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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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APARÊNCIA 69 APARÊNCIA<br />

to o ser (Tim., 29). O mesmo Platão, porém,<br />

afirmando que o objeto da opinião está para o<br />

objeto do conhecimento como a imagem está<br />

para o mo<strong>de</strong>lo (Rep., VI, 510 a), admitiu uma<br />

relação <strong>de</strong> semelhança ou <strong>de</strong> correspondência<br />

entre A. e realida<strong>de</strong>. Mas o passo <strong>de</strong>cisivo foi<br />

dado por Aristóteles, que reconheceu a neutralida<strong>de</strong><br />

da A. sensível; esta, tanto como sensação<br />

quanto como imagem, po<strong>de</strong> ser tão verda<strong>de</strong>ira<br />

quanto falsa. Certamente erram os que<br />

consi<strong>de</strong>ram verda<strong>de</strong> tudo o que aparece, pois<br />

<strong>de</strong>veriam admitir também a realida<strong>de</strong> dos sonhos;<br />

e, quanto ao futuro, não po<strong>de</strong>riam estabelecer<br />

nenhuma diferença entre a opinião do<br />

perito (p. ex., do médico que faz um prognóstico)<br />

e a opinião do ignorante (Met., IV, 5, 1.010<br />

b 1 ss.). A A. não contém, portanto, nenhuma<br />

garantia <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> e só o juízo intelectual a<br />

respeito <strong>de</strong>la po<strong>de</strong> certificá-la ou refutá-la. Mas,<br />

por outro lado, ela é o ponto <strong>de</strong> partida da<br />

própria pesquisa científica que, como <strong>de</strong>monstra<br />

o que os matemáticos fazem em relação às<br />

A. astronômicas, <strong>de</strong>ve partir das A. físicas e,<br />

portanto, da observação das coisas vivas e das<br />

suas partes para passar <strong>de</strong>pois à consi<strong>de</strong>ração<br />

das razões e das causas (Depart. an., I, 1, 639<br />

b 7). Em outros termos, a A. é o ponto <strong>de</strong> partida<br />

para a busca da verda<strong>de</strong>, que, porém, só é<br />

reconhecida em sua necessida<strong>de</strong> mediante o<br />

uso dos princípios do intelecto.<br />

No último período da <strong>filosofia</strong> grega, a noção<br />

<strong>de</strong> A. torna-se proeminente. De um lado,<br />

os céticos fazem da A. o critério da verda<strong>de</strong> e<br />

da conduta, julgando impossível passar além<br />

<strong>de</strong>la e julgar sobre ela (SEXTO EMPÍRICO, Pirr.<br />

hyp., I, 21-24; II, 18-21). Do outro lado, os<br />

neoplatônicos são levados a consi<strong>de</strong>rar todo o<br />

mundo sensível como A., isto é, manifestação<br />

do mundo inteligível, e este último como A. ou<br />

imagem <strong>de</strong> Deus: pensamento que será herdado<br />

por Scotus Erigena: "Tudo o que se enten<strong>de</strong><br />

e se sente nada mais é do que a aparição do<br />

aparente, a manifestação do oculto" (De divis.<br />

nat., III, 4). Desse ponto <strong>de</strong> vista, "o mundo é<br />

uma teofanía, toda obra da criação manifesta a<br />

essência <strong>de</strong> Deus, que, portanto, se torna aparente<br />

e visível nela e por ela" (ibid., I, 10; V, 23).<br />

Acompanhando essas duas vias encontra-se<br />

o que se po<strong>de</strong>ria chamar <strong>de</strong> revalorização da A.<br />

no mundo mo<strong>de</strong>rno. Seguindo a primeira, está<br />

o que se po<strong>de</strong>ria chamar <strong>de</strong> revalorização<br />

empirista. Já na Escolástica do séc. XIV, Pedro<br />

Aureolo, partindo da negação <strong>de</strong> qualquer realida<strong>de</strong><br />

universal e no intuito <strong>de</strong> eliminar a species<br />

como intermediária do conhecimento intelectual,<br />

afirmava que "as próprias coisas são vistas<br />

pela mente e o que se vê não é urna forma<br />

especular qualquer, mas a própria coisa no seu<br />

ser-que-aparece (esse apparens) e este ser aparente<br />

é o que chamamos do conceito ou representação<br />

objetiva" (In Sent, I, d. 9, a. 1). A<br />

distinção entre o sentido e o intelecto não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>,<br />

portanto, da natureza do objeto apreendido,<br />

mas do modo <strong>de</strong> apreen<strong>de</strong>r. Ao senticio<br />

e à imaginação as coisas aparecem sob as condições<br />

da quantida<strong>de</strong>, ao passo que o intelecto<br />

abstrai do que é quantitativo e material (ibid.,<br />

I, d. 35, a. 1). Mas é só no mundo mo<strong>de</strong>rno, a<br />

partir do séc. XVII, que a <strong>filosofia</strong> reconhece<br />

explicitamente o caráter real da A. Hobbes talvez<br />

seja o primeiro a reconhecer isso <strong>de</strong> maneira<br />

bem clara. "De todos os fenômenos que<br />

nos circundam", diz ele, "o mais maravilhoso é<br />

justamente o aparecer. É certo que entre os<br />

corpos naturais alguns possuem em si os exemplares<br />

<strong>de</strong> todas as coisas e outros, <strong>de</strong> nenhuma.<br />

Conseqüentemente, se os fenômenos são os<br />

princípios para conhecer as outras coisas, é<br />

preciso dizer que a sensação é o principio para<br />

conhecer os próprios princípios e que <strong>de</strong>la <strong>de</strong>riva<br />

toda a ciência. Para indagar as causas da sensação<br />

não se po<strong>de</strong>, portanto, partir <strong>de</strong> outro fenômeno<br />

que não seja a própria sensação" (De<br />

corp., 25, § 1). Assim, Hobbes i<strong>de</strong>ntifica A. real<br />

com sensação e assume-a como ponto <strong>de</strong> partida<br />

para a indagação das coisas não criadas<br />

pelo homem (assim como as <strong>de</strong>finições são o<br />

ponto <strong>de</strong> partida para a indagação das coisas<br />

criadas pelo homem, isto é, dos entes matemáticos<br />

e políticos). Com essas palavras, Hobbes<br />

formulava o fundamento do empirismo mo<strong>de</strong>rno.<br />

Ao mesmo tempo em que ressaltava o<br />

caráter relativo e subjetivo das A. sensíveis, assumiu-as<br />

como único fundamento do conhecimento<br />

humano. Locke observa que, se os nossos<br />

sentidos fossem modificados e se tornassem<br />

mais rápidos e agudos, a A. das coisas mudaria<br />

completamente; mas então ela se tornaria incompatível<br />

com o nosso ser ou pelo menos<br />

com as necessida<strong>de</strong>s da nossa vida (Ensaio, II,<br />

23, 12). "A. sensíveis" são as idéias <strong>de</strong> que fala<br />

Berkeley (Principies, 33) e as impressões <strong>de</strong><br />

que fala Hume (Treatise, II, 5). "Fenômenos ou<br />

aparições" são, segundo Leibniz, todos os dados<br />

<strong>de</strong> que dispõe o sujeito pensante; a distinção<br />

entre A. reais e A. ilusórias só é feita consi<strong>de</strong>rando-se,<br />

<strong>de</strong> um lado, a vivacida<strong>de</strong>, a<br />

multiplicida<strong>de</strong> e a coerência das próprias A., e,

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