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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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ÉTICA 384 ÉTICA<br />

outra coisa, ao passo que evitam a dor, que é<br />

o seu oposto (DIÓG. L, II, 88). O princípio da<br />

É. <strong>de</strong> Epicuro tem o mesmo significado <strong>de</strong> reconhecimento<br />

daquilo que, <strong>de</strong> fato, é o móvel da<br />

conduta humana: "Prazer e dor são as duas<br />

afeições que se encontram em todo animal,<br />

uma favorável e outra contrária, através das<br />

quais se julga o que se <strong>de</strong>ve escolher e o que<br />

se <strong>de</strong>ve evitar" (DIÓG. L, X, 34).<br />

Essa concepção <strong>de</strong> É. esteve ausente durante<br />

toda a Ida<strong>de</strong> Média e só é retomada no<br />

Renascimento. Lorenzo Valia foi o primeiro a<br />

reapresentá-la em De voluptate, afirmando que<br />

o prazer é o único fim da ativida<strong>de</strong> humana e<br />

que a virtu<strong>de</strong> consiste em escolher o prazer<br />

(De vol, II, 40). Telésio reapresenta a outra<br />

alternativa tradicional da mesma concepção<br />

(De rer. nat, IX, 2), extraindo as normas da<br />

É. do <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> conservação que existe em<br />

cada ser. Com rigor e sistemaüzação, Hobbes<br />

via nesse mesmo princípio o fundamento da<br />

moral e do direito: "O principal dos bens é a<br />

autoconservação. Com efeito, a natureza proveu<br />

a que todos <strong>de</strong>sejem o próprio bem, mas<br />

para que possam ser capazes disso é necessário<br />

que <strong>de</strong>sejem a vida, a saú<strong>de</strong> e a maior segurança<br />

possível <strong>de</strong>ssas coisas para o futuro. De<br />

todos os males, porém, o primeiro é a morte,<br />

especialmente se acompanhada <strong>de</strong> sofrimento;<br />

mas, como os males da vida po<strong>de</strong>m<br />

ser tantos, se não for previsto seu fim próximo,<br />

levarão a incluir a morte entre os bens" {De<br />

bom., XI, 6). Nessa tendência à autoconservação<br />

e, em geral, à consecução <strong>de</strong> tudo o que é<br />

útil, Spinoza viu a ação necessitante da Substância<br />

divina: "A razão nada exige contra a natureza,<br />

mas exige por si mesma, acima <strong>de</strong> tudo,<br />

que cada um ame a si mesmo, que procure<br />

aquilo que seja realmente útil para si, que <strong>de</strong>seje<br />

tudo o que conduz o homem à perfeição<br />

maior e, <strong>de</strong> modo absoluto, que cada um se<br />

esforce, no que estiver a seu alcance, para conservar<br />

o próprio ser. O que é necessariamente<br />

tão verda<strong>de</strong>iro quanto é verda<strong>de</strong>iro que o todo<br />

é maior que a parte" (Et., IV, 18, scol.). Locke<br />

e Leibniz concordavam quanto ao fundamento<br />

da ética. Locke dizia: "Uma vez que Deus estabeleceu<br />

um laço entre a virtu<strong>de</strong> e a felicida<strong>de</strong><br />

pública, tomando a prática da virtu<strong>de</strong> necessária<br />

à conservação da socieda<strong>de</strong> humana e visivelmente<br />

vantajosa para todos os que precisam<br />

tratar com as pessoas <strong>de</strong> bem, não é <strong>de</strong> surpreen<strong>de</strong>r<br />

que todos não só queiram aprovar<br />

essas normas, mas também recomendá-las aos<br />

outros, já que estão convencidos <strong>de</strong> que, se as<br />

observarem, auferirão vantagens para si mesmos"<br />

(Ensaio, I, 2, 6). E Leibniz, por sua vez,<br />

reconhecia como fundamento da moral o princípio<br />

<strong>de</strong> "adotar a alegria e evitar a tristeza",<br />

consi<strong>de</strong>rando-o, porém, mais relacionado com<br />

o instinto do que com a razão (Nouv. ess., I, 2,<br />

1). Como se vê, a É. dos sécs. XVII e XVIII tem<br />

alto grau <strong>de</strong> uniformida<strong>de</strong>: não só ela é uma<br />

doutrina do móvel como também a oscilação<br />

que apresenta entre "tendência à conservação"<br />

e "tendência ao prazer" como base da moral<br />

não implica uma diferença radical, já que o<br />

próprio prazer não passa <strong>de</strong> indicador emocional<br />

das situações favoráveis à conservação (v.<br />

EMOÇÃO). Semelhante É. opõe-se radicalmente<br />

à É. do fim, ou seja, à É. em sua formulação<br />

tradicional que se encontra em Platão, em Aristóteles<br />

e na Escolástica. A característica fundamental<br />

da <strong>filosofia</strong> moral inglesa do séc. XVTII,<br />

que tem importância particular na história da<br />

E., consiste em evi<strong>de</strong>nciar e assumir como<br />

tema principal <strong>de</strong> discussão precisamente a<br />

oposição entre a É. do móvel e a É. do fim, que<br />

pareceu idêntica à oposição existente entre razão<br />

e sentimento. Hume diz: "Há uma controvérsia<br />

surgida recentemente, que é muito mais<br />

digna <strong>de</strong> exame e que gira em torno dos fundamentos<br />

gerais da moral: se eles <strong>de</strong>rivam da<br />

razão ou do sentimento, se chegamos ao conhecimento<br />

<strong>de</strong>les por meio <strong>de</strong> uma seqüência <strong>de</strong><br />

argumentos e <strong>de</strong> induções ou por meio <strong>de</strong> um<br />

sentimento imediato e <strong>de</strong> um sutil sentido interno"<br />

(Inq. Cone. Morais, I). Hume afirma que<br />

o primeiro a aperceber-se <strong>de</strong>ssa distinção foi<br />

Lord Shaftesbury; na verda<strong>de</strong>, Shaftesbury falou<br />

<strong>de</strong> um sentido moral, que é uma espécie<br />

<strong>de</strong> instinto natural ou divino, especificação no<br />

homem do princípio <strong>de</strong> harmonia que regula<br />

o universo (Características <strong>de</strong> homens, maneiras,<br />

opiniões e tempos, 1711). Já Hutchinson<br />

interpretava o sentido moral como tendência a<br />

realizar "a maior felicida<strong>de</strong> possível do maior<br />

número possível <strong>de</strong> homens" (Indagação sobre<br />

as idéias <strong>de</strong> beleza e <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>, 1725, III, 8),<br />

fórmula que será adotada por Beccaria e por<br />

Bentham. Foi Hume quem encontrou a palavra<br />

que exprimia essa nova tendência: o fundamento<br />

da moral é a utilida<strong>de</strong>. Em outros termos,<br />

é boa a ação que proporciona "felicida<strong>de</strong><br />

e satisfação" à socieda<strong>de</strong>, e a utilida<strong>de</strong> agrada<br />

porque correspon<strong>de</strong> a uma necessida<strong>de</strong> ou<br />

tendência natural: a que inclina o homem a<br />

promover a felicida<strong>de</strong> dos seus semelhantes

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