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Dicionario de filosofia.pdf - Charlezine

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EXISTÊNCIA 400 EXISTÊNCIA<br />

<strong>filosofia</strong> positiva e expôs nas obras intituladas<br />

Filosofia da mitologia e Filosofia da revelação.<br />

Para Schelling, a razão só consegue <strong>de</strong>terminar<br />

as condições negativas da E., as condições que<br />

<strong>de</strong>terminam o modo em que a E. <strong>de</strong>ve ser pensada,<br />

dado que o seja. Mas a condição positiva,<br />

graças à qual o ser existe, extrapola a <strong>filosofia</strong><br />

negativa ou racional porque é criação, vonta<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Deus <strong>de</strong> revelar-se; só essa diz respeito ao<br />

quodsit, à E. ( Werke, II, III, pp. 57 ss.). A polêmica<br />

<strong>de</strong> Schelling dirigia-se contra Hegel, assim<br />

como a <strong>de</strong> Jacobi visava a Spinoza. Mas mesmo<br />

nessas polêmicas a E., conquanto não fosse<br />

consi<strong>de</strong>rada solúvel pela razão ou pelo conceito,<br />

não é i<strong>de</strong>ntificada com o modo <strong>de</strong> ser específico<br />

do homem e própria <strong>de</strong>le apenas. Esse<br />

passo foi dado por Kierkegaard, que também<br />

preparou o instrumento fundamental para a<br />

análise da E.: o conceito <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>. Kierkegaard<br />

remete-se explicitamente à polêmica,<br />

a que já aludimos, contra a redução <strong>de</strong> E. a<br />

conceito: "A E. correspon<strong>de</strong> à realida<strong>de</strong> individual,<br />

ao indivíduo (o que Aristóteles já ensinou);<br />

está fora do conceito, que, <strong>de</strong> qualquer<br />

forma, não coinci<strong>de</strong> com ela. Para um animal,<br />

uma planta, um homem, a E. (ser ou não ser)<br />

é algo <strong>de</strong> muito <strong>de</strong>cisivo; o indivíduo por certo<br />

não tem uma E. conceituai" {Diário, X 2 , A<br />

328). Mas a E. como individualida<strong>de</strong> é apenas a<br />

E. humana. No mundo animal, é mais importante<br />

a espécie do que o indivíduo; no mundo<br />

humano o indivíduo não po<strong>de</strong> ser sacrificado<br />

à espécie. Nesse sentido, a singularida<strong>de</strong> da E.<br />

torna-a o modo <strong>de</strong> ser fundamental do homem.<br />

Tal modo <strong>de</strong> ser foi analisado por Kierkegaard<br />

no seu tríplice aspecto <strong>de</strong> relacionar-se com o<br />

mundo, consigo mesmo e com Deus. Mas nesses<br />

três aspectos o relacionar-se nada tem <strong>de</strong><br />

necessário: é instável e precário. Em todo caso,<br />

não é constituído por laços fortes e imutáveis,<br />

mas por simples possibilida<strong>de</strong>s que até po<strong>de</strong>m<br />

ser perdidas. Aos olhos <strong>de</strong> Kierkegaard, portanto,<br />

a E. como modo <strong>de</strong> ser constituído pelas<br />

relações do homem consigo mesmo, com o<br />

mundo e com Deus é analisável em um conjunto<br />

<strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s cujo caráter é justamente<br />

não possuir, por si mesmo, nenhuma<br />

garantia <strong>de</strong> realização. Certamente Deus po<strong>de</strong><br />

conferir segurança e infalibilida<strong>de</strong> a tais possibilida<strong>de</strong>s<br />

(porque para Ele "tudo é possível"),<br />

mas até mesmo o relacionar-se do homem com<br />

Deus é apenas possível, e não necessário. Dessa<br />

interpretação da E. em termos <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong><br />

nascem as características fundamentais da<br />

E., que são a angústia, como relacionamento<br />

do homem com o mundo, <strong>de</strong>sesperação, como<br />

relacionamento do homem consigo mesmo, e<br />

paradoxo, como relacionamento do homem<br />

com Deus (v. EXISTENCIALISMO).<br />

Com isso, são estabelecidas as características<br />

da noção <strong>de</strong> E., no significado em que geralmente<br />

é empregada pela corrente existencialista<br />

da <strong>filosofia</strong> contemporânea. A E. é: 1 Q ) o<br />

modo <strong>de</strong> ser próprio do homem; 2 e ) o relacionamento<br />

do homem consigo mesmo e com o<br />

outro (mundo e Deus); 3 S ) relacionamento que<br />

se resolve em termos <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>. Essas<br />

características constituem a inspiração fundamental<br />

e comum das teorias da E. na <strong>filosofia</strong><br />

contemporânea. Em virtu<strong>de</strong> da segunda <strong>de</strong>las,<br />

diz-se que a E. é um modo <strong>de</strong> ser em situação,<br />

enten<strong>de</strong>ndo-se por situação o conjunto <strong>de</strong> relações<br />

analisáveis que vinculam o homem às coisas<br />

do mundo e aos outros homens. Na <strong>filosofia</strong><br />

contemporânea, foi Hei<strong>de</strong>gger o primeiro a formular<br />

uma análise da E. com bases nessas características.<br />

Em primeiro lugar, ele restringiu<br />

rigorosamente o significado <strong>de</strong> E. ao modo <strong>de</strong><br />

ser do homem, empregando, para indicar o ser<br />

dos outros entes finitos, o termo "presença"<br />

(Vorban<strong>de</strong>nheif): "A natureza do Ser-aí consiste<br />

na sua E. As características que po<strong>de</strong>m<br />

ser extraídas <strong>de</strong>sse ente nada têm a ver portanto<br />

com as 'proprieda<strong>de</strong>s' <strong>de</strong> um ente presente<br />

'que tem este ou aquele aspecto', mas<br />

são sempre e somente possíveis modos <strong>de</strong> ser.<br />

Toda modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>sse ente é primordialmente<br />

ser. Por isso, o termo Ser-aí [Dasein],<br />

pelo qual indicamos tal ente, exprime o ser, e<br />

não a qüidida<strong>de</strong>, como ocorre quando se diz<br />

pão, casa, árvore" (Sein und Zeit, § 9). Hei<strong>de</strong>gger<br />

afirmava com igual clareza a resolubilida<strong>de</strong> da<br />

E., assim entendida em suas possibilida<strong>de</strong>s. "O<br />

Ser-aí", diz ele, "é sempre a sua possibilida<strong>de</strong>,<br />

e ele não a tem' do mesmo modo como um<br />

ente presente [isto é, uma coisa] possui uma<br />

proprieda<strong>de</strong>. Por ser essencialmente possibilida<strong>de</strong>,<br />

o Ser-aí po<strong>de</strong>, em sendo, 'escolher-se' e<br />

conquistar-se, ou então per<strong>de</strong>r-se, ou seja, não<br />

se conquistar, ou só se conquistar aparentemente.<br />

Ele só po<strong>de</strong> per<strong>de</strong>r-se ou não se ter<br />

ainda conquistado porque, em seu modo <strong>de</strong><br />

ser, comporta uma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> autenticida<strong>de</strong>,<br />

ou seja, <strong>de</strong> apropriar-se <strong>de</strong> si mesmo"<br />

(Ibid., § 9). Da natureza possível da E. <strong>de</strong>riva,<br />

portanto, para a E. a alternativa entre o modo<br />

<strong>de</strong> ser inautêntico, que é o da E. cotidiana e<br />

impessoal, dominada pela tagarelice, pela

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