22.06.2013 Views

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

TODO 2<br />

registradas em Hamilton: o T. por si, em que as<br />

partes estão interligadas necessariamente, como<br />

o corpo e a alma estão ligados no homem,<br />

e o T. per acci<strong>de</strong>ns, em que as partes estão<br />

ligadas contingentemente. O T.porsi po<strong>de</strong><br />

ser: lógico, como um universal; metafísico ou<br />

real; físico ou substancial; matemático, quantitativo<br />

ou integral; e coletivo ou <strong>de</strong> agregação<br />

(Lectiires on Logic, 2- ed., I, pp. 202 ss.).<br />

Na lógica mo<strong>de</strong>rna T. é um operador, mais<br />

precisamente o quantifícador universal simbolizado<br />

pela notação "(x)" (v. OPERADOR). Quanto<br />

ã diferença entre todo e qualquer, ver este último<br />

termo.<br />

TODO 2 . V. QrALQriíR.<br />

TODOS. V. QuALyuKR.<br />

TOKEN. V. OCORRÊNCIA.<br />

TOLERÂNCIA (in. Toleration;h. Tolérance;<br />

ai. Toleranz; ít. Tolleranza). Norma ou princípio<br />

<strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> religiosa. Algumas vezes se<br />

consi<strong>de</strong>rou pouco apta a <strong>de</strong>signar esse princípio<br />

uma palavra que significa "paciência", mas<br />

na realida<strong>de</strong> ela foi o emblema <strong>de</strong>ssa liberda<strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> as primeiras lutas empreendidas, por<br />

meio das quais se afirmou em formas ainda<br />

hoje frágeis ou incompletas. Por isso, não po<strong>de</strong>ria<br />

ser substituída por nenhum outro termo.<br />

Des<strong>de</strong> que essas lutas se iniciaram, a T. foi entendida<br />

como coexistência pacífica entre várias<br />

confissões religiosas, sendo hoje entendida, em<br />

sentido ainda mais geral, como coexistência<br />

pacífica <strong>de</strong> todas as possíveis atitu<strong>de</strong>s religiosas.<br />

O critério para verificar se essa exigência<br />

está sendo realizada nas situações históricas ou<br />

políticas é um só: a sua realização significa que<br />

o cidadão não sofre violência, inquirição jurídica<br />

ou policial, diminuição ou perda <strong>de</strong> direitos<br />

ou qualquer tipo <strong>de</strong> discriminação em virtu<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> suas convicções, positivas ou negativas, em<br />

matéria religiosa.<br />

O princípio <strong>de</strong> T., ou pelo menos um<br />

corolário imediato, que é a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> re<strong>de</strong>nção<br />

mesmo fora da fé cristã, encontra-se<br />

em alguns filósofos do séc. XIV, especialmente<br />

em Ockham. Este diz: "Não é impossível que<br />

Deus <strong>de</strong>signe como digno da vida eterna todo<br />

aquele que viva segundo os ditames da justa<br />

razão e que só creia naquilo que sua razão natural<br />

indicar como digno <strong>de</strong> crença. E se Deus<br />

assim dispõe, po<strong>de</strong>ria salvar-se mesmo aquele<br />

que na vida só teve como guia a justa razão"<br />

(In Sent., III, q. 8, C). Por outro lado, a T. religiosa<br />

já está implícita no conceito que Ockham<br />

tinha <strong>de</strong> Igreja infalível como comunida<strong>de</strong> dos<br />

961 TOLERÂNCIA<br />

fiéis que viveram <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os tempos dos profetas<br />

até hoje {Dialogas inter magistnim et discipulum,<br />

I, IV, em GOLDAST, Monarquia, II, p. 402),<br />

e do papado como <strong>de</strong> um principado ministrativus<br />

que não po<strong>de</strong> negar a ninguém os<br />

direitos e as liberda<strong>de</strong>s que Deus conce<strong>de</strong>u<br />

a todos os homens e que o cristianismo veio<br />

reivindicar (De imperatonim et pontíficum potestate,<br />

IV, ed. Scholz, p. 458). O famoso conto<br />

<strong>de</strong> Boccaccio dos três anéis (Decameron, 28)<br />

ilustra a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> salvação concedida<br />

igualmente a maometanos, ju<strong>de</strong>us e cristãos.<br />

Todavia, o princípio <strong>de</strong> T. começou a aparecer<br />

como elemento indispensável da vida civilizada<br />

do Oci<strong>de</strong>nte só <strong>de</strong>pois da Reforma, nas lutas<br />

que opuseram as várias facções da cristanda<strong>de</strong>.<br />

E provável cjue tenha sido explicitamente afirmado<br />

pela primeira vez pelo grupo <strong>de</strong> reformadores<br />

italianos que recusaram o dogma<br />

da Trinda<strong>de</strong>, ou seja, os socinianos, obrigados<br />

por Calvino a fugir para a Transilvânia e para a<br />

Polônia, on<strong>de</strong> propagaram a sua doutrina. Em<br />

1565, Giacomo Aconcio. em seu Stratagemata<br />

Satanae, via a intolerância religiosa como uma<br />

armadilha <strong>de</strong> Satanás e afirmava que é essencial<br />

á fé apenas o que encoraja a esperança e a<br />

carida<strong>de</strong>. Em 1580, por motivos <strong>de</strong> natureza<br />

política, Michel <strong>de</strong> Montaigne <strong>de</strong>fendia a liberda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> consciência em um ensaio (fás., II, 19).<br />

Por volta <strong>de</strong> 1593, Jean Bodin <strong>de</strong>fendia, em<br />

Coüoquium heptaplomeres, a necessida<strong>de</strong> da<br />

paz religiosa, a ser obtida com um retorno ã religião<br />

natural que eliminasse as controvérsias<br />

dogmáticas. Por sua vez, Huig van Groot consi<strong>de</strong>rava<br />

fundamentais as crenças da religião natural,<br />

e não coercitivas as crenças da religião<br />

positiva, freqüentemente ambíguas. Para ele,<br />

acreditar no cristianismo só é possível com a<br />

ajuda misteriosa <strong>de</strong> Deus-, por conseguinte,<br />

querer impô-lo pelas armas é contrário á razão<br />

(De jure belli acpacis, 1625, II. 20, 48-49). Em<br />

1644, Milton escrevia seu discurso pela liberda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> imprensa, intitulado Areopagitíca. Todas<br />

essas <strong>de</strong>fesas do princípio <strong>de</strong> T. aduzem em<br />

seu favor argumentos políticos e religiosos,<br />

mais que filosóficos ou conceituais; aliás, na<br />

maioria das vezes os argumentos são especificamente<br />

religiosos, tendo então valor apenas<br />

para quem compartilha as crenças religiosas a<br />

que fazem apelo.<br />

O primeiro a basear a <strong>de</strong>fesa da T. em argumentos<br />

objetivos foi Spinoza, que apresentou<br />

em seu favor o argumento por excelência, ou<br />

seja, a violência e a imposição não po<strong>de</strong>m pro-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!