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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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FINALISMO 458 FINALISMO<br />

senta sua própria doutrina como uma conseqüência<br />

do princípio <strong>de</strong> Anaxágoras <strong>de</strong> que a<br />

inteligência é a causa or<strong>de</strong>nadora do mundo.<br />

"Se a inteligência or<strong>de</strong>na todas as coisas e dispõe<br />

cada coisa do modo melhor", diz ele, "achar<br />

a causa graças à qual cada coisa é gerada,<br />

<strong>de</strong>struída ou existe significa <strong>de</strong>scobrir qual é a<br />

sua melhor maneira <strong>de</strong> existir, modificar-se ou<br />

agir" (Fed., 97C). Desse ponto <strong>de</strong> vista o "melhor"<br />

ou o "excelente" é a "verda<strong>de</strong>ira" causa<br />

das coisas, ao passo que são causas secundárias<br />

ou concausas as <strong>de</strong> natureza física habitualmente<br />

aduzidas (Tim., 46 d; Fil., 54 c). Mas<br />

a doutrina graças à qual prevaleceu a concepção<br />

finalista na metafísica antiga e recente é a<br />

aristotélica. As duas teses próprias do F. são<br />

partes integrantes da metafísica aristotélica. Por<br />

um lado, Aristóteles afirma que "tudo aquilo<br />

que é por natureza existe para um fim" (De<br />

an., III, 12, 434 a 3D e i<strong>de</strong>ntifica o fim com a<br />

mesma substância, "forma ou razão <strong>de</strong> ser da<br />

coisa" (Met., VIII, 4, 1044 a 31). Por outro lado,<br />

julga que o universo inteiro está subordinado a<br />

um único fim, que é Deus, do qual <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> a<br />

or<strong>de</strong>m e o movimento do universo (Ibid., XII,<br />

7, 1072 b). Com base nisso, Aristóteles <strong>de</strong>fen<strong>de</strong><br />

a causalida<strong>de</strong> do fim contra a tese que ele chama<br />

<strong>de</strong> "necessida<strong>de</strong>", consistente em admitir<br />

que as coisas não acontecem com vistas ao seu<br />

resultado melhor, mas que, às vezes, o resultado<br />

melhor é o efeito aci<strong>de</strong>ntal da necessida<strong>de</strong>.<br />

De fato, assim como se diz que, dadas certas<br />

causas, necessariamente choveu, e que a chuva<br />

provocou aci<strong>de</strong>ntalmente a perda da colheita,<br />

sem que esta fosse a finalida<strong>de</strong> da chuva, po<strong>de</strong>r-se-ia<br />

tentar explicar do mesmo modo a forma<br />

dos organismos animais (Fís., II, 8, 198 b<br />

17). Contra esse modo <strong>de</strong> raciocinar, Aristóteles<br />

observa que aquilo que acontece sempre ou<br />

geralmente não po<strong>de</strong> ser explicado com o acaso,<br />

mas supõe a necessida<strong>de</strong> da ação do fim<br />

(Ibid., II, 9, 200 a 5). Não encontramos, porém,<br />

em Aristóteles aquela forma popular da teleologia<br />

iniciada com os estóicos, que consiste em<br />

<strong>de</strong>monstrar que as coisas do mundo são feitas<br />

pela natureza em proveito do homem. O fundamento<br />

<strong>de</strong>sta teleologia foi expresso por<br />

Cícero: "Para quem então po<strong>de</strong>ríamos dizer que<br />

o mundo foi realizado? Evi<strong>de</strong>ntemente para os<br />

seres vivos dotados <strong>de</strong> razão, ou seja, para os<br />

<strong>de</strong>uses e para os homens; nada há <strong>de</strong> fato que<br />

seja mais excelente que eles, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> a<br />

razão ser superior a tudo: assim, é crível que o<br />

mundo e tudo o que no mundo existe foi feito<br />

para os <strong>de</strong>uses e para os homens" (De nat.<br />

<strong>de</strong>or., II, 133). Em vista <strong>de</strong> sua estreita conexão<br />

com a teologia, enten<strong>de</strong>-se por que o F. sempre<br />

serviu <strong>de</strong> fundamento para a metafísica<br />

teológica. Os escolásticos insistem sobre a superiorida<strong>de</strong><br />

causai do fim, que chamam <strong>de</strong> "causa<br />

das causas". S. Tomás, seguindo as pegadas<br />

<strong>de</strong> Aristóteles, resolve na causalida<strong>de</strong> do fim a<br />

necessida<strong>de</strong> própria dos movimentos naturais.<br />

"A necessida<strong>de</strong> natural que inere nas coisas e<br />

as dirige"; escreve ele, "chega às coisas imprimida<br />

por Deus, que as <strong>de</strong>stina a um fim, do<br />

mesmo modo como a necessida<strong>de</strong> com que a<br />

flecha se <strong>de</strong>sloca e graças à qual se dirige para<br />

o alvo foi-lhe imprimida por quem a lançou e<br />

não pertence à flecha" (S. Th., I, q. 103, a. 1).<br />

Este é o pensamento fundamental que domina<br />

e torna extraordinariamente uniformes todas<br />

as teorias finalistas, tão abundantes na história<br />

da F. até os nossos dias. Hegel consi<strong>de</strong>rou uma<br />

gran<strong>de</strong> inovação a sua doutrina do fim como<br />

do "próprio conceito em sua existência", e da<br />

finalida<strong>de</strong> como <strong>de</strong>terminação imanente à natureza;<br />

contrapôs essa doutrina a outra que consi<strong>de</strong>rava<br />

tradicional, para a qual um intelecto<br />

"terreno" impõe, <strong>de</strong> fora, seus fins à natureza<br />

(Wissenschqft <strong>de</strong>rLogík, III, seç. II, cap. III; trad.<br />

it., pp. 216 ss.). Mas na realida<strong>de</strong>, como os textos<br />

até agora citados provam na história da F.,<br />

não existe doutrina <strong>de</strong> finalida<strong>de</strong> extrínseca e<br />

imposta por um intelecto extraterreno, visto que,<br />

por finalida<strong>de</strong> do mundo, tanto Aristóteles quanto<br />

os estóicos e S. Tomás enten<strong>de</strong>m a razão <strong>de</strong> ser<br />

do mundo, sua necessida<strong>de</strong> imanente: S. Tomás<br />

i<strong>de</strong>ntifica explicitamente a impressio <strong>de</strong><br />

Deus sobre a natureza com a "necessida<strong>de</strong><br />

inerente às coisas". Como tal, a necessida<strong>de</strong> é<br />

sempre imanente à totalida<strong>de</strong> cuja organização<br />

constitui. E como já observava Aristóteles, sob<br />

este aspecto o F. não muda, quer se trate <strong>de</strong><br />

totalida<strong>de</strong>s naturais, quer se trate <strong>de</strong> totalida<strong>de</strong>s<br />

artificiais; na construção <strong>de</strong> uma casa o fim<br />

penetra o material utilizado e não inere a ele<br />

<strong>de</strong> maneira diferente daquele com que inere às<br />

partes <strong>de</strong> um organismo (Fís., II, 9, 200 a 34).<br />

Em todos os casos, para usar a expressão <strong>de</strong><br />

Hegel, o F. é o próprio conceito na sua existência:<br />

a realização <strong>de</strong> um conceito que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

início dirige e governa essa mesma realização.<br />

Portanto, a polêmica <strong>de</strong> Hegel contra "o intelecto<br />

extraterreno" é teológica — contraposição<br />

<strong>de</strong> uma tese panteísta a uma tese teísta —, mas<br />

não concerne ao finalismo. Significação diferente<br />

tem a distinção entre finalida<strong>de</strong> interna e

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