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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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CONSCIÊNCIA 2<br />

Elaborada pela <strong>filosofia</strong> alexandrina, essa noção<br />

serviu <strong>de</strong> início para expressar o orgulhoso<br />

isolamento do sábio, que, como diz Plotino,<br />

extrai tudo <strong>de</strong> si mesmo e, assim, não tem necessida<strong>de</strong><br />

das coisas nem dos outros homens<br />

para conhecer e viver. Para o sábio da era<br />

alexandrina, as relações com o mundo são<br />

aci<strong>de</strong>ntais e secundárias: ele encontra a verda<strong>de</strong> e<br />

a realida<strong>de</strong> em si mesmo. O Cristianismo valeuse<br />

do mesmo conceito para ressaltar a in<strong>de</strong>pendência<br />

do juízo moral em relação a toda circunstância<br />

externa e sua <strong>de</strong>pendência só <strong>de</strong><br />

um princípio ou realida<strong>de</strong> que nada recebe das<br />

coisas e dos homens, porque é Deus. A <strong>filosofia</strong><br />

mo<strong>de</strong>rna lançou mão do mesmo princípio a<br />

partir <strong>de</strong> Descartes, usando-o como instrumento<br />

<strong>de</strong> dúvida e <strong>de</strong> libertação. Dele extraiu também<br />

"testemunhos" <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>s primeiras,<br />

absolutas ou in<strong>de</strong>riváveis, bem como <strong>de</strong> "dados<br />

últimos" ou originários, usando-os para<br />

erigir pesados edifícios dogmáticos, cujo apoio<br />

era a fragílima base <strong>de</strong> uma noção histórica,<br />

mas assumida como estrutura real ou originária.<br />

Esse, porém, foi só o lado mais visível do<br />

uso da noção <strong>de</strong> C. Não se <strong>de</strong>ve esquecer que,<br />

a partir <strong>de</strong> Descartes, essa noção serviu para<br />

introduzir dúvidas, levantar problemas, suscitar<br />

oposições ou rebeliões a crenças ou a sistemas<br />

<strong>de</strong> crenças estabelecidos institucionalmente.<br />

O recurso à C. serviu com muita freqüência<br />

para apresentar i<strong>de</strong>ais ou regras morais ainda<br />

não aceitos pela moral corrente e <strong>de</strong>stinados a<br />

superá-la, para sustentar a insurreição e a luta<br />

contra a autorida<strong>de</strong> constituída, para mostrar o<br />

caráter incerto e problemático <strong>de</strong> muitas crenças<br />

e construções metafísicas. Em Descartes,<br />

serviu para pôr em discussão algumas certezas<br />

tradicionais, como p. ex. a da existência <strong>de</strong> um<br />

"mundo externo", e para iniciar pesquisas científicas<br />

e filosóficas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância. O<br />

próprio ceticismo <strong>de</strong> Hume é um dos resultados<br />

a que conduziu a noção <strong>de</strong> C, já que nasceu<br />

do pressuposto <strong>de</strong> que o homem não dispõe<br />

<strong>de</strong> nada além <strong>de</strong> impressões e idéias, ou<br />

seja, <strong>de</strong> objetos imediatos <strong>de</strong> C, e que, por<br />

mais que arremeta com o pensamento, "nunca<br />

dará um passo além <strong>de</strong> si mesmo" (Treatise, I,<br />

2, 6). Isso posto, o <strong>de</strong>clínio da noção <strong>de</strong> C. na<br />

<strong>filosofia</strong> contemporânea <strong>de</strong>ve-se às seguintes<br />

condições: I a formação, em vários campos <strong>de</strong><br />

pesquisa, <strong>de</strong> técnica <strong>de</strong> verificação e controle,<br />

às quais, mais do que ao testemunho íntimo,<br />

são confiadas as instâncias negativas e limitativas<br />

da crítica; 2 a conseqüente <strong>de</strong>sconfiança <strong>de</strong><br />

195<br />

CONSCIÊNCIA INFELIZ<br />

certezas que se preten<strong>de</strong>m infalíveis e diretas,<br />

mas que são pessoais e incomunicáveis e muitas<br />

vezes apresentam oposições mútuas; 3 a<br />

abandono <strong>de</strong>finitivo do i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> isolamento do<br />

homem em relação ao mundo, e da crença na<br />

estrutura solitária da realida<strong>de</strong> humana; portanto,<br />

renúncia a compreen<strong>de</strong>r o homem em seus<br />

modos <strong>de</strong> ser e em seus comportamentos efetivos<br />

abstraindo suas relações com as coisas<br />

naturais e com os outros homens e consi<strong>de</strong>rando-o<br />

fechado em si mesmo pelo círculo intransponível<br />

da consciência.<br />

CONSCIÊNCIA EM GERAL (ai. Bewusstsein<br />

üeberhaupi). Termo empregado pela primeira<br />

vez por Kant para indicar o complexo<br />

das "funções lógicas" comuns a todas as consciências<br />

empíricas, não obstante as diferenças<br />

individuais <strong>de</strong> tais consciências (Crít. R. Pura,<br />

§ 20). A C. em geral, portanto, é idêntica àquilo<br />

que Kant chama <strong>de</strong> apercepçâo pura, ou simplesmente<br />

C, em Antropologia (I, § 7, Anotação),<br />

também "C. discursiva ou reflexa". Esse<br />

termo reaparece com mais freqüência em<br />

Prolegômenos. "Como fundamento do juízo <strong>de</strong><br />

experiência está a intuição da qual tenho C,<br />

isto é, a percepção (perceptió), que é toda<br />

oriunda do sentido. Mas em segundo lugar<br />

concorre também o juízo (que é só do intelecto).<br />

Ora, esse juízo po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong> duas espécies,<br />

conforme eu confronte simplesmente as percepções<br />

e as ligue em uma C, na C. <strong>de</strong> meu<br />

estado, ou as una numa C. em geral" {Prol,<br />

§ 20). Na <strong>filosofia</strong> contemporânea esse termo é<br />

usado para indicar a C. em seu significado mais<br />

geral, distinto do significado restrito e específico<br />

<strong>de</strong> C. como C. clara e distinta, ou C. reflexa.<br />

Assim, para Husserl, a C. em geral é a vivência<br />

(Erlebnis) (Jáeen, I, § 42). Para Jaspers, é a subjetivida<strong>de</strong><br />

como condição <strong>de</strong> todos os objetos<br />

possíveis. "Como C. em geral, sou a subjetivida<strong>de</strong>,<br />

pela qual os objetos subsistem como realida<strong>de</strong><br />

dos objetos e como universalmente válidos"<br />

(PM., I, p. 13).<br />

CONSCIÊNCIA INFELIZ (ai. Unglückliches<br />

Bewusstsein). Uma das mais famosas figuras<br />

da Fenomenologia do espírito <strong>de</strong> Hegel. Representa<br />

a sua interpretação da <strong>filosofia</strong> medieval.<br />

Nela, Hegel vê o <strong>de</strong>sembocar do Ceticismo e<br />

do Estoicismo, enredados na contradição <strong>de</strong><br />

afirmar e negar, que querem manter como dois<br />

termos exteriores, conseguindo apenas criar<br />

uma "briga <strong>de</strong> crianças teimosas, em que um<br />

diz a quando o outro diz b, para dizer b quando<br />

o outro diz a". A contradição própria do ceticis-

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