</strong>strói<br />

a cada instante. Portanto, não há vestígio <strong>de</strong><br />

relativismo dos V. on<strong>de</strong> não há vestígio <strong>de</strong> relativismo<br />

histórico e on<strong>de</strong> há um conceito menos<br />

superficial e diletante <strong>de</strong> história. Mesmo<br />

insistindo na pluralida<strong>de</strong> dos V. e das esferas<br />

<strong>de</strong> V., Max Weber não via na história uma<br />

incessante criação <strong>de</strong> V., cada um <strong>de</strong>les relativo a<br />

um momento da história, nem uma relação fugaz<br />

com V. Absolutos, mas uma luta entre diferentes<br />

V. à escolha do homem (Gesammelte<br />

Politische Schriften, p. 63; v. PIKTRO ROSSI, LO<br />

storicismo te<strong>de</strong>sco contemporâneo, pp. 367 ss.).<br />

O mesmo reconhecimento da multiplicida<strong>de</strong><br />

dos V. e da importância da escolha que essa<br />

multiplicida<strong>de</strong> está sempre a exigir do homem<br />

encontra-se em Dewey, que, exatamente por<br />

isso, <strong>de</strong>finiu a <strong>filosofia</strong> como "crítica dos V.": "A<br />

confusão em que todas as teorias do V. incidiram,<br />

entre <strong>de</strong>terminada posição na relação causai<br />

ou sucessiva e o V. propriamente dito, é uma<br />

prova indireta <strong>de</strong> que toda valoraçâo inteligente<br />

é também crítica, isto é, juízo da coisa que<br />

tem V. imediato. Toda teoria do V. é necessariamente<br />

um ingresso no campo da crítica"<br />

(Experience and Nature, 1926. p. 397). Mas a<br />

crítica dos V. nesse sentido nada mais é que a<br />

disciplina inteligente das escolhas humanas.<br />

Tal disciplina implica em primeiro lugar a con-

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